Demanda por lácteos na China realinha forças no mercado

Publicado por: MilkPoint

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No meio do Monte Kawi, um vulcão extinto da ilha de Java, na Indonésia, 1400 vacas estão fornecendo 10 mil litros de leite por dia às lojas asiáticas do Starbucks Corp. e o gerente geral da PT Greenfields, dono da fazenda no Monte Kawi e maior produtor de leite da Indonésia, Rupert Stocker, disse que ainda é necessário mais.

"Nós estamos comprando leite de produtores locais porque as fazendas não podem produzir o suficiente", disse Stocker. Ele cita o aumento da demanda de leite pela China como um dos motivos disso.

Produtores de leite do sudeste da Ásia à Califórnia estão expandindo seus rebanhos à medida que o aumento da renda dos 1,3 bilhão de consumidores da China leva ao aumento da demanda por leite, queijos e iogurte. Esse aumento pode ajudar os produtores de leite dos Estados Unidos e da Nova Zelândia a tirar parte do mercado da Europa Ocidental. Os altos custos e as cotas da União Européia (UE) estão evitando que o maior exportador do mundo aumente sua produção.

"O sinal está verde", disse o analista do Rabobank em Utrecht, na Holanda, terceiro maior financiador holandês, Mark Voorbergen. "É só uma questão de saber se os exportadores podem suprir esse crescimento".

A demanda global por produtos lácteos cresceu em um ritmo duas vezes maior que a oferta no ano passado, de acordo com o Rabobank. As pessoas consumirão cerca de 628 milhões de toneladas de produtos lácteos em 2005, comparado com 625 milhões de toneladas produzida, estimou a companhia alemã de Bonn, ZMP GmbH.

Os preços ficarão em média de 8% a 10% maiores nos próximos cinco anos do que nos cinco anos anteriores, de acordo com o Rabobank.

"Existe uma correlação muito forte entre o crescimento econômico e o consumo de lácteos", disse o diretor-gerente da unidade de produtos ao consumidor da Ásia em Cingapura da neozelandesa Fonterra Co-operative Group, Mark Wynne. A China é o mercado de mais rápido crescimento para a Fonterra, maior exportadora de lácteos do mundo, disse Wynne.

A produção de leite na China, na Índia e no Paquistão aumentará 38% nos próximos cinco anos, seguida por um aumento de 8% nos EUA e de 3,4% no Leste Europeu, estimou a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (Food and Agriculture Organization - FAO). A produção cairá 6% nas 15 nações que faziam parte da UE antes da expansão do bloco, ocorrida no ano passado.

As vendas no varejo de produtos lácteos na China expandirão 55%, para US$ 7,9 bilhões, até 2009, de acordo com o Euromonitor International, companhia de pesquisa ao consumidor. A participação do país no mercado mundial de lácteos de US$ 283 bilhões aumentará para 2,5%, dos 1,9%, no mesmo período.

As cotas da UE que limitam a produção de leite e os altos custos de mão-de-obra e terras continuarão desestimulando os produtores, disse o secretário geral da European Dairy Association, em Bruxelas, Joop Kleibeuker. Além disso, os subsídios de exportação da UE têm feito com que as fazendas se tornem ineficientes.

Mesmo com os subsídios os produtores estão deixando a atividade, disse o produtor de leite dono de uma fazenda com 400 vacas em Dorset, na Inglaterra, Owen Yeatman. "O comércio mundial de lácteos está aumentando, mas nós estamos operando em um mercado não funcional", disse ele.

Custava em média US$ 54 para produzir 100 quilos de leite na Alemanha em 2003, de acordo com a International Farm Comparison Network, em Braunschweig, Alemanha. Isso pode ser comparado com o custo de US$ 34 nos EUA, US$ 18 na China, US$ 17 na Nova Zelândia e US$ 13 na Argentina.

As cooperativas pertencentes a produtores, como a Arla Foods, da Dinamarca, e a Valio Finnish Co-Op Dairie, na Finlândia, estão buscando novos fornecedores no exterior. A Arla, maior produtora de lácteos da Europa, neste mês deu início a uma joint venture de US$ 67 milhões com a China Mengniu Co., maior produtora de leite fluido da China. A nova companhia produzirá leite em pó na China e venderá produtos da Arla feitos na Europa para os chineses, de acordo com a Mengniu.

