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Turismo rural e produção de derivados: caso Eisland de sucesso

POR JULIANA VIEIRA PAZ

ESPAÇO ABERTO

EM 19/07/2022

12 MIN DE LEITURA

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O Sítio Aconchego, localizado em Santo Antônio do Pinhal, já está na produção leiteira há 30 anos. Fundada pela família Thielemann e hoje administrada pela família Galvão, a fazenda já teve como produto final leite tipo A envasado e atualmente produz sorvetes artesanais com loja na própria fazenda e na cidade de São Paulo. Marcos Galvão,  responsável pela produção leiteira, contou para a MilkPoint a trajetória até aqui e deu dicas para quem está e quer se manter na produção de leite.

 

Um pouco da história da Eisland

A propriedade produtora do leite que dá origem aos sorvetes da sorveteria Eisland foi fundada quando o casal Heinz e Cláudia Thielemann se aposentou e resolveu ir para o meio rural. Apaixonados pela raça Jersey, os Thielemann começaram a criação dos animais objetivando produzir leite tipo A envasado na própria fazenda. Porém, após 4 anos, perceberam que o empreendimento não teria sucesso e, posteriormente a estudos e alguns meses não tendo destino para o leite produzido, ele passou a ser destinado à produção de sorvetes artesanais na própria fazenda, fundando a sorveteria Eisland, que em alemão significa “Terra Gelada” (Eis = gelo; Land = terra). 

A produção de sorvetes Eisland começou com um sorveteiro italiano contratado pelos Thielemann , época em que apenas o leite e o creme de leite eram produzidos na fazenda e os demais insumos eram importados da Itália. A produção era pequena e local de um sorvete de grande qualidade.

Foi então que as histórias das famílias Thielemann e Galvão se cruzaram: Marcos, executivo por 24 anos, procurava junto com  Renata, que também trabalhava no mundo corporativo, maior qualidade de vida e decidiram se mudar para Santo Antônio do Pinhal, onde viraram vizinhos e amigos do casal Heinz e Cláudia Thielemann. Cerca de 2 anos depois da mudança, Renata iniciou a produção de chocolates finos na propriedade dos Galvão, sendo uma produção pequena com consumo local, semelhante à sorveteria Eisland. 

Em um certo momento, Heinz procurou Marcos e comentou que iria se aposentar da fazenda, estava vendendo seus empreendimentos e ofereceu uma pequena sorveteria que tinha na cidade para o Marcos, que aceitou a proposta por acreditar que seria interessante para a chocolateria estar associada ao sorvete. A resposta foi positiva: em um ano triplicaram as vendas. Para Heinz, que queria desacelerar para aposentar, o aumento das vendas não era o objetivo e, portanto, ofereceu toda a fazenda para o Marcos.

Foi há cerca de 7 anos que a fazenda foi arrendada pelo casal Marcos e Renata Galvão e sua forma de produção de sorvetes mudou. Após a aquisição,  Renata se tornou sorveteira e os sorvetes foram reformulados. Atualmente, a base do sorvete é produzida na própria fazenda e a saborização é realizada com matéria-prima brasileira, sendo 80% produzida na própria propriedade. “Produzimos leite, frutas, e o que não conseguimos produzir vêm de outras propriedades parceiras que produzem e vendem para nós produtos com menor quantidade ou sem agrotóxicos. Não somos orgânicos e não temos esse objetivo; o nosso lema é ‘ser o mais natural que conseguimos e podemos ser’”, disse Marcos.

Todos os animais da propriedade são puros de origem (PO) registrados na Associação dos Criadores de Gado Jersey do Brasil, por onde as doses de sêmen utilizadas são compradas, visando sempre melhorar a genética da raça no Brasil. “Antes a gente tinha touro, mas depois de muitos anos fazendo cursos, inclusive os do EducaPoint, fiz curso de Inseminação Artificial e hoje sou eu quem insemino todas as vacas, todo mundo aqui nasce da minha mão”, disse Marcos muito orgulhoso do trabalho. Ele insemina o gado há 3 anos e faz observação de cio, seguindo o mesmo princípio de fazer sempre “o mais natural possível”.

 

Sistema de cria

“Eu sou apaixonado pela cria e recria dos animais”, confessou Marcos. Segundo ele, foi isso que mais incentivou ele a querer criar vacas Jersey. 

Após o nascimento do bezerro, ele é mantido com a mãe por 24 horas com o consumo de colostro de forma natural, seguindo o lema da Eisland. Além disso, nos primeiros 7 dias de vida, consome o leite da própria mãe via mamadeira e só depois dessa primeira semana que passa a consumir o leite da ordenha também via mamadeira.

Hoje o bezerreiro está sendo alterado: terá serragem para a cama destes animais, trazendo mais conforto e garantindo melhor aquecimento, visto que é uma questão importante nos primeiros dias de vida. Os animais continuarão sendo criados de forma individual. “Não sou acomodado nunca, sempre tem coisa para melhorar”, disse Marcos, deixando este ensinamento importante para quem o lê.

