Capal: menor poder, mas maior preço ao produtor

Publicado por: MilkPoint

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Ter uma participação pequena em um grande negócio ao invés de controlar um negócio pequeno. Essa foi a decisão que a Capal, Cooperativa Agropecuária de Araxá Ltda. tomou no ano passado, ao se tornar, a partir do início desse ano, uma associada da Itambé, maior cooperativa de lácteos e o segundo maior laticínio do país. "Fomos porque acreditamos na necessidade de termos cooperativas de grande porte, bem estruturadas, para competir globalmente", diz Alberto Adhemar do Valle Junior, presidente da Capal, vice-presidente da Ocemg (Organização das Cooperativas de Minas Gerais) e, até o mês passado, presidente do Silemg (Sindicato dos Laticínios de Minas Gerais).

Além disso, com a construção da fábrica da Itambé em Uberlândia, na região de atuação da Capal, Junior e sua diretoria constataram o óbvio e resolveram enfrentar a situação: era se associar ou ter de competir, sem ter unidade industrial, com uma empresa várias vezes maior. "Competir não era uma solução viável", admite. Nessa época, a empresa estava captando 100.000 litros diários de leite e havia a pressão para industrialização. "Não tínhamos escala suficiente para dar esse passo e teríamos que pagar um preço mais baixo para viabilizar a empresa", admite, lembrando que várias cooperativas hoje têm essa situação.

Com esse cenário, não seria possível cumprir a função básica da cooperativa: melhorar a remuneração do produtor. A associação com a Itambé, além de evitar uma situação de competição que muito provavelmente seria desastrosa para a Capal, permitiu o enxugamento de custos e redução da infra-estrutura a ponto de gerar uma economia de R$ 0,05 por litro de leite, em plena safra, em janeiro. "Esse era o custo da nossa intermediação", explica Junior. Hoje, Com a cooperativa se tornando "virtual", o produtor da região recebe um dos melhores preços do país, segundo Junior.

O processo, no entanto, não foi fácil. Houve pressão, inclusive da comunidade. Até a interrupção da pequena produção de 3.000 litros de leite pasteurizado por dia sofreu resistência. "Havia o sentimento de que a cooperativa era da cidade e estava sendo vendida a Itambé", lembra. "Na verdade, o que ocorreu é que passamos a ser uma das donas da Itambé", explica Junior.

Ao ser perguntado sobre como a diretoria se sente hoje, após 8 meses de associação, Junior é taxativo: para ele, não teve nada melhor para o produtor. "Aliás, tínhamos o interesse de nos associarmos antes, mas a Itambé, em outras oportunidades, não tinha a mesma abertura que teve dessa vez", informa.

A decisão que a Capal tomou não costuma ser o que a maioria das cooperativas e mesmo empresas do país fazem. Segundo o professor Stephen Kanitz, uma das razões pelas quais o Brasil não tem grandes empresas multinacionais é que o projeto de poder se sobrepõe ao projeto econômico. Ele diz que maximizar o retorno econômico não é necessariamente o objetivo do empresário brasileiro, como a doutrina capitalista faz crer. Por isso, atitudes como a da Capal são exceção, assim como a decisão da Ambev de ter uma participação minoritária na cervejaria belga Interbrew, ao invés de trilhar o caminho-solo.

Histórico

A Capal tem uma história parecida com muitas cooperativas do país. Foi criada para comercialização queijo tipo minas, mas quando as multinacionais chegaram à região, em 1964, não conseguiu acompanhar. Acabou virando uma cooperativa de consumo, com um supermercado deficitário e um posto de gasolina. A situação financeira, em 1989, quando a equipe atual assumiu a cooperativa, tendo Fausto de Ávila como presidente, era muito ruim. "Estávamos muito endividados", lembra Junior, que é economista e administrador de empresas. Na época de inflação, o produtor comprava tudo a prazo, com 45 dias para pagar, e a cooperativa arcava com essa perda.

Com um trabalho baseado no fechamento das atividades deficitárias, na redução de custos e na prestação de serviços de comercialização ao produtor, a empresa foi, aos poucos, se arrumando. O leite voltou a ser recebido pela cooperativa em 16 de maio de 1991 e a cooperativa investiu em misturadores de ração e sal mineral, visando a prestação do serviço ao cooperado e o balizamento de preços. "Temos prestado um bom serviço nessa área", comemora Junior.