A China é o maior mercado de leite desidratado do mundo, consumindo 987 mil toneladas no ano passado, comparado com 643 mil toneladas nos EUA, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

"Existem crescentes oportunidades na Europa, mas existe uma enorme pressão nos preços", disse o diretor executivo da Arla, Jais Valeur. "Se você quer ter um negócio grande e sustentável, precisa buscar mercados locais, como estamos fazendo na China".

Os lucros da Mengniu - que significa vaca da Mongólia - aumentaram 34% na primeira metade do ano, para US$ 30,4 milhões. As ações da companhia, localizada em Hohot, Inner Mongolia, aumentaram 20% em Hong Kong, para HK$ 6,30 (81,21 centavos de dólar) nos últimos cinco meses. A companhia chinesa também fez esforços de marketing. Neste ano, a empresa gastou US$ 16 milhões para patrocinar uma versão feminina do programa de televisão norte-americano "American Idol" - semelhante ao programa Fama, exibido no Brasil pela Rede Globo -, que mostra uma disputa entre aspirantes a cantores. Na China, o programa foi promovido como "Concurso Super-Garota do Iogurte Fermentado da Vaca da Mongólia" ("The Mongolian Cow Sour Yoghurt Supergirl Contest")

Leite nas escolas

O Governo da China está estimulando o consumo de lácteos para melhorar a nutrição, de acordo com o Ministério da Agricultura do país, com sede em Beijing. O Governo começou a vender leite fresco para as escolas primárias em cinco cidades em 1999 e tornou o programa nacional no ano passado.

A produção de leite na China aumentou 25% no ano passado, de acordo com o Ministério da Agricultura. O consumo chinês médio é de 13 quilos de alimentos lácteos per capita por ano, comparado com o consumo de cinco quilos em 1994. A média mundial é de 100 quilos, de acordo com as Nações Unidas.

"A produção doméstica de leite na China está crescendo exponencialmente, mas a demanda está crescendo ainda mais rápido", disse o presidente do Conselho de Exportação de Lácteos dos EUA (U.S. Dairy Export Council - USDEC), Tom Suber. O USDEC, localizado em Arlington, Virgínia, tem trabalhado com oficiais chineses para aumentar os envios de produtos lácteos dos EUA à China, disse ele.

Exportações recordes dos EUA

As exportações de lácteos dos EUA aumentaram 39% para um recorde de US$ 1,5 bilhão no ano passado, de acordo com o conselho. O México e o Canadá foram os principais compradores, seguidos pela China e pelo sudeste da Ásia.

Os produtores aumentaram os rebanhos dos EUA em 52 mil cabeças, para 8,15 milhões de vacas, nos 12 meses terminados em 31 de agosto, segundo dados do USDA. A previsão é que os rebanhos chineses aumentem 29% para 11,5 milhões de cabeças neste ano, após um aumento de 30% em 2004. Na UE - incluindo todos os 25 países - o número de vacas leiteiras pode cair 1,7%, para 23,6 milhões.

As companhias de lácteos européias estão transferindo sua produção para produtos de alto valor, como queijos e fórmulas infantis para compensar o esperado declínio na produção, disse Wynne, da Fonterra. Eles também estão fazendo mais alimentos na China e outros mercados em crescimento.

"Para eles, provavelmente não é crítico se o leite vem da França, da Nova Zelândia ou da China", disse Wynne. "A Europa irá lentamente recuar em termos de sua participação no mercado mundial de lácteos".

Stocker disse que suas vacas no Monte Kawi produzem em média oito mil litros de leite por ano, mais que o dobro da média da Nova Zelândia. A Greenfields está gastando US$ 3 milhões para triplicar sua capacidade de processamento para 15 mil litros por hora, disse Stocker. A empresa também está construindo uma fábrica de creme de chanttily.

Em 13/10/05 - 1 Dólar de Hong Kong = US$ 0,12891
7,75720 Dólar de Hong Kong = US$ 1 (Fonte: Oanda.com)

Fonte: Bloomberg, publicado em China Knowledge Press, adaptado por Equipe MilkPoint
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