O desmame acontece com 4 meses de vida, quando são direcionados para um piquete coletivo separados por idade e onde é realizado o manejo de rotação de piquetes. A partir de 1 ano passam para a rotação com animais adultos e quando as fêmeas atingem um ano e meio e 300 kg, são colocadas no manejo reprodutivo, realizando observação de cio e Inseminação Artificial. A média de serviço é em torno de 1,8 serviços/concepção. 
 

Gestão da propriedade

A propriedade hoje controla seu gado em 50 cabeças, tendo o excedente vendido. Por ser o único na região que produz gado Jersey com tamanha qualidade, possui clientes fixos anuais, inclusive com agendamento: “Tem alguns clientes que só compram novilha prenhe, aí eles me pedem para segurar de 2 a 3 novilhas por ano e dão um sinal e depois de confirmada a gestação, o cliente completa o pagamento”. 

Em relação ao número de vacas em lactação trabalha com 10 a 15 animais, no máximo. “Eu fiz um estudo aqui onde eu descobri uma linha onde não é interessante eu ter uma vaca a mais porque ela traria mais despesa do que retorno. Isso faz muita diferença para o negócio, porque já cheguei a ter mais animais mas a conta não fecha. Para pôr uma vaca eu teria que contratar mais um funcionário para o trabalho não ser tão penoso, por exemplo. Aí não vale a pena”. 

Marcos contou se atentar à qualidade de vida e trabalho dos produtores e funcionários do campo. Falou ser importante investir em equipamentos que vão tornar o trabalho menos difícil. Uma picadeira que adquiriu, por exemplo, passou a demorar 40 minutos a menos para picar e fornecer o alimento no cocho, utilizando este tempo agora para produção de silagem. É uma vantagem para quem exerce a função e para quem é proprietário do empreendimento. 

“Tenho um projeto que está meio parado, mas vou retomá-lo”, contou Marcos. A ideia do projeto é transformar o funcionário em produtor rural: fornecer algumas matrizes para o funcionário, que vai produzir leite e o vender exclusivamente para a empresa laticínio Eisland, e ele, como proprietário do laticínio e responsável pelo pagamento do litro de leite, pagará valor justo pelo litro de leite: “Vou pagar o suficiente para pagar o custo e para que ele viva bem do leite, não para que ele sobreviva como acontece com a maioria dos pequenos produtores de leite. É algo que está um pouco em stand by [parado por enquanto, mas que será continuado em momento oportuno], mas quero chegar nesse valor a ser pago. É uma forma de ter um trabalho social, como se fosse uma franquia da fazenda”.

 

Produção de derivados de leite, turismo rural e manutenção na atividade leiteira

 

Juliana (MilkPoint): Você comentou que o lema de vocês é “O mais natural que conseguimos e podemos ser”. Você pode contar como é o manejo de vocês visando ser o mais natural possível?

Marcos Galvão (Eisland): "Os cuidados começam na terra: todos os dejetos dos animais, tanto dos cochos quanto os da sala de ordenha, a cada 2 - 3 dias vão para a terra ou para a composteira. A propriedade é grande, tem 60 hectares no total, sendo que 18 hectares são destinados a produção como um todo (plantio, fábrica de sorvetes, loja, ordenha e pasto dos animais) e o restante é reflorestamento. 5 hectares vão para a produção de milho não transgênico (os consumidores da Eisland preferem não consumir transgênicos), onde produzimos cerca de 80 toneladas de silagem de milho por ano. Antes plantávamos o milho em 8 hectares, mas agora com o aperfeiçoamento da produção e maior produtividade, uma maior parte da terra foi reflorestada.

Outra prática é o plantio direto. Também temos plantação de aveia preta na época de estiagem para as vacas em manejo de pastagem. Acaba dando até para servir no cocho para elas comerem. Elas também comem cevada in natura hidratada e usam capineiras do capiaçu da Embrapa, que está substituindo o napier.

Fazemos análise de solo anualmente ou a cada 2 anos, e fazemos reposição caso necessário, por isso não somos orgânicos. Além disso, também não usamos concentrado de ração para as vacas nem qualquer outro produto para aumentar a produção. A média hoje está em 14L/vaca/dia".

 

Juliana (MilkPoint): Como foi a decisão de abrir uma loja em São Paulo?

