O crescimento por volta de 11% das exportações de leite em julho, acompanhado por diminuição de 45% das importações, frente a junho, chegaram a amenizar o total disponível ao mercado interno, mas o acréscimo de quase 12% do volume de leite captado em julho, na média dos sete principais estados produtores, teve mesmo forte impacto sobre as cotações em todo o País.
Na média de agosto, segundo o Cepea, o leite tipo C esteve em R$ 0,5088/litro, contra R$ 0,5675 em julho e R$ 0,5930 em junho. As quedas acentuadas dos dois últimos meses fizeram com que a média de agosto se tornasse semelhante ao valor deflacionado de maio/04 (deflação pelo IPCA, julho/05), o que significa perda de todas as elevações conseguidas nos últimos 15 meses.
Para Marcelo Pereira de Carvalho, coordenador do MilkPoint, R$ 0,50 era um preço de equilíbrio para exportações, pelo menos nas cotações de julho e início de agosto. "O problema é que, nos últimos dias, aumentaram as ofertas a preços mais baixos no mercado internacional", disse. "Hoje, há leite da Nova Zelândia sendo ofertado a US$ 2.200 por tonelada na África, o que daria US$ 2.050 no Brasil". Com isso, as exportações ainda não são competitivas, pelo menos no leite em pó integral.
Segundo o CEPEA, os preços do leite vêm se recuperando desde março do ano passado, e isso tem motivado investimentos na atividade, além de atrair "novos produtores". O resultado é mais oferta desses "novos no mercado de leite" e também ganho de produtividade - tanto em litros por hectare quanto em litros por vaca - daqueles tradicionais no setor, o que representa muito mais leite à disposição nos laticínios/cooperativa. Mesmo com a estiagem de junho e julho em várias regiões, produtores conseguiram sustentar o crescimento do volume.
A indústria processadora, por sua vez, enfrenta dificuldades em bancar tamanho aumento de produção e também para manter estoques de lácteos, uma vez que o custo do capital é muito elevado. Uma das alternativas para evitar essa situação poderia ser a concessão de crédito a laticínios/cooperativas para que pudessem administrar seus estoques. Estudos de transmissão de preços feitos pelo Cepea mostram que, muito provavelmente, uma sustentação dos preços de lácteos seria transferida também para o produtor. Isso se daria, sobretudo, pela concorrência que existe "por produtores", mesmo em época de aumento da oferta.
Pesquisadores do Cepea destacam ainda que, em agosto, vários laticínios já aumentaram suas ofertas de leite em pó e manteiga com vistas à demanda da indústria de alimentos que eleva a produção de sorvete e panetone no final do ano. Isso pode sinalizar que, nos próximos meses, as quedas podem ser amenizadas por essa diminuição dos estoques de alguns derivados.
A verdade é que, neste ano, a safra começou mais cedo e muito mais intensa. No ano passado, o período de safra foi de setembro a janeiro deste ano, com o valor médio recuando cerca de 7% em todo o período. Neste ano, contudo, somente em julho e agosto, os preços já caíram 14,2%, conforme dados do Cepea.
Na média dos sete principais estados produtores, o volume de leite captado em julho aumentou 11,8%. No Rio Grande do Sul, onde as chuvas foram abundantes em junho/julho, a oferta cresceu expressivos 20%; em Goiás, o aumento foi de 16% e em São Paulo 13%. Na Bahia, produtores ofertaram 9,5% a mais em julho, mas os preços, neste estado, se mantiveram praticamente estáveis. Esse comportamento atípico reflete a ação do governo Federal, através do programa Fome Zero. Essa iniciativa paga R$ 1,00 por litro de leite pasteurizado, sendo R$ 0,50 destinado ao produtor e R$ 0,50 ao laticínio.

Fonte: Cepea/Boletim do Leite
Notas: Preço bruto é o pago pelos laticínios/cooperativas, e preço líquido, o efetivamente recebido pelo produtor. Os valores acima são médias ponderadas.
Fonte: Equipe MilkPoint