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Mercados Futuros: uma opção contra a volatilidade de preços dos insumos

POR CARLOS EDUARDO PULLIS VENTURINI

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 26/10/2012

11 MIN DE LEITURA

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Dentre os diversos setores da economia, o agronegócio certamente é um dos que apresenta maior risco ao empreendedor. Isto se deve à imensa gama de variáveis às quais o produtor rural está sujeito: variações climáticas, câmbio, perecibilidade dos produtos, custos de produção, pragas e doenças, sazonalidade de preços e diversos outros fatores que influenciam diretamente no retorno esperado da atividade produtiva.

Um exemplo dos riscos associados à atividade agropecuária é a recente seca ocorrida nos EUA (maior seca desde 1956), que reduziu drasticamente as produções de soja e milho no país, que é um dos principais produtores destas culturas, causando sérios desequilíbrios em diversas cadeias produtivas ao redor do mundo. Com a elevação dos preços dos grãos, devido à redução da oferta mundial, produtores de leite, gado, suínos, aves e vários outros que dependem da soja/milho como insumos para seus processos produtivos, acabaram vendo suas margens de lucro extremamente afetadas, incorrendo até em prejuízos em certas atividades. A questão é: como proteger-se da volatilidade e imprevisibilidade dos diversos fatores que afetam a produção, garantindo assim uma maior segurança para o empreendimento?

Uma alternativa eficiente para a gestão do risco é a negociação via Mercados Futuros. Nesta modalidade de negociação, disponibilizada no Brasil pela BM&F BOVESPA, compra-se ou vende-se um contrato de um determinado item (uma commodity como a soja, ou um ativo financeiro, como o dólar) para ser liquidado em período futuro. Os contratos são padronizados (questões de quantidade, qualidade do produto e etc. são especificadas) para que haja liquidez e confiança no mercado, pois desta forma os negociantes já sabem o que estão comprando, deixando-os livres para comprar e vender contratos sem precisar negociar detalhes técnicos do produto. Por exemplo, compra-se hoje um contrato de 100 sacas de soja para liquidação em maio de 2013, ou seja, garante-se o preço pago hoje pelo insumo a ser utilizado no próximo ciclo produtivo, facilitando o planejamento e a gestão dos recursos. A liquidação pode ser de forma física - com a entrega do produto, ou financeira - quando não há entrega física do produto, apenas recebimento/pagamento dos respectivos valores negociados. Caso o negociante queira sair do mercado antes do vencimento do contrato, ele pode "zerar" sua posição, efetuando um movimento inverso ao original: se estava comprado em 100 contratos, o agente do mercado "zera" sua posição se vender 100 contratos. A liquidação das operações em bolsa são garantidas pela câmara de compensação, ou clearing house, que é um sistema pelo qual as bolsas registram e controlam as operações realizadas, o que traz mais segurança aos envolvidos na operação quanto à efetivação dos compromissos assumidos.

Tipos de agentes de mercado

Nos mercados futuros, existem três tipos de players: hedgers, arbitradores e especuladores. Abaixo segue ilustração exemplificando a atuação destes três agentes no mercado.


Hedgers - são aqueles que operam nos mercados futuros com o intuito de realizar uma proteção dos preços, tendo assim uma maior previsibilidade em seus respectivos empreendimentos. O hedger pode atuar vendido (ou short, na linguagem do mercado), que é quando o produtor vende no mercado futuro a sua produção a um preço pré-determinado, sabendo qual será a receita obtida com a venda de sua produção. Desta forma, caso na data de liquidação do contrato o preço da saca de milho de 60kg estiver a R$30/saca e o produtor tivesse fechado meses antes a venda no mercado futuro por R$32/saca, haveria o ganho de R$2/saca. Considerando que o contrato de milho da BM&F BOVESPA é referente a 450 sacas de 60kg, o ganho financeiro deste produtor que negociou no mercado futuro em relação ao preço no mercado físico seria de R$2,00 (lucro/mercado físico/saca) x 450 = R$900,00.