Marcos Galvão (Eisland): “Antes a gente morava em Mogi das Cruzes, mas conhecíamos São Paulo através do trabalho. Depois de um tempo com a loja em Santo Antônio percebemos que mais de 90% dos clientes eram paulistanos e surgia um feedback de que não conseguiam mais comer os outros sorvetes que comiam antes, e junto vinham os pedidos de ter uma loja em São Paulo. A sazonalidade turística era complicada pois em algumas épocas a média de venda era boa, e em outras não era suficiente. Se tivéssemos outro ponto de venda com venda sem sazonalidade seria o ideal, e foi aí que decidimos ter uma loja em São Paulo. A primeira tentativa foi em Mogi das Cruzes, minha cidade natal. Foi bem durante 2 anos, mas o proprietário da loja que era seu irmão tomou a decisão de empreender em uma marca própria. Aí achei uma parceira, que era nossa cliente em Mogi e apaixonada pelo produto e pelo conceito. Na pandemia ela me ligou falando que viu que a loja da fazenda estava fechada e propôs de ter delivery dos sorvetes: ela gerenciava as vendas pelo whatsapp em Mogi, e eu e a Renata faríamos as entregas de sexta. Topamos e foi o que pagou as contas no início da pandemia. Quando o comércio começou a ter a reabertura, o delivery caiu muito. Com isso, essa colega passou a se dedicar a abertura da Eisland São Paulo em forma de parceria. Foi aí que a loja em São Paulo foi concretizada. Fizemos uma pesquisa com os clientes no instagram, indicando o local onde queriam a loja, onde moravam e trabalhavam, e uma justificativa livre, assim a gente saberia se as pessoas estavam escolhendo o local para ter perto de casa ou do trabalho. Incrivelmente o local que indicaram foi Campo Belo mesmo não sendo próximo da casa ou do trabalho. A justificativa foi que o bairro era residencial, arborizado, e que isso era mais a cara da Eisland do que Pinheiros, que era outra possibilidade de localização da loja. Temos ideia de abrir mais 2 lojas, uma na Anália Franco e outra na Zona Norte”.

 

Juliana (MilkPoint): A fazenda é aberta para visitas também, então vocês acabam trabalhando com turismo rural. Como é isso? Como é abrir a porteira para pessoas que não entendem o processo de produção do leite?

Marcos Galvão (Eisland): “Temos um programa de visitação monitorada. Antes era aberto, sem monitoramento. Depois da pandemia, com protocolos de higienização, fechou para monitoramento. Fazemos para famílias ou pequeno grupo com no máximo 10 pessoas, que pagam a monitoração e todo o processo é explicado. Agências de turismo foram envolvidas, já que por conta da pandemia as atividades se voltaram para dentro do Brasil, e vendiam a experiência do aprendizado na fazenda, junto com os demais passeios perto da região. Vários grupos traziam coisas inusitadas, às vezes falavam “quanto boi aqui” se referindo às vacas na ordenha. Perguntas como ‘ela dá leite a vida toda?’ ‘Tem que nascer bezerro para dar leite?’. Total desconhecimento. Mas também apaixonados por animais. Alguns veganos também visitam, questionam algumas coisas, mas vêem que é diferente do que é visto em documentários. É muito bacana porque as pessoas saem daqui com conhecimento, sabe? Veem que a gente gosta do que faz e quebra alguns paradigmas”.

 

Juliana (MilkPoint): Vocês acreditam que a produção de derivados, essa agregação de valor ao produto inicial, é uma opção para quem quer se manter na atividade leiteira mas a venda do leite in natura não está sendo rentável?

Marcos Galvão (Eisland): “Para quem vai produzir quantidades menores, quem não vende derivados, não vai sobreviver. Está tudo muito caro: milho, mão de obra, equipamentos…

A gente também faz manteiga por encomenda. É um processo manual e os chefs de cozinha gostam de usar, tanto em São Paulo, quanto em Campos do Jordão. É um valor agregado elevado, vendemos a R$95,00 o quilo a granel para Chefs, em potes menores de 180 gramas é mais caro, mais ainda um preço justo pela qualidade do produto."

 

Juliana (MilkPoint): Quais dicas vocês dão para quem está avaliando se inicia ou não um projeto de produção de derivados? Ou se produzem sorvete com 100% do leite produzido ou apenas uma parcela?

Marcos Galvão (Eisland): “Uma dica, você pode pensar ‘é o que sempre falam’, mas depois que eu assumi a fazenda eu me reencontrei. Eu fiz direito, era professor em Mogi, fiz pós [graduação], fiz MBA nos Estados Unidos e abandonei tudo isso para estar aqui, Ju. Se você vai empreender em alguma coisa, empreenda em alguma coisa que você tenha paixão. A dificuldade você vai ter, você vai se perguntar se vale a pena. Se você não tiver paixão, não vai valer a pena, você vai desistir muito mais fácil diante das dificuldades. Se eu não tivesse a produção de sorvetes bem estabelecida, eu produziria queijos, que é algo muito excepcional e tem alta procura pelos consumidores desses produtos. A minha recomendação para quem quer ser produtor hoje, é que invista em queijo. Você consegue ter retorno. Dá pra sobreviver e viver disso”.

 

A produção de leite traz inