
Para Fernando Ceresa Neto, produtor de leite no Distrito Federal, "inexiste argumento maior do que aquele que envolve o bolso do produtor", opinião compartilhada por diversos participantes, como Geraldo Magela de Carvalho Junior, estudante de veterinária da UFMG: "Nesse país, as coisas só funcionam quando mexem no bolso das pessoas. Assim como o cinto de segurança só passou a ser usado depois que passaram a multar quem não usasse, os produtores produzirão leite de melhor qualidade quando esse tiver maior valor que o de má qualidade".
Eduardo Côrtes, produtor de leite em Caratinga, Minas Gerais, aponta a necessidade de estímulo financeiro para que o produtor melhore a qualidade: "não há como esperar que o produtor faça investimentos pesados em qualidade de leite e não ser remunerado por isto. De onde virá o dinheiro para esse investimento?", coloca. Opinião semelhante de Bruno Alvares, consultor em Minas Gerais: "independentemente se o destino é mercado interno ou externo, o pagamento por qualidade estimula o produtor e, ao mesmo tempo, sinaliza que os laticínios de fato valorizam esse aspecto".
O produtor de leite de Goiânia, Joaquim Vital, lembra que a melhor remuneração pelo leite de melhor qualidade estimularia o produtor a se esmerar nas medidas capazes de proporcionar melhor qualidade de seu produto, tais como: refrigeração eficiente, higienização adequada, terapia na secagem de vacas, visando à redução do índice de mastite, descarte de leite com antibióticos e de vacas problemáticas, aprimoramento genético e outras. Para ele, essas medidas facilitariam o acatamento da IN 51, bem como estimulariam a exportação, visto que os importadores teriam certeza da boa qualidade de nossos produtos, opinião semelhante a Juliano Nogueira da Silveira, consultor em Iporá, Goiás.
"Não adianta o mercado externo exigir qualidade, normas pressionarem os produtores e propagandas para conscientizar uma população sobre o que significa um leite de qualidade. Leite com qualidade é um assunto muito complexo que começa lá na fazenda através da conscientização de muitos produtores. Se os produtores começarem a sentir que se o leite que eles oferecem à indústria tem qualidade e se eles receberem mais por isso, se sentirão motivados a investir em tecnologias e estarão mais receptivos aos programas de treinamentos que inúmeras empresas oferecem", pondera Joyce Siqueira, engenheira de alimentos da Universidade Federal de Goiás.
Mário Antônio Kudo, coordenador de qualidade da Vigor S.A, em São Paulo ("o produtor remunerado por um diferencial de qualidade, responderá com maior rapidez aos anseios desejados pelas indústrias"), Iury Tavares, controlador de qualidade da Ilpisa/Vale Dourado, em Alagoas, Antônio Moraes Resende, da Centroleite, Goiás, Leomar Martinelli, agente de captação da Líder Alimentos no RS, Jorge Joris, laboratorista da Frimesa, no Paraná, Luis Henrique Ribas, médico veterinário da Frimesa, Gilberto Cobus Filho, diretor do Leite Nova Odessa, em São Paulo, Gilmar Fortes da Silva, médico veterinário da Elegê-Avipal, Décio Schnack, produtor de leite em Lageado, RS e vários outros, também votaram nessa opção.
8,4% apontam as exportações como principal fator para melhoria da qualidade
"Como tudo no Brasil, apenas com a pressão do mercado consumidor externo é que o nosso governo toma alguma atitude em relação à sanidade dos produtos que produzimos. As novas políticas do governo federal que buscam facilitar o ingresso de produtos produzidos em pequenas propriedades rurais no mercado interno, através de diminuição das exigências em instalações e formas de processamento, acabam por diminuir a qualidade ou mesmo tornar impróprios para consumo os chamados 'produtos caseiros'", reclama Ana Elisa Ferreira, mestranda em Medicina Veterinária da UFMG, em Minas Gerais.
Para Louis Baudraz, produtor de leite em Rolândia, Paraná, é importante definir primeiro o que é qualidade. "Qualidade é aquilo que o consumidor exige, COMPRA. Hoje o mercado nacional quer segurança alimentar e preço baixo. A maioria das indústrias não pode fazer pagamento de bonificação por qualidade, por que não consegue fazer dinheiro com esta qualidade".
Para Baudraz, produzir qualidade é, acima de tudo, questão de preço. "No momento em que a indústria se consolidar na exportação, vai procurar mais leite dentro do padrão que esse mercado exige, podendo pagar pela qualidade. O produtor poderá atender essa demanda, de preferência com contrato prefixando o preço e o padrão de qualidade exigido".
Pressão do consumidor:também com 8,4% das preferências
Elaíse de Mello Barbosa, Gerente da Garantia de Qualidade dos Laticínios Jussara, de Patrocínio Paulista, São Paulo, pondera que todas alternativas impactam positivamente a qualidade do leite. "Do ponto de vista da empresa, porém, obtém-se resultados mais rápidos com o pagamento da qualidade, embora um resultado global satisfatório somente será alcançado por pressão do consumidor ou dos serviços de inspeção", indica ela.
Elder Marcelo Duarte, diretor do Leite Salute, também aponta a pressão do consumidor como fator principal para que a qualidade do leite melhore no país. Para ele, as entidades interessadas na melhoria da qualidade do leite brasileiro deveriam investir na melhor divulgação desses diferenciais aos formadores de opinião, como médicos e nutricionistas, que na maioria ainda são totalmente desinformados sobre o assunto.
Marcel Cerchi, diretor do Laticínio Scala, em Minas Gerais, também entende que a pressão do consumidor é o principal fator para a melhoria da qualidade do leite.
Instrução Normativa teve 6,0%
Alguns participantes indicaram a Instrução Normativa 51, que trata da regulamentação da qualidade do leite, como o fator desencadeador da melhoria da qualidade.
"Por se tratar de obrigações, os produtores terão que se adaptar, caso contrário, serão prejudicados no pagamento", pondera Newton Pohl Ribas, diretor geral da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento do Paraná, opinião semelhante a Luis Miguel Saavedra, produtor de leite em Santo Ângelo, Rio Grande do Sul.
Participaram da enquete 83 pessoas. É importante salientar que a enquete MilkPoint não tem o objetivo de quantificar opiniões com rigor estatístico, apenas mostra a opinião dos leitores sobre determinado assunto.
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