No entanto, há também os hedgers que assumem posição comprada (ou long), estes atuam prevenindo-se das oscilações dos preços de insumos no mercado, podendo calcular desta forma os seus custos de produção antecipadamente, garantindo maior previsibilidade dos retornos esperados da produção. Somente para exemplificar, o produtor de leite que tivesse se antecipado às recentes altas nos preços dos grãos, por exemplo, e tivesse comprado um contrato de milho em 15/6, teria pago R$22,96/saca de milho. Com a seca ocorrida nos Estados Unidos, anteriormente mencionada, os preços dos grãos dispararam e no vencimento do contrato de milho de setembro de 2012, no dia 17/9, a saca estava cotada a R$32,35, uma alta de 40,9% em apenas dois meses. Em termos de valor, a quantia que seria economizada na operação seria: (R$32,35-R$22,96) x 450 = R$9,39 (economia por saca de milho) x 450 = R$4.225,50 de economia em 450 sacas de milho.

Tal situação demonstra a importância de antecipar-se aos movimentos do mercado para não ser surpreendido por grandes oscilações nos preços dos insumos/produtos. Obviamente que há dois lados na mesma moeda. Para os produtores de soja e milho, a melhor opção seria ficar de fora do mercado futuro, neste período, visto que os preços subiram de forma expressiva. Já para os produtores de leite, suínos, aves e outros que utilizam o milho como insumo, a garantia do preço antecipado teria gerado uma economia substancial em seus custos de produção. Portanto, é necessário que aquele que pretende operar no mercado futuro como forma de garantir o preço de seu produto/insumo tenha ciência das condições e expectativas do mercado como um todo, para não ser surpreendido com movimentos de preços inesperados que acabem tornando a operação no mercado futuro desvantajosa.

Arbitradores - são os players que compram determinado ativo em um mercado e o vendem em outro, procurando distorções nos preços entre mercados para lucrar em cima das oportunidades. Por exemplo, embora os preços de soja no Brasil e nos EUA estejam fortemente correlacionados (visto que os dois países são os maiores exportadores do grão no mundo), há momentos em que, por questões das mais variadas - demanda, oferta, câmbio, políticas governamentais - os preços entre os países se "descolam". Nestes momentos é que surgem as oportunidades de arbitragem: comprar a soja em um mercado (BM&F BOVESPA) e vender no outro (CME - a bolsa de Chicago).

Especuladores - são os que entram nas operações sem interesse nos ativos comercializados, com o único intuito de lucrar com as oscilações do mercado. O conceito de especulador é visto pela sociedade em geral como algo negativo, por apenas visar o lucro. No entanto, a presença dos especuladores no mercado futuro é de vital importância: eles garantem liquidez às operações, tendo em vista que para alguém vender um contrato, é necessário que haja um comprador e vice-versa. Além disso, são os especuladores que assumem para si os riscos que os hedgers estão evitando ao operar no mercado.

O esquema abaixo apresenta um passo a passo de como comprar um produto nos Mercados Futuros (soja ou milho, para proteção contra os preços de insumos)

Passo a passo: Como comprar nos Mercados Futuros


Há também a opção de "zerar" a posição durante o período da transação, ou seja, realizar uma ação inversa (venda do contrato) para desta forma sair do mercado e garantir o resultado da operação. Ressalta-se que a liquidação física é pouco utilizada, devido aos custos com logística que tal modalidade apresenta.

Margem de garantia e ajustes diários

Além da câmara de compensação, comentada anteriormente, as negociações via Mercado Futuro na BM&F BOVESPA possuem outros dois interessantes instrumentos que garantem maior segurança aos negociadores: as margens de garantia e os ajustes diários.

A margem de garantia é um depósito inicial realizado em uma conta (conta garantia) para assegurar que os agentes do mercado cumpram com suas obrigações perante suas contrapartes. O depósito não necessita necessariamente ser em dinheiro, o negociador também pode utilizar como garantia aplicações financeiras (como ações e títulos públicos).

Esta margem de garantia é uma fração do valor total da operação e varia de acordo com as condições do mercado e com a volatilidade do preço do ativo negociado. Caso haja uma alteração na percepção do risco de mercado, a bolsa pode solicitar uma margem adicional com o intuito de aumentar a segurança da negociação. A margem de garantia também possibilita operações alavancadas, ou seja, que o agente de mercado opere um valor maior do que a quantia investida. Por exemplo, em 17 de outubro, o milho para setembro de 2013 estava cotado a R$28,40/saca, como um contrato futuro de milho é referente a 450 sacas, o valor total do contrato seria: R$28,40 x 450 = R$12.780,00. No entanto, a margem de garantia exigida para este contrato, na posição comprada, era de R$958,48, um valor que representa apenas 7,5% do total aplicado, ou seja, o grau de alavancagem é altíssimo (alavancagem de 13,33), o que faz com que o risco da negociação também seja maior. Só para comparação, no mercado de ações é necessário o valor integral da operação, exceto em casos opcionais, em que corretoras disponibilizam a possibilidade de alavancagem cobrando uma taxa pelo serviço. No entanto, nestes casos a alavancagem é bem menor que a apresentada nos mercados futuros. A margem é utilizada quando o investidor não arca com os ajustes diários, que serão explicados a seguir, garantindo à bolsa e à outra parte envolvida uma maior segurança quanto à consolidação da operação.

