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Queijos Finos: analisando a identidade de seus consumidores

POR GECOM - UFLA

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 14/05/2013

7 MIN DE LEITURA

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Há apenas algumas décadas, compreender a “identidade” dos consumidores não estava nem perto do centro dos debates acadêmicos e empresariais, permanecendo unicamente um objeto de meditação filosófica. Atualmente, no entanto, a “identidade” é o “papo do momento”, um assunto de extrema importância e em evidência. Para definir a temática em questão, de uma forma bem simplória, a identidade pode ser exposta como a noção que um indivíduo tem de si mesmo. Neste mundo globalizado, a sociedade parece um baile à fantasia onde as identidades são criadas, experimentadas e usadas à noite, sendo depois trocadas para o baile seguinte. As aparências, as imagens construídas sobre a superfície do corpo do indivíduo, os espaços onde se vive, as maneiras e a voz deste, transforma-se numa forma determinante de conhecer e identificar a si próprio e uns aos outros.

Assim, o significado do termo “identidade”, de maneira pontual, é a resposta ao seguinte questionamento: “Quem sou eu?”. A identidade do sujeito, porém, depende não somente de suas percepções sobre si mesmo, onde o olhar do outro, co-habitante da sua sociedade, questionará “Quem é ele?”, atuando essa segunda resposta na construção da primeira. O “eu” não existe sem o respaldo que o “outro” o atribui, o que acaba gerando a grande preocupação desnorteante que movimenta os indivíduos, preocupados constantemente em edificar uma imagem que proporcione a sua distinção social. Entretanto, essa identidade configura-se num estado de fluidez, é líquida, ocorrendo assim o fato de que o indivíduo possui não somente uma, mas identidades múltiplas com a finalidade de que este possa se adequar às variadas situações e necessidades que o dia a dia em sociedade lhe exige.

Nos últimos anos, muitas pesquisas têm sido dedicadas a investigar a relação entre práticas de consumo e a formação da identidade, deste modo, o questionamento que moveu este estudo foi: Quem é o consumidor de queijos finos? Como ele se vê? Como ele acredita ser visto pelas demais pessoas e qual o papel que ele considera ter na sociedade? A partir de várias entrevistas em profundidade feitas com 24 consumidores de queijos finos residentes nas cidades de Belo Horizonte, Juiz de Fora, Lavras e Rio de Janeiro, onde trinta e um por cento (31%) eram membros da classe C (renda de R$ 2.488,00 a R$ 6.220,00) e sessenta e nove por cento (69%) da classe B (renda de R$ 6.220,00 a R$ 12.440,00), foram obtidas as seguintes características do consumidor do queijos finos: ele é uma pessoa ousada, que tem polidez, sofisticação, poder aquisitivo, que prefere os queijos nacionais e que faz deste consumo uma forma de criar e manter vínculos sociais.

Quando estes consumidores foram questionados sobre o que é ser um consumidor de queijos finos, grande parte dos respondentes caracterizou esse consumidor como sendo uma pessoa disposta a experimentar coisas diferentes das habituais, ou seja, é ousado. Segundo eles, somente pessoas abertas a provarem os diversos sabores, muitas vezes peculiares presentes neste tipo de queijo, é que podem ser consideradas partes deste seleto grupo de apreciadores. Esta perspectiva pode ser percebida na seguinte fala:

“... é uma pessoa que gosta de experimentar coisas diferentes, que gosta de ousar um pouquinho, sair do convencional sabe. Ele tem que ter isso, essa disposição em experimentar, até porque eu já experimentei vários queijos finos que eu achei horríveis e que para o meu paladar não foram bacanas, mas eu estava disposta a experimentar e conhecer o diferente.”(Mulher de 37 anos)

Ser uma pessoa polida, educada, é outra característica identitária do consumidor de queijos finos segundo os respondentes do estudo. Esse é um elemento primordial que deve compor a identidade deste indivíduo, já que para eles o consumo desse tipo de produto não é um consumo trivial, utilizado para se “matar a fome”, deve-se comer poucas porções e moderadamente. Algumas falas retratam com clareza esse posicionamento:

“... os queijos finos devem ser consumidos com moderação, sem ser em abundância, porque ninguém vai consumir queijos finos como se come arroz com feijão...” (Homem de 36 anos)

“é preciso que o consumidor se comporte diferente, de uma forma mais polida. Assim como quando se toma vinho e se comporta diferente de que quando se toma cerveja.” (Mulher de 32 anos)

Sem dúvidas o consumidor de queijos finos é tido como uma pessoa sofisticada. Essa sofisticação é associada ao requinte, a uma fineza e à capacidade de se ter bom gosto. A decisão de se escolher consumir esse tipo de produto já cria uma imagem de sofisticação para esse consumidor, porque fazer a opção entre um queijo fino em detrimento de qualquer outro gênero alimentício considerado simbolicamente de menor valor agregado quando comparado com este, indica que você sabe ter boas escolhas, rejeitou o comum e escolheu o requinte.

“... é quem tem um paladar um pouco mais requintado e mais apurado, não é todo mundo que gosta, né. Não é para qualquer paladar porque pelo menos os queijos que eu consumo são queijos com aromas e sabores mais fortes, mais diferenciados, não é um queijinho de minas apenas”. (Mulher de 34 anos)

“... é uma pessoa refinada, que gosta do que é bom...” (Homem de 65 anos)

Os consumidores de queijos finos se consideram também pessoas de status, com alto poder aquisitivo por poder consumir produtos de preços tão elevados no mercado. Porém, afirmam também que a nova classe média está ganhando espaço neste seleto grupo de apreciadores deste produto, como se pode observar na seguinte fala:

“o consumo de queijos finos está bem associado com classe social, com aquela classe que a pessoa pode consumir, eu diria que a partir da classe média, já que hoje em dia está tudo mais fácil, depois da abertura econômica os importados são mais acessíveis também, mais baratos.” (Homem de 65 anos)

Grande percentual dos entrevistados tem grande apreciação pelos queijos nacionais, uma constatação importante para a indústria brasileira.

“... valorizo muito o nacional, acho que temos iguais condições de competir com os estrangeiros.” (Homem de 52 anos)

“... como queijos nacionais como quem come queijos importados, sem nenhum problema.” (Mulher de 39 anos)

Ser um indivíduo que estima se reunir com amigos e familiares para consumir queijos finos também é uma das particularidades deste consumidor. Eles valorizam as oportunidades de integração social que são criadas nestes momentos, afirmando que ocorre a criação de vínculos de amizade e muitos momentos de descontração entre os participantes, onde a possibilidade de se “bater um bom papo” e se sentir parte daquele grupo, tido como seleto, é o que importa.

“Gosto [de consumir queijos finos] justamente por causa do programa, da reunião, do momento que ele propicia. Lógico que eu gosto do gosto sim, mas mais importante é o momento que ele propicia.” (Homem de 41 anos)

“...consumir queijos finos faz com que sejam criados vínculos entre as pessoas sim, porque você vai sentar ali e ir comendo um queijinho, acaba conversando e estar reunido ali para degustar uma coisa gostosa gera uma união. Eu gosto de fazer essas reuniõezinhas, uma coisa é você falar: “Ah, vamos lá em casa”, mas não é para nada... agora quando falamos: “Vamos lá comer um queijo fino”, aí sim a pessoa já vai mais animada.” ( Mulher de 37 anos)

Evidenciou-se com esta pesquisa a importância do produto na construção da identidade de seus consumidores. Os queijos finos acabam agindo como uma das peças do quebra-cabeça que valem à pena ser utilizadas para agrupar e reagrupar a montagem de imagens agradáveis sobre o seu eu. Porém, um grande papel social pode ser atribuído a este produto. É o papel de promover a integração da sociedade. Diante das várias narrativas dos entrevistados afirmando que o consumo ideal de queijos finos é aquele que ocorre quando se está em grupo, seja de amigos ou de familiares, percebe-se o importante papel simbólico deste tipo de queijo no fortalecimento desses laços. A promoção de momentos sociais agradáveis, unindo as pessoas, faz diminuir uma incômoda característica que vem se agigantando nos dias atuais, a do afrouxamento dos vínculos entre os indivíduos. A sociedade, com os recursos tecnológicos muito mais acessíveis a todos, vem sofrendo fissuras nesses elos, onde os indivíduos preferem passar a maior parte de seu tempo “passeando” pelas redes sociais da internet do que reservar alguns minutos para um bom papo com um colega de trabalho, ou um familiar que está ali ocupando o mesmo espaço físico que o seu. Ao mesmo tempo em que as pessoas estão perto umas das outras, elas também estão longe, isoladas, cada vez com mais freqüência e intensidade, daqueles que os rodeiam fisicamente. Os queijos finos permitem que os indivíduos remem contra essa maré, promovendo e apreciando uma boa conversa, beliscando um saboroso petisco.

Cintia Loos, Pesquisadora do GECOM e Mestre em Administração

GECOM - UFLA

Este é o BLOG no Milkpoint do Grupo de Estudos em Marketing e Comportamento do Consumidor (GECOM) da UFLA. Aqui você irá encontrar artigos relevantes sobre o mercado e sobre os consumidores de leite e derivados!
http://www.gecomufla.com/

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