A entrada de matéria-prima nas fábricas registrou em março seu quinto aumento interanual consecutivo, sendo este o de maior nível, da ordem de 20%. Este dado confirma a mudança favorável da tendência, após um persistente período de baixa iniciado em setembro de 2001. Estima-se que o volume acumulado em 2004 foi 16% maior do que o correspondente em 2003. Segundo o INDEC, esta maior disponibilidade de matéria-prima permitiu que a utilização da capacidade instalada na indústria passasse de 54% nos primeiros três meses de 2003 para 60% atualmente.
A importante recuperação observada na recepção total de leite foi explicada exclusivamente pela expansão na produção diária por propriedade que compensou a diminuição no número de propriedades. De fato, entre janeiro e março de 2004, a quantidade de propriedades leiteiras mostrou permanentes reduções interanuais - ainda que a taxas decrescentes - que ficaram em média 6% neste período, enquanto que a produção diária por propriedade foi em média 24% superior à do ano anterior.
Como referência da situação do setor, pode-se informar que em março de 2004 as indústrias "indicadoras" (cerca de 15 companhias sobre as quais se estima a tendência de produção primária da Argentina) receberam em média cerca de 12,5 milhões de litros diários de leite, provenientes de cerca de 6,56 mil fornecedores, enquanto que no ano anterior, a captação era de 10,4 milhões de litros diários, fornecidos por aproximadamente 6,88 mil propriedades leiteiras.
Esta redução no número de propriedades leiteiras da amostra - cerca de 320 - pode ser explicada pela combinação de duas causas: o fechamento definitivo de estabelecimentos e a substituição por indústrias menores, com preços ou prazos de pagamentos mais convenientes para o produtor ou com menores exigências com relação à qualidade do leite.
Estimativa da produção de leite na Argentina

Fonte: Direção da Indústria Alimentícia sobre a base de dados do Convênio SAGPyA-Centro da Indústria Leiteira (CIL)-Fundação de Investigações Econômicas Latino-Americanas (FIEL) e pesquisas próprias.
Representantes das maiores indústrias de lácteos da Argentina argumentam que a intensidade destas substituições aumentou notavelmente entre 2001 e o primeiro semestre de 2003. Na comparação interanual (março de 2004 contra março de 2003), o volume diário entregue por propriedade teve um aumento de 26%, passando de uma média de 1500 a 1900 litros por estabelecimento. Este parâmetro vem mostrando desde setembro de 2003 variações positivas e crescentes.
O segundo aumento consecutivo ocorrido em março, ficando atrás do registrado em fevereiro último, pode ser explicado por duas razões, ambas vinculadas à crescente pressão exercida pelo cultivo da soja sobre os sistemas de produção de leite. Em primeiro lugar, a intensificação ou crescimento "vertical" da atividade através do aumento da produção por vaca e por hectare, que tem sido possível graças a uma favorável relação leite/grão. De acordo com dados do Centro da Indústria Leiteira (CIL), no primeiro trimestre deste ano, o aumento da produção por propriedade foi de 18% com relação ao mesmo período do ano anterior. Em segundo lugar e se tratando de dados que surgem de uma amostra reduzida de indústrias fornecedoras, é possível supor um tamanho relativo das propriedades leiteiras remanescentes com relação àquelas que "saem" da amostra ou abandonam definitivamente a atividade leiteira. O fechamento de propriedades poderia ser explicado pela menor capacidade de competição frente à soja daqueles estabelecimentos de menor escala ou eficiência.
Como informação complementar vale agregar alguns dados elaborados pelo CIL sobre a base de dados enviados por 14 indústrias. A comparação acumulada (janeiro a março de 2004 x janeiro a março de 2003) demonstra um aumento de 18,75% na recepção de matéria-prima (entrada total de leite na planta, que também considera as entradas e saídas de propriedades leiteiras); e de 18,35% medindo-se em termos de produção por propriedade constante (que se calcula comparando a produção das propriedades que entregaram em um determinado período e que também o fizeram no período base, ou seja, excluindo-se do cálculo as entradas e saídas de propriedades).
Recepção total de leite, No de propriedades leiteiras e produção diária por propriedade - Base Janeiro 2001 = 100

Fonte: Direção da Indústria Alimentícia sobre a base de dados do Convênio SAGPyA-CIL-FIEL e pesquisas próprias.
Quando à evolução do número de propriedades da amostra da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Pesca e Alimentação (SAGPyA), destaca-se a reedição em 2003 de uma tendência que, excepcionalmente, não foi registrada em 2002, ou seja, a interrupção do processo de êxodo de propriedades leiteiras durante a segunda metade do ano, fenômeno que persiste em 2004. De fato, após 20 baixas consecutivas contra o mês anterior, a partir de junho de 2003, esta comparação foi alternando variações positivas e negativas, mas sempre com o número de propriedades da amostra se mantendo entre 6,5 mil e 6,6 mil.
Por uma via alternativa esta observação pode ser confirmada através da progressiva redução da diferença registrada no levantamento do CIL, entre os aumentos a propriedades constantes e os correspondentes à recepção total que, em março passado, praticamente foi nula. As considerações anteriores denotam uma lenta, mas sustentada melhoria das condições gerais nas quais se desenvolve atualmente a atividade leiteira com relação ao ano anterior.
Fonte: Direção Nacional de Alimentação, Secretaria da Agricultura, Pecuária, Pesca e Alimentação, adaptado por Equipe MilkPoint