Enquete sobre custo de produção bate recorde de votação

Publicado por: MilkPoint

Publicado em: - 9 minutos de leitura

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Para maior parte, custo de R$ 0,54 por litro é elevado

A última enquete do MilkPoint, questionando a respeito dos custos de produção de leite, teve votação recorde, demonstrando a atualidade e a polêmica do tema: 178 pessoas participaram, a maior parte produtores e técnicos envolvidos com produção de leite. Dos 178 votos, nada menos do que 107 foram acompanhados de comentários, alguns com mais de uma página. Abaixo, procuramos sintetizar as principais opiniões apontadas.

Dos participantes, 41% consideraram que 54 centavos por litro de leite seria um custo de produção muito alto. A maioria (64%) acredita que este custo fica entre as opções "Alto" e "Muito Alto".


Razões para "muito alto"

Muitos participantes defendem esta posição pela comparação com o preço de leite remunerado por parte dos produtores. "É impossível, já que em nossa região o preço pago ao produtor não passa de R$0,50/L", responde Olívia M. L. da Silva, produtora de leite de Campo Grande, MS. Opiniões semelhantes são encontradas em outras regiões também: "devido aos preços que o mercado paga pelo litro de leite, é inviável trabalhar com este custo de produção" comenta Mauro L. Terhost, produtor de Curitiba, PR. Os produtores Eduardo A. C. Rezk, Vitória da Conquista, BA, e Gúbio M. de Carvalho, Goiânia, GO, também citam que o preço recebido é menor que 54 centavos/litro e que, portanto, produzir a esse custo é inviável. Para Roberto Cunha Freire, produtor de leite em Belo Horizonte, MG, o valor é muito alto, mas os custos subiram. "O problema está na falta de poder de barganha do produtor, que não consegue remuneração adequada", lamenta.

Outros sugerem ser possível produzir com um custo mais baixo através de uma produção extensiva. "A produção a pasto com suplementação no inverno, num país com a extensão do Brasil, permite valores menores que R$0,50/L de custo" diz Clotter G. Serafim, produtor de Teófilo Otoni, MG. O médico veterinário da casa da agricultura de Gastão Vidigal, SP, Valter Ricardo Dezani concorda: "É um custo muito alto. Na minha região há a predominância, ainda, de uma pecuária leiteira extensiva, cerca de 80%, com animais poucos produtivos. Mas, por outro lado, são animais mais rústicos e que na primavera e verão recebem como alimento apenas pasto de baixa qualidade". Segundo Leomar Martinelli, agente de captação da Líder Alimentos, há propriedades no estado de Paraná com uma produção de 300L/dia e com um custo de 37 centavos de produção. Ele acredita que o custo depende do manejo e do tipo de alimentação.

Diferenças regionais também foram apontadas. Para Luis Afonso, médico veterinário em Santo Ângelo, RS, na região o preço gira em torno de R$ 0,48 por litro, havendo produtores com custo na faixa de R$ 0,40 por litro", informa.

Já o economista da Organização das Cooperativas de MS, Adriano T. Fassini, diz que: "mesmo para uma propriedade com grande eficiência nos quesitos qualidade, higiene e produtividade, que proporcionam maior valor para o produtor perante a indústria, esse custo é alto".

Para Milton Dayrell, da empresa Nutriplan, de Juiz de Fora, MG, os produtores raramente calculam o custo de produção, que deveria estar entre R$ 0,40 e R$ 0,45 por litro.

O fato de boa parte considerar o custo de R$ 0,54 por litro elevado, não quer dizer que não seja comum nas fazendas brasileiras. Wellington Teixeira, estagiário do PDPL (Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira), convênio entre a UFG, a DPA e a FUNAPE, informa que "acompanha algumas fazendas já há algum tempo, e na maioria delas o custo é às vezes maior que R$ 0,54/litro". Nessas condições, diz ele, "o produtor tem prejuízo, pois é muitas vezes maior do que o que a indústria paga".