O ajuste diário é outro mecanismo existente no mercado de futuros que garante maior confiabilidade aos participantes. Trata-se de um ajuste financeiro que ocorre diariamente de acordo com o preço de ajuste, que é definido ao fechamento do mercado, a partir das posições em aberto de cada investidor. A compensação financeira do ajuste diário ocorre no dia útil seguinte ao fechamento do pregão, diretamente na conta dos envolvidos. Caso se opere comprado, um aumento na cotação do produto gerará um crédito no dia seguinte e uma queda nos preços gerará um débito. O processo para quem opera vendido é o mesmo, invertendo-se apenas as posições: um aumento de preço gera um débito e uma queda, um crédito.

A tabela a seguir simula uma operação entre 16 e 25 de julho no contrato de milho com vencimento em setembro de 2012, com posição comprada em 16 de julho a R$32,34/saca.

Tabela 1 - Operação comprada em 1 contrato de milho em 16/7 - R$32,34/saca com venc. em setembro de 2012


Observa-se que, apesar do saldo total da operação apresentar um ganho de R$1.075,50, em dois dias houveram débitos devido ao ajuste diário, por isso é importante estar atento ao mercado e suas tendências para evitar ser surpreendido por uma oscilação que gere prejuízos.

Mercado de Opções

O mercado de opções é uma outra alternativa muito interessante para operações de hedge. Uma opção é um direito que se adquire para comprar ou vender determinado ativo negociado no mercado futuro e o seu valor representa apenas uma fração do preço da mercadoria correspondente. Os principais tipos de opções são as de compra (Calls) e as de venda (Puts). A variedade de operações possíveis de serem realizadas com opções é bastante complexa, visto que pode-se operar comprado/vendido em uma opção de compra ou de venda.

As opções negociadas na BM&F BOVESPA podem ser exercidas a qualquer momento pelo detentor de seus direitos, no entanto elas possuem uma data limite de utilização, após esta data, como dito no mercado, a opção vira "pó", ou seja, não possui mais valor e o seu proprietário perde o investimento feito.

Para demonstrar a vantagem que o mercado de opções proporciona, vamos voltar ao exemplo do contrato de milho utilizado para demonstrar o funcionamento dos ajustes diários. No caso de um produtor de leite, por exemplo, o aumento do preço do milho encareceria seus custos com ração e prejudicaria o retorno da atividade. Para proteger-se do mercado, suponhamos que este produtor, no mesmo dia 16 de julho do exemplo anterior, prevendo uma alta nos preços, compre uma Call (opção de compra) por R$0,30/saca que dê a ele o direito de comprar a saca de milho por R$33,00. Com o aumento dos preços, o produtor decide exercer a sua opção no dia 25 de julho, em que a saca de milho estava cotada a R$34,73, garantindo sua compra a R$33,00. A economia com esta operação é dada pela diferença entre o preço do mercado em relação ao preço de exercício da opção somado ao custo desta opção. Para exemplificar:
Economia com a operação/saca = ¹R$34,73 - (²R$33,00+³R$0,30) = R$1,43/saca
Em que:
1 = Preço da saca de milho no mercado futuro
2 = Preço de exercício da opção
3 = Custo da opção

Como o contrato futuro de milho possui 450 sacas, a economia total da operação seria de R$1,43 x 450 = R$643,50.

O funcionamento das opções de venda (Puts) ocorre de forma semelhante e são úteis para o produtor proteger-se das quedas nos preços.

Considerações

Os mercados futuros e de opções apresentam grandes oportunidades para produtores agropecuários, dada a vasta gama de operações que podem ser realizadas. A característica mais importante de tais mercados, para os produtores, é justamente a garantia de receber/pagar um preço pré-determinado pelo produto com grande antecedência, o que auxilia no planejamento e na segurança do empreendimento, além de facilitar a comercialização de suas mercadorias.

