Exportações: concentradas em produtos de maior valor

Considerando o câmbio atual e as cotações de leite no mercado interno, a tendência para os próximos meses é que as exportações cada vez mais se concentrem em produtos de maior valor agregado, como o leite condensado e alguns tipos de queijos. Essa é a opinião de André Mesquita, da trading Serlac, que trabalha com exportações de lácteos. "Esses produtos têm um diferencial competitivo em função da estrutura de custos. No caso do leite condensado, o Brasil possui o açúcar e o aço em condições favoráveis em comparação a outros países", comenta ele.

A manutenção dos altos volumes exportados no início do ano, também é incerta. O crescimento de 141,9% nas exportações do primeiro trimestre de 2005 em comparação a 2004 é fruto basicamente da manutenção de contratos que foram negociados no final do ano passado, explicam ele e Otávio Farias, da trading Hoogwegt, especializada em exportações lácteos.

O fato do Brasil ter importado e exportado volumes consideráveis do mesmo produto (leite em pó) nesse início de ano tem origem justamente nesse fato. "Há contratos em andamento, firmados no final do ano passado, justificando os volumes exportados, ao passo que as recentes importações foram motivadas pela conjuntura no início do ano", esclarece Mesquita.

"As vendas para o mercado exterior estão fortemente impactadas, por um lado pelo alto valor do leite no Brasil e, por outro, pela taxa de câmbio, praticamente inviabilizando novas negociações", alerta Otávio.

Segundo ele, a Argentina, por exemplo, tem hoje uma condição mais favorável para as exportações. "A título de comparação, o preço de leite na Argentina está em torno de US$ 0,17 por litro e câmbio ao redor de 2,95 pesos para cada dólar. No Brasil, o preço ao produtor chega a ultrapassar os US$ 0,25 por litro, enquanto o câmbio está ao redor de R$ 2,60 para cada dólar", exemplifica.

"O Brasil recentemente perdeu lugar em recentes licitações e grandes compras internacionais devido a estes fatores", afirma Otávio. No primeiro bimestre, as exportações da Argentina aumentaram 52% em valor clique aqui para ler

Importações

Com a menor competitividade do leite em pó para exportação e com a oferta ajustada de matéria-prima no mercado nacional, mantendo-se as condições atuais, é possível que as importações de leite em pó se mantenham fortes. No entanto, dados preliminares referentes às importações de lácteos em abril indicam média diária 32% menor do que os valores de março.

Para, Otávio, é normal que haja períodos em que se exportações e importações se alternem no Brasil, pelo menos no curto prazo. "A importação e a exportação de leite em pó, por exemplo, ocorre devido ao amadurecimento do mercado brasileiro. O setor tira a pressão do mercado interno durante períodos de excesso de produto, mantendo firme o preço ao produtor, enquanto importa volumes em momentos que seja viável fazê-lo, sem que isto afete os preços pagos ao produtor ou desestabilize os mercados domésticos", avalia. Segundo ele, no passado isto não ocorria, pois o déficit de leite era muito maior, sendo também maior a dependência das importações de leite e derivados.

"A tendência é que Brasil siga este movimento nos próximos anos, até que o excedente de produção seja tão expressivo que o país passará a ser um exportador consistentemente durante todo o ano", prevê Otávio.

Preços no mercado externo

Em relação à conjuntura de preços no mercado externo, Otávio analisa que a Oceania, principal player mundial, sofreu com períodos de seca e queda na produção, dando maior espaço à Europa, embora o Euro esteja valorizado em relação ao dólar, bem como a outros países exportadores.

Fonte: Equipe MilkPoint