João Marcos Guimarães, produtor em Itanhandu, MG, coloca o seguinte dilema: "para se produzir leite com qualidade, é necessária uma série de investimentos em estrutura, sanidade, alimentação balanceada, impostos, mão-de-obra,etc... Somados todos estes itens o resultado é um custo de produção inviável para a venda do leite com o lucro necessário para remunerar o investimento. Se, por outro lado, o laticínio remunerar o produtor adequadamente, o produto fica com um preço inviável para o consumidor. A equação não fecha".

"Alto"

Cerca de 23% do total das respostas assinalaram a alternativa "Alto". Dentre eles está o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Aloísio Teixeira Gomes, que considera R$ 0,54 um custo elevado, tratando-se da média das principais bacias produtoras do País. "Estou assumindo, no meu argumento, que o sistema-base tem o pasto como alimentação principal e conta com suplementação no cocho, volumosos na época seca e concentrado o ano todo, e uma produtividade média de 10 a 15 litros por vaca em lactação/dia. Ainda mais considerando que os preços dos principais ingredientes dos concentrados tiveram preços razoáveis em 2004. Levando estas características em conta, o custo do leite varia de R$ 0,48 a R$0,53" defende.

Muitos concordam com esse argumento do sistema a pasto, como no caso de Michel F. Kharlakian, produtor de Catanduva, SP, e François Pochard, na região de Luziânia, GO.

Para Rafael Longo, produtor de Poços de Caldas, MG, é possível produzir com um custo mais baixo com volumoso de capim-elefante. "Como a alimentação é responsável por 40 a 60% do custo total, a alimentação com silagem de milho pode tornar o custo maior". Para Flávio de Castro Pereira, consultor em Governador Valadares, MG, o custo é alto: "tenho várias fazendas com sistemas de produção variados, com custos bem inferiores a este".

Houve respostas similares, neste caso, às da opção "Muito Alto". Um grande número de participantes respondeu que o custo era alto em relação ao preço pago pelo leite, entre eles os produtores Sergio M. A. Savassi e Hélio Cabral Jr, de Minas Gerais; Silvio Silveira e Eliziario Pedrozo, do Paraná; os técnicos como o agrônomo Rodrigo Gregório da Silva, de Ceará, e o veterinário Alexey H. G. da Silva, de Goiás.

"Médio"

Curiosamente, poucos participantes selecionaram a alternativa "médio": apenas 11%. O produtor de Francisco Beltrão, no Paraná, Geonir Vicensi diz que o preço é razoável, devido ao aumento dos insumos.

Segundo Haulivers O. Hauers, consultor da Lagoa da Serra, "Este custo é real em qualquer local do Brasil". Já Júlio Rocha de Brasília, DF, não concorda, apontando que há variações regionais.

O produtor de Minas Gerais, Pedro A. J. Ferraz concorda com o valor, citando que as análises de custos realizadas pelos Prof. Sebastião Teixeira Gomes e engenheiro agrônomo Maurício Palma Nogueira são oportunas e alicerçadas em argumentos sólidos e muito bem construídos.

Veja os artigos relatados:

"Custos desestimulam os produtores?", por Maurício Palma Nogueira

e "Preço e lucro do leite em 2004", por Sebastião Teixeira Gomes.

"Baixo e Muito Baixo"

É a opinião que obteve a menor parcela dentre as alternativas: apenas 10% somando as duas opções.

Os participantes que dividem este ponto de vista, como o produtor José G. Godinho Pereira, MG, e Mary Ane A. Gonçalves, PR, relatam que o preço é baixo devido aos aumentos ocorridos nos insumos, mão-de-obra e impostos.

Há também respostas neste item relacionadas com o aumento da qualidade de leite, que pode aumentar o seu custo de produção. "Partindo do princípio que o mercado e a industria querem um leite de qualidade e com pouca variação de produção durante o ano, esse preço é baixo", cita Fernando A. Ferreira, produtor da Bahia. E Antonio Perozin, produtor de São Paulo, argumenta que para ter uma qualidade melhor é necessário um maior investimento.

Paulo César de Alvim Resende, produtor de leite em Minas Gerais, alerta para a forma do cálculo dos custos de produção. Para ele, as planilhas de custo de produção de leite precisam ser atualizadas e feitas da forma correta. Depreciações, custo do capital, insumos considerados a preços de oportunidade, risco da atividade, investimento para atualizações no que diz respeito à qualidade do leite e outros itens devem ser considerados.