No entanto, os mercados futuros também apresentam algumas desvantagens, por serem parte do mercado financeiro, os preços futuros apresentam oscilação muito maior que os produtos físicos em si. Isto se deve à volatilidade do capital especulativo, pois os especuladores migram de investimentos de acordo com o panorama do mercado, seja pela divulgação de índices econômicos, ações políticas e diversos outros fatores que não são tão expressivos na formação dos preços no mercado físico, mas que possuem relativa expressão no mercado futuro, o que faz com que possa haver, em determinados momentos, cenários de preços irreais no mercado futuro.

No caso do leite, apesar de não haver negociação nesta modalidade (na bolsa brasileira), os produtores podem operar contratos de soja e milho para evitarem prejuízos com as oscilações de seus preços, visto que eles representam parte importante dos custos de produção na atividade leiteira.

Sobre a criação de um mercado futuro próprio para o leite, seriam necessárias grandes mudanças estruturais na cadeia produtiva. A principal seria a transformação do leite numa commodity, de forma que a qualidade do produto nacional fosse homogênea, situação que apresenta-se muito distante do panorama atual.

CARLOS EDUARDO PULLIS VENTURINI

Economista formado pela ESALQ/USP; Coordenador de Conteúdo do MilkPoint Mercado

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ROGERIO DIAS

SÃO PAULO - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 29/10/2012

O preço na bolsa "era" para proteger o produtos e assim planejar o ganho futuro.


Hoje virou especulação e o preço futuro está maior do que o pago mensalmente.


Na verdade estamos viendo momentos atípicos, notem que em plena safra de alguns commodities os preços não caem ! vamos ver até quando a cadeia vai aguentar, pois assim que cair a demanda os preços tendem a cair.
EDUARDO AMORIM

PATOS DE MINAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/10/2012

Excelente artigo, mas acho pouco provável que no médio prazo tenhamos esta realidade aplicada ao leite no país. E por falar em commodity, quando os custos de produção impactados pela alta da soja e do milho sobem em outros setores  (aves, suinos e bovinos de corte) a conta é dividida com o consumidor.  No caso do leite, há uma (i)lógica perversa ao produtor que é obrigado a trabalhar no vermelho, enquanto grandes varejistas deitam e rolam sobre o UHT, não raras vezes usando-o como "isca" em promoções.


  As commodities saltaram para um novo patamar de preços e na luta de braço entre industria e grandes varejistas quem sai perdendo é o produtor.


Leiam a materia abaixo:


Preço da carne de ave e suína deve fechar ano com 50% de aumento


Sexta-feira, 26 de outubro de 2012 - 15h36


    


A crise na agroindústria afeta Santa Catarina há cerca de oito meses. A falta de grãos, como soja e milho, fez como que os preços das carnes no varejo subissem quase 30% neste período. De acordo com o Sindicato das Indústrias da Carne e Derivados no Estado de Santa Catarina (Sindicarne), a expectativa é o preço ainda aumente 20% até dezembro, encerrando o ano com uma alta de 50%.
Segundo o presidente do Sindicarne, Clever Pirola Ávila, o crescimento expressivo não está relacionado ao lucro, mas de transferência de custos. Desde o início da crise de grãos, os preços dos principais insumos tiveram uma disparada, o que encareceu a produção de carnes de aves e suínos em Santa Catarina.
Ávila afirma que devido ao forte encarecimento da soja nos mercados nacional e mundial, em 2013 a previsão é de redução da produção ou crescimento vegetativo, com inevitável aumento do preço das carnes. "As commodities saltaram para um novo patamar de preços e, como existem contratos de aquisição firmados já para a próxima safra, é bastante provável que os preços continuarão altos", coloca Ávila.
O cenário é resultado, principalmente, de dois eventos climáticos. O primeiro foi a seca que atingiu o oeste catarinense no início do ano e afetou as plantações de milho. Em seguida, a safra americana também quebrou e deixou os grãos ainda mais caros. Santa Catarina tem mais de 17.000 suinocultores e avicultores, em um setor que emprega diretamente 105 mil pessoas e, indiretamente, mais de 220 mil trabalhadores.
Fonte: Suino.com. Pela Redação. 26 de outubro de 2012.

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