Chile: Setor leiteiro volta a receber investimentos

Publicado por: MilkPoint

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Laticínios à venda, produtores protestando frente às plantas receptoras e um ânimo muito baixo era o panorama do setor de lácteos do Chile há um ano. Não era para menos. Os investimentos que os produtores tinham realizado durante a última década e que permitiram duplicar a produção chilena estavam indo por água abaixo.

Os baixos preços internacionais nos últimos anos foram transferidos pelas empresas chilenas a seus fornecedores. Muitos produtores tiveram que vender seus animais. A situação ficou ainda pior com a quebra da Parmalat no final de 2003 e sua violenta redução na recepção de leite, que fez com que muitos produtores saíssem em busca de outras plantas receptoras, baixando, desta forma, o preço do leite em 10 pesos (1,62 centavos de dólar).

No entanto, atualmente o panorama do setor está bem diferente. Nos últimos meses foram feitos vários anúncios de novos investimentos no setor leiteiro. Um deles é a negociação do Grupo Bethia - que comprou a filial chilena da Parmalat - para adquirir a imensa fazenda Rupanco, a maior produtora de leite do Chile. O Grupo também comprou cerca de dois mil hectares na região de São Carlos de Purén, VIII Região. Além disso, tanto a Soprole - subsidiária da neozelandesa Fonterra - como os produtores de Osorno anunciaram a construção de plantas receptoras na X Região. Também o empresário Sabastián Piñera, sócio minoritário da Loncoleche, e que se mostrou interessado em comprar a Parmalat Chile, anunciou seu interesse em entrar com mais força no setor leiteiro.

Alta de preços

A explicação do "re-encantamento" dos investidores em um setor com fama de complicado está dentro e fora do Chile. Buscando sempre nichos de boa rentabilidade, os investidores notaram que o setor leiteiro apresenta várias tendências que garantem um cenário positivo para os próximos anos.

No caso daqueles que estão interessados em investir em plantéis leiteiros, existe a tranqüilidade de que a entrada do Bethia na Parmalat Chile estabilizará a demanda por leite e obrigará o restante das empresas a subir os preços pagos a seus fornecedores. De fato, o anúncio da compra da filial chilena da multinacional italiana fez com que o preço do leite aumentasse imediatamente 10 pesos (1,62 centavos de dólar) por litro.

Segundo a Federação Nacional dos Produtores de Leite do Chile (Fedeleche), nos quatro primeiros meses do ano o rendimento dos produtores aumentou 22,72% com relação ao mesmo período do ano anterior, para 61 bilhões de pesos (US$ 98,80 milhões). Isto resultou do aumento de 17,25% no preço do leite ao produtor e ao aumento de 4,65% no volume de leite entregue às plantas.

Além desta situação pontual, existem razões para se pensar que o preço se manterá no futuro devido a uma forte demanda por matéria-prima. Além da Parmalat, duas novas plantas serão construídas no Chile. Uma será pela Lácteos Patagónicos, empresa formada por sócios da Aproleche Osorno, no final do ano, com custos de US$ 14 milhões. Esta indústria terá uma capacidade de processamento de 350 mil litros diários, similar ao da Parmalat em seus melhores períodos. A segunda será a construção de uma planta de secagem pela Soprole na X Região. O investimento pode chegar a US$ 20 milhões e permitirá fabricar leite em pó para os mercados internacionais.

Mercado externo

O mercado externo também apresenta boas notícias, tanto para o produtor como para as indústrias. Os subsídios dos países desenvolvidos a seus produtores, uma das principais distorções ao mercado leiteiro internacional, tendem a diminuir. Esta redução de subsídios não é um elemento conjuntural, mas sim, uma tendência de longo prazo.

Outro elemento externo que poderá beneficiar o setor leiteiro do Chile se refere aos Tratados de Livre Comércio (TLC) que o país fez nos últimos anos, que podem aumentar as possibilidades de exportação. No caso do acordo com os EUA, a cota inicial é de 3,5 mil toneladas (1,432 mil toneladas de queijos e 2,069 mil toneladas para o resto) com um crescimento composto de 7%. As tarifas fora da cota também se reduzirão gradualmente. No caso da União Européia (UE), o acordo é de somente 1,5 mil toneladas de cota sem tarifas, com um crescimento composto de 5%.

A isso se soma o fato de que a IX e a X Região, onde se produzem 80% do leite do Chile, reúnem condições agroeconômicas (áreas relativamente baratas para padrões internacionais, amplos pastos e alta pluviosidade) que as colocam dentro do terço inferior com relação aos custos de produção a nível mundial. Além disso, há espaço para crescimento de produtividade. Há espaço para melhoramento genético e de forragens.

Só o início

A conjunção destes elementos leva a crer que estes investimentos fazem parte de um fenômeno ainda maior. "No Chile somente estão presentes diretamente duas das 14 maiores multinacionais mundiais, de forma que é possível que cheguem mais", disse o presidente da Fedeleche, Ricardo Michaelis.

Além disso, até o final desta década, a Fedeleche projeta que as exportações deverão superar os US$ 500 milhões - frente aos US$ 70 milhões que se esperam para 2004. "O Chile reúne condições positivas que poucos países têm. Por isso, devemos nos dirigir a mercados que estão dispostos a pagar mais por produtos de qualidade superior", disse Michaelis.

Em primeiro lugar, a ausência de doenças como febre aftosa e doença da 'vaca louca' permite oferecer um produto com melhor sanidade. Além disso, o Chile tem a vantagem de ter optado por uma produção com baixa estacionalidade. Isso implica que, diferentemente da Nova Zelândia, que foi obrigada a transformar rapidamente seu leite em commodities devido à sua produção para o inverno, o Chile pode se transformar em um fornecedor de produtos com maior valor agregado. Devido a isso, Michaelis disse que boa parte das exportações leiteiras chilenas será de queijos, já que os supermercados dos países desenvolvidos exigem uma produção contínua através do ano e estão dispostos a pagar mais por ela.

Em 13/07/04 - 1 Peso Chileno = US$ 0,001620

617,400 Peso Chileno = US$ 1 (Fonte: Oanda.com)


Fonte: El Mercurio, adaptada por Equipe MilkPoint
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