"Depende"

Entre os comentários enviados a nossa equipe muitos citam que este custo é relativo. Os principais pontos abordados são o preço do leite pago ao produtor, a escala de produção, o sistema de produção, valor da terra e capital investido. "Quando se fala em custo, devemos sempre avaliar a escala de produção e o preço pago pelo produto" argumenta Matozalém Camilo, consultor técnico em Ituiutaba, Minas Gerais. Segundo ele, como produtores com volume mais alto recebem melhor preço, esse custo pode ser considerado adequado para produtores que têm escala, mas não para quem produz pouco.

Márcio F. do Amaral, consultor no Rio Grande do Sul, critica: "Cada propriedade tem seu custo de produção. Portanto, não se pode utilizar um valor fixo apenas para justificar uma, ou, outra posição. Não podemos imaginar que uma propriedade como a utilizada no exemplo (artigos acima), com alta produtividade, porém com altos investimentos em maquinários e pessoal possa servir de média para um país como o nosso".

Para José Otaviano Pimentel, produtor em Viçosa, MG, o produtor eficiente está ganhando dinheiro. "Gostaria de enfatizar que ser eficiente não significa produzir grande quantidade de leite por vaca. Em minha região, como em grande parte dos Estado de Minas, Bahia, Espírito Santo e etc, ou seja, cerca de 70 % do leite produzido no Brasil, o custo de grãos é elevado não justificando o seu uso intensivo. As boas fazendas produzem de 9 a 12 kg por vaca por dia e são lucrativas (eficientes)".

Houve também quem criticou a enquete. Márcio Oiticica, produtor em Minas Gerais, acha que o MilkPoint não deveria fazer enquetes dessa natureza, que interessam à indústria e supermercados, que querem pagar aos produtores o menor valor possível.

Maior participação de Produtores

O perfil dos participantes dessa enquete mostra predomínio de produtores e técnicos que, juntos, perfizeram 67% dos votos. Minas Gerais encabeça a lista com 23% dos votos, seguido de São Paulo, com 20% (ver tabelas abaixo).



Para Marcelo P. de Carvalho, coordenador do MilkPoint, custo de produção de leite tem sido um tema polêmico há bastante tempo. "Há, sem dúvida, diferenças regionais e diferenças de sistemas de produção e de qualidade, que afetam os custos apurados e a percepção do que é alto ou baixo", alerta. "Mas há também a forma de cálculo dos custos, que pode mascarar os resultados. Como o leite é uma atividade que tem vários itens de custo que não envolvem desembolso imediato, especialmente em sistemas mais extensivos, muitas vezes o custo é subestimado e o produtor só percebe no momento de trocar um equipamento, quando a fertilidade das terras cai ou quando acaba trocando a atividade por outra", lembra ele.

"De qualquer forma, é interessante constatar que, em uma amostragem de quase 200 pessoas, a percepção é de que R$ 0,54 por litro, equivalente hoje a US$ 0,205 por litro, é um custo elevado", constata.

É importante salientar que a enquete MilkPoint não tem o objetivo de quantificar opiniões com rigor estatístico, apenas mostra a opinião dos leitores sobre determinado assunto.

Vote em nossa próxima enquete: Qual nível de preço da matéria-prima nos possibilita competitividade no mercado internacional?:

    - < US$ 0,12/litro
    - US$ 0,12 a US$ 0,16/litro
    - US$ 0,16 a US$ 0,20/litro
    - US$ 0,20 a US$ 0,24/litro
    - US$ 0,24 a US$ 0,28/litro
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Fonte: Equipe MilkPoint
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Marcio Oiticica de Souza
MARCIO OITICICA DE SOUZA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 01/02/2005

A amostra de 178 votos é ínfima. Não representa, a meu ver, o enorme setor produtivo. Ademais, empresários são, infelizmente, uma minoria neste país.

Dizer que o preço do leite está "muito alto", só pode vir de interesses ligados à indústria. Não merece credibilidade.

Lamento que o "Milk Point" tenha enveredado por esse caminho. Uma pena..., realmente.

Cordialmente,

Marcio Oiticica.

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