Futuro

Com o aumento da captação de leite para 150.000 litros diários, as outras atividades da cooperativa se desenvolvem. A fabricação de ração e sal mineral aumentou 40% no último ano, a cooperativa vai aumentar a capacidade de estocagem de café de 60.000 para 160.000 sacas e a capacidade de estocagem de grãos de 12.000 para 36.000 toneladas. Sobre o futuro da cooperativa nesses setores, Junior reproduz o posicionamento que teve com o leite. "Vejo a cooperativa como defensora do produtor. Se conseguirmos agregar valor e transferir a renda diretamente ao produtor, poderemos vir a ser virtuais também no café", pondera.

No leite, a cooperativa mantém o foco na assistência técnica e na proximidade com o produtor. "Esse é um aspecto importante, à medida que as cooperativas crescem", lembra Junior. Para ele, a cooperativa central não pode perder o contato com o produtor e associadas como a Capal fazem esse papel, contribuindo para fidelidade do cooperado.

O desenvolvimento do cooperado é outra frente importante. A Capal é uma das incentivadoras do Projeto Educampo, do Sebrae/MG e inclusive subsidia parte do programa. "Temos resultados muito bons, de pequenos produtores que cresceram e são competitivos graças ao Educampo", lembra Junior.

Para Junior, o caminho escolhido pela Capal pode e deve ser o de muitas outras cooperativas de pequeno e médio porte. "Minha visão é que temos de ter uma única grande cooperativa no Brasil, apesar das dimensões do país e das diferenças", reflete. Mesmo que isso não ocorra, é fundamental que existam cooperativas de porte, com escala e gestão profissional. Para ele, a Itambé está seguindo esse caminho. "O presidente é um visionário, tem feito a empresa crescer com cautela", diz. Para Junior, práticas como o abono natalino (bonificação extra que os produtores têm recebido em função da fidelidade) tem atraído muitos produtores ao sistema. "Acreditamos nisso e achamos que tomamos a decisão correta", finaliza.

Fonte: Equipe MilkPoint
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Everton Gonçalves Borges
EVERTON GONÇALVES BORGES

IBIÁ - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 20/09/2005

Desde o inicio da década de 70, conheço e tenho relacionamento com a Capal.



Convivi e acompanhei o desenvolvimento da mesma, principalmente quando expandiram e passaram a trabalhar com leite na gestão dos empreendedores economistas Fausto de Ávila e engenheiro Pedro Aguiar. Sei que, inicialmente não foi fácil, mas o profissionalismo, a dedicação, vontade e o conhecimento empresarial destes homens foi acima das dificuldades e conseguiram vencer. Outras diretorias vieram, sempre com as presenças do Fausto e do Pedro Aguiar, novos companheiros: Célio Borges, Vitor Hugo, Djalma Guimarães, Elvande Botelho Gustavo Aguiar, Haroldo Caixeta e outros. O Jovem economista e administrador de empresas Alberto Ademar do Valle (Junão) foi alçado à presidência da Cooperativa sempre com uma visão de 1º mundo, ou seja, que o crescimento dos cooperados dependia e depende de uma grande cooperativa, e que se ficasse com a vaidade e até alguns interesses particulares como a maioria dos dirigentes das pequenas cooperativas, a curto prazo tudo bem, mas a médio longo prazo a tendência é sucumbir. Fizeram o contrário, estão vivendo pior para a diretoria, e para a Capal em curto prazo, mas enxergaram o bem dos cooperados e da Capal a médio longo prazo, pensaram exclusivamente no cooperativismo, sem interesses próprios, portanto, nossos parabéns aos mesmos.



Estão no caminho de outros que hoje ou amanhã terão que trilhar, ou sucumbir.



Nossos parabéns ao Fausto, Junão e demais diretores da Capal, por esta visão de negócio.
José Almeida de Oliveira
JOSÉ ALMEIDA DE OLIVEIRA

MAJOR ISIDORO - ALAGOAS - EMPRESÁRIO

EM 20/09/2005

Parabenizo a Capal pela iniciativa ao tempo em que o sentido foi o de proteger o produtor de leite.





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