
Para Gregório Pontes, produtor de leite em Petrópolis, RJ, os preços pagos ao produtor são inferiores aos custos de produção, o que leva à desistência do produtor especializado. José de Almeida de Oliveira, produtor de leite em Alagoas, por outro lado, acredita que o aumento dos custos tende a dificultar a viabilidade do pequeno produtor, que não tem como fazer frente às margens cada vez mais apertadas. "A matéria-prima que oferecemos é perecível, não pode ser armazenada, o que reduz o poder de barganha", afirma ele.
Diversos outros leitores apontam os altos custos como fator que leva à redução no número de produtores. Roberto Gabriel da Silva, produtor de leite em Goiás, aponta os custos atrelados ao dólar e as receitas em real como um fator que desestimula a produção de leite, opinião semelhante à de Haulivers Hauers, consultor em Balneário Camboriú, Santa Catarina.
Kallil Sales Filho, consultor da Plantar Assistência Rural, na Bahia, aponta a escassez de crédito rural como um fator que desestimula a produção de leite na região e contribui para a queda no número de produtores. Para Luiz Miguel Saavedra de Oliveira, produtor de leite em Santo Ângelo, RS, a redução do número de produtores em sua região tem diversas origens: as terras têm valor elevado para agricultura, além da classe ter envelhecido e os filhos não quererem atuar na atividade. Para ele, as políticas de pagamento do leite são muitas vezes excludentes, não só pelo lado das empresas, mas pela também burocracia e exigências de bancos para quem busca crédito. Luis Renato Garcia, produtor de leite em Jataí, GO, aponta a pressão da agricultura como um fator que desestimula a produção de leite, forçando especialmente os pequenos produtores a sair da atividade.
Já José Manoel Azevedo de Souza, produtor de leite em Barbacena, Minas Gerais, comenta que o aumento de escala é irreversível: "O número de produtores, vem diminuindo ano a ano. A produção, ao contrário, aumenta ano a ano. A escala de produção por produtor é crescente, ou seja, a queda do número de produtores é compensada pelo aumento da produtividade dos que continuam na atividade". O leitor Carlos Alberto Gomes de Araújo, engenheiro agrônomo da Cooperativa Santa Clara, em Carlos Barbosa, RS, tem opinião semelhante, assim como o produtor Antônio Perozin, de Valinhos, SP.
Paulo César de Alvim Resende, produtor de leite em Contagem, MG, sintetiza: "Os responsáveis pela política de preços do Brasil precisam entender que a atividade é de altíssimo risco e, desta maneira, para segurar o produtor na atividade precisamos olhar em dois sentidos. 1o, o pequeno produtor tem que ter uma rentabilidade muito alta para se sustentar em função de seu faturamento mensal, que é muito baixo; 2º, o grande produtor tem que ter uma rentabilidade bem menor mas que justifique seus investimentos, que pague uma dieta balanceada, que permita ter na propriedade um profissional de bom nível etc.".
Nordeste
Jairo Braga da Silva, produtor de leite em Garanhuns, PE, traça um cenário complicado para a região. Para ele, "falta investimento na educação. Culturalmente, estamos há anos-luz de atraso, sem perspectiva de dias melhores, com um preço muito alto para toda sociedade".
Opiniões contrárias
Há quem considere que o número de produtores esteja crescendo. Patricie Freitas, produtora de leite em Alagoas, lembra que a maior competição entre indústrias têm elevado os preços e estimulado a produção. Antônio Alexis Arantes, diretor do laticínio L'anno em Goianésia, GO, comenta que "o preço do leite recebido pelo produtor tem aumentado muito nos últimos três anos e isso tem refletido no meio empresarial rural, com dinheiro disponível para investimentos, que vem canalizando para a bovinocultura de leite atualmente".
A estabilidade no número de produtores também foi apontada por 15,3% dos votantes. "Enquanto alguns saem da atividade, outros entram", afirma Joaquim Rezende Pereira, pesquisador da Embrapa Gado de Leite, em Juiz de Fora, MG. Ângelo José de Oliveira, supervisor da Emater-RIO, em Quatis, RJ, observa: "Apesar das constantes reclamações por parte dos produtores, há sempre interessados em arrendamento ou compra de terras, e tanto os preços de aluguel como os valores das terras vêm sofrendo constantes elevações. Nos últimos anos, temos encontrado quase nenhuma variação na quantidade de produtores, com queda no volume captado em função da saída dos grandes produtores, basicamente aqueles que criam gado puro e que dependem de mão-de-obra contratada".
João César de Resende, também pesquisador da Embrapa Gado de Leite, faz uma observação importante: "Perante as estatísticas, o número de produtores vem diminuindo. Precisamos levar em conta, no entanto, que em muitas regiões os produtores, principalmente pequenos, estão se associando para ganhar escala e poder de barganha junto a indústria compradora. Conheço uma associação de quase cem produtores de leite, com um volume total de 15 mil litros/dia, onde produtores de 20 litros conseguem vender no mesmo preço dos produtores de 500 (que estão na mesma associação) e de produtores de dois mil que não são associados. Acredito que nas estatísticas esta associação de cem aparece como um único produtor".
Participaram da enquete 75 pessoas. É importante salientar que a enquete MilkPoint não tem o objetivo de quantificar opiniões com rigor estatístico, apenas mostra a opinião dos leitores sobre determinado assunto.
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- - raças européias
- cruzamento entre raças européias
- cruzamento raças européias e zebuínas
- raças zebuínas
- nenhuma se sobressairá