Com a decisão de cortar sua presença na América Latina a partir do desmantelamento da joint venture com a suíça Nestlé na Dairy Partners Americas (DPA), a cooperativa neozelandesa Fonterra, maior exportadora de leite do mundo, poderá facilitar o caminho para se concentrar mais na Ásia e encontrar no continente alternativas para amenizar seus problemas financeiros.
Segundo Laurent Freixe, vice-presidente da Nestlé para as Américas, tanto para a companhia como para sua parceira neo-zelandesa, a DPA deixou de ser central. Para ele, o desengajamento também faz parte do trabalho permanente da múlti suíça na revisão de suas atividades. "Uma joint venture é quase como um casamento, é preciso ter a mesma visão sobre o desenvolvimento da atividade no longo prazo", afirmou Freixe ao Valor. Nesse contexto, disse, do lado da Fonterra a opção foi por um reposicionamento em outras áreas geográficas, sobretudo na Asia.
As vendas da DPA, concentradas em iogurtes das marcas Nestlé, Ninho, Chandelle, Chambinho e Molico, entre outras, renderam R$ 1 bilhão no ano passado no Brasil. A joint venture opera com duas fábricas e emprega 1,4 mil funcionários no país. "Estamos avaliando opções para a continuação do negócio [DPA], e uma hipótese é evidentemente vendê-la e licenciar as marcas, que são da Nestlé", acrescentou o executivo.
Fontes que conhecem o segmento reforçaram que a Fonterra, pressionada por prejuízos na China, de fato não queria mais investir na parceria com a Nestlé no Brasil. A cooperativa neozelandesa investiu cerca de US$ 1 bilhão em fazendas para produzir leite na China, por exigência do governo chinês. Mas já amargou perdas de US$ 520 milhões em suas sete propriedades com 31 mil cabeças de gado nas Províncias de Hebei e Shanxi.
O plano inicial era que essas fazendas na China produzissem 1 bilhão de litros de leite por ano até 2020. Em 2018, a produção somou apenas 273 milhões de litros, em queda de 23% na comparação com 2017. A estratégia agora é, em vez de vender mais leite, centrar o foco em produtos com mais valor agregado. Nesse processo, não está descartada a venda de fazendas.
A dívida total da Fonterra alcança US$ 4,1 bilhões. A empresa se comprometeu com investidores a reduzir esse endividamento em cerca de US$ 500 milhões neste ano fiscal, mas continua sob a ameaça de ter rebaixada sua nota de crédito. Na América Latina, a cooperativa neozelandesa registrou revezes. Na Venezuela, acabou vendendo em março passado, por US$ 16 milhões, sua participação na joint venture Mirona, negócio com o qual perdeu US$ 126 milhões.
No Chile, sua subsidiária Prolesur está sob investigação após uma disputa entre diretores. E no Brasil, tenta vender sua participação de 51% na DPA. A cooperativa está se retraindo em vários mercados para simplificar seu portfólio global. Também para cortar custos, vai fechar uma fábrica na Austrália. Na própria China, quer se desembaraçar de sua fatia de 19% numa companhia de leite em pó.
As informações são do jornal Valor Econômico.