Exportação de lácteos pode voltar a crescer

Publicado por: MilkPoint

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Após um período de ausência de novos contratos, as exportações parecem dar sinais de aquecimento. É o que informam André Mesquita, da trading Serlac, e Otávio Farias, da trading Hoogwegt do Brasil. As razões para essa possível retomada seriam basicamente duas: queda de preços do leite no mercado interno e mercado externo aquecido.

"O mercado externo está aquecido", diz Mesquita. Segundo ele, os negócios com leite em pó estão saindo a valores entre US$ 2150 e 2300 a tonelada, colocada em porto brasileiro. Questionado sobre a rentabilidade dessa operação, Mesquita admite que quem opta por exportar hoje está empatando. Para Farias, há casos em que, aparentemente, há prejuízo, dado o custo da matéria-prima.

Para Farias, não é somente o novo patamar de preços de leite pago ao produtor que irá impulsionar as exportações. Apontando uma terceira razão para a retomada das exportações, ele salienta que as empresas precisam exportar independentemente do câmbio ou do preço de leite para escoar o excesso de leite do mercado interno, mesmo que a contribuição seja pouco favorável. "É uma questão de sobrevivência, pois se a indústria não exportar excedentes, haverá mais pressão no mercado interno", explica. Para ele, "é melhor para a indústria exportar, por exemplo, 1000 toneladas, equivalentes a mais de US$ 2 milhões, do que manter estoques, sem falar na atual taxa de juros no Brasil, ao redor de 20% ao ano".

Mesquita lamenta que a melhora do cenário para as exportações tenha se dado em função de redução dos preços para o produtor de leite, e não via ajuste cambial, por exemplo. "Mas era algo irreversível dada a conjuntura do final do semestre", admite.

Farias acha que novos ajustes ainda podem ocorrer. Segundo ele, com o câmbio atual, o leite deveria custar entre US$ 0,16 e US$ 0,18 por litro, se o objetivo fosse viabilizar as exportações com competitividade no mercado internacional.

Por outro lado, Jacques Gontijo, da Itambé, considera que, no caso de sua empresa, a queda de preços de leite de US$ 0,26 para US$ 0,23 por litro já seria suficiente para voltar a trazer competitividade (veja aqui entrevista).

"Se a queda que ocorreu é suficiente, depende da bacia leiteira", pondera Mesquita. Para ele, o leite spot, comercializado entre empresas, é o que mais sofre. "O spot tem efeito pronunciado; na alta, sobe mais, e na baixa, cai mais", lembra Mesquita.

Para Farias, o mercado interno estagnado foi outro fator importante para definir a conjuntura atual. Segundo ele, o preço do leite em pó no mercado interno, que estava em torno de R$ 7,50 o quilo, passou a ser vendido por R$ 6,00. Já o preço do queijo passou de R$ 9,00 a R$ 6,00/kg.

Importações devem diminuir

Segundo os especialistas consultados, a queda de preços no mercado brasileiro, a escassez de leite no mercado mundial e o aumento dos preços do leite argentino devem contribuir para redução da quantidade de leite a ser importada nos próximos meses. "A matéria-prima na Argentina, que custava entre US$ 0,16 e US$ 0,18 por litro até pouco tempo, hoje está cotada a US$ 0,20", relata Farias, que informa já não compensar importar leite em pó da Argentina. "O leite em pó argentino chega ao país em torno de R$ 7,00/kg, sendo que o produto brasileiro está hoje cotado a R$ 6,00-6,50/kg", explica.

A opinião é compartilhada por Mesquita, da Serlac. Para ele, ao adquirir a matéria-prima importada e colocando os impostos, fica mais caro do que comprar no Brasil. "Nesse cenário as importações da Argentina tendem a cair bruscamente", comenta.

Marcelo Costa Martins, assessor econômico da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA, é mais cauteloso. "Os custos industriais na Argentina são menores do que os nossos, e o preço do leite é mais baixo", comenta. "Além disso, corremos o risco das importações do Uruguai", completa. Para ele, o setor industrial está se reorganizando em relação aos custos, mas esse ônus está recaindo sobre o produtor de leite. Martins afirma também ser importante aumentar a demanda de lácteos nesse momento, além da utilização de instrumentos de apoio à comercialização, como EGF.

Martins reclama também da dificuldade do setor em planejar o futuro. "Há 6 meses ou 1 ano, ninguém previu que a situação cambial estaria como está hoje, afetando todo o agronegócio. É preciso ter uma política que seja consistente e que permita ao setor se planejar".

Abertura do mercado mexicano

Mesquita considera a abertura do mercado mexicano bastante importante, mas lembra que 85% das importações mexicanas são feitas entre outubro e março, a entressafra mexicana. "Nesse período, a tarifa de importação cai de 130% para cerca de 10 -15%. Temos de nos preparar para esse período, que coincide justamente com a safra brasileira", informa. Mesquita acredita que o México importará 160.000 toneladas neste ano, sob tarifas preferenciais.

Farias concorda que a abertura do mercado mexicano é muito importante para o Brasil, uma vez que o México é um país sempre comprador de lácteos, ou seja, tem grande dependência das importações. "Porém, por enquanto, apenas duas empresas estão habilitadas para exportar para esse país, o que ajuda a escoar somente parte dos excedentes de produção no Brasil", alerta.

Choque de competitividade ainda é necessário

Para Mesquita, o Brasil precisa ainda de um choque de competitividade, especialmente em relação ao teor de sólidos. "Se nosso índice de conversão fosse melhor, provavelmente não estaríamos tendo crise, mesmo com o câmbio desfavorável", diz. Mesquita lembra que a Nova Zelândia precisa de 6,8 litros de leite para fazer 1 kg de sólidos. No Brasil, esse valor é de 8,2. "Essa diferença de 20% teria contrabalançado a queda de 20% do câmbio, de R$ 3,00 para R 2,40", reflete.

Fonte: Equipe MilkPoint
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Roberto Trigo Pires de Mesquita
ROBERTO TRIGO PIRES DE MESQUITA

ITUPEVA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 16/07/2005

Imaginar que a tendência seja de crescimento das exportações pela queda dos preços pagos aos produtores mostra desconhecimento da realidade das fazendas de produção e da sua capacidade de redução da oferta em regime de prejuízo, em curtíssimo prazo.



Mas, diante dessa indiscutível conjuntura de preços baixos, a minha intervenção nesta discussão é para conclamar os amigos produtores a reformularem seus planos de produção para o segundo semestre de 2005, não se esquecendo de que a principal saída lucrativa (way out) do leite está na criação do bezerro e o vitelo de leite é o produto de maior valor agregado nessa crítica situação do mercado.







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