Marcos Veiga dos Santos
Os patógenos ambientais são considerados invasores oportunistas da glândula mamária. Normalmente, os patógenos ambientais invadem a glândula mamária, multiplicam-se, desencadeiam uma resposta imune no hospedeiro e são rapidamente eliminados. Os principais patógenos ambientais da mastite podem ser tanto bactérias gram-positivas (S. uberis e S. dysgalactiae), quanto bactérias gram-negativas (E. coli e Klebsiella spp.).
A duração de infecções intramamárias (IIM) causada por patógenos ambientais varia entre os microrganismos causadores e pode ser associada com o grau de adaptação ao hospedeiro. Alguns patógenos ambientais, como a E. coli são totalmente oportunistas e a resposta imune da vaca normalmente elimina estes patógenos após um breve período de quadro clínico moderado. Estudos sugeriram que patógenos ambientais causadores de mastite como S. uberis e Klebsiella spp., podem estar mais adaptados ao hospedeiro. Estes agentes podem causar casos clínicos leves que posteriormente aparentam estar curados, porém, apenas retornaram para um quadro subclínico.
A mastite ambiental é caracterizada pelo aumento do número de casos clínicos e não apresenta alterações significativas na CCS do leite de tanque. A chave para o controle da mastite ambiental é reduzir a exposição das vacas aos patógenos presentes no ambiente. Espécies bacterianas ambientais são microrganismos quimiotrópicos que requerem material orgânico como fonte de nutrientes. Coliformes e estreptococos ambientais não são capazes de sobreviver na pele do teto por longos períodos de tempo. A alta contagem de coliformes e estreptococos ambientais na pele e esfíncter do teto é característica de contaminação recente, provavelmente devido ao ambiente em condições inadequadas de higiene. Vacas permanecem deitadas de 12 a 14 horas por dia, e os tetos estão em contato direto com a cama ou outros materiais onde descansam. Populações de bactérias na cama ou outros materiais são positivamente correlacionados com o número de bactérias no esfíncter do teto e com o aumento da incidência de mastite clínica.
A redução da exposição aos patógenos ambientais da mastite é difícil devido às limitações estruturais das áreas onde as vacas são alojadas. A intensificação dos sistemas de alojamento de vacas leiteiras normalmente resulta na exposição dos tetos a uma grande variedade de potenciais patógenos da mastite. O manejo do esterco, o tipo de cama, as dimensões do estábulo e a densidade animal podem ter grande impacto sobre a exposição do úbere aos potenciais patógenos da mastite. Camas compostas de material inorgânico apresentam menor teor de umidade e menor concentração de nutrientes para a multiplicação microbiana. O material inorgânico mais recomentado para a cama de vacas leiteiras com o objetivo de controle da mastite ambiental é a areia lavada. Comparada com materiais orgânicos como serragem, esterco reciclado, palha e terra, a areia lavada contém aproximadamente 100 vezes menos patógenos da mastite por grama de cama. No entanto, com o aumento do acúmulo de material orgânico e umidade na cama, decorrente da reutilização da areia, ocorre rápido aumento de patógenos causadores de mastite.
Mesmo nos materiais orgânicos com baixa carga de patógenos antes da utilização, sua população aumenta até 10.000 vezes em algumas horas após seu uso nas camas das vacas. Independentemente do tipo de material utilizado, a remoção da umidade e sujidades do terço final da cama, onde os úberes estão em contato direto com o piso, reduz significativamente as contagens bacterianas. Os currais devem ser limpos no mínimo duas vezes ao dia, quando os animais são levados para ordenha.
A superlotação aumenta a quantidade de fezes nos galpões e corredores. As fezes acumuladas nestes locais ficam aderidas nos cascos e pernas das vacas, e posteriormente, contaminam as camas com bactérias fecais. Outros fatores que afetam o risco de mastite ambiental são temperatura e umidade. As taxas de crescimento de coliformes e estreptococos ambientais aumentam em estações quentes e chuvosas. Estudos apontaram que existe alta correlação entre as contagens bacterianas da cama e a temperatura ambiental e a umidade relativa do ar. Além disso, a superlotação das instalações pode exacerbar os efeitos negativos do calor e umidade. Conforme a densidade de vacas aumenta nas instalações para vacas secas e parição, principalmente em locais de sombra e entorno de cochos e bebedouros, ocorre acúmulo de material orgânico úmido que deve ser removido e drenado, a fim de propiciar um ambiente seco para as vacas.
Em sistemas de pastagem, a carga de patógenos ambientais normalmente é reduzida em comparação com sistemas de confinamento total. Solos cobertos com plantas forrageiras em piquetes de pastagem normalmente apresentam contaminação mínima com patógenos ambientais da mastite. No entanto, a exposição dos tetos às bactérias aumenta quando a oferta de pasto nos piquetes diminui devido à superlotação e manejo inadequado de rotação de piquetes. A radiação solar e a manutenção de um ambiente seco reduzem a carga bacteriana em pastagens e piquetes destinados às vacas secas ou em período pré-parto.
A manutenção da higiene dos piquetes de maternidade deve ser visto como prioridade em um programa de controle de mastite ambiental. As práticas de manejo destinadas à redução da exposição do úbere aos patógenos da mastite nas áreas de vaca seca e maternidade são similares àquelas utilizadas nas instalações de vacas em lactação. Tais áreas devem ser limpas e drenadas para evitar o acúmulo de umidade e matéria orgânica.
A higiene do ambiente de ordenha é a base para o controle de mastite contagiosa e pode auxiliar na prevenção da mastite ambiental. O uso de soluções desinfetantes para imersão dos tetos pré-ordenha auxilia na prevenção de novos casos de mastite causada por coliformes e estreptococos ambientais. A maioria dos germicidas destroem efetivamente e rapidamente microrganismos presentes na pele dos tetos por ação química ou biológica. No entanto, a persistência da atividade germicida é limitada e neutralizada pelo acúmulo de material orgânico como leite, fezes ou barro.
*Doutorando do Programa de Pós-graduação em Nutrição e Produção Animal, FMVZ-USP.
Fonte: Tomazi, T., Gonçalves, J. L., Santos, M. V. Controle da mastite em rebanhos leiteiros de alta produção. X Congresso Brasileiro de Buiatria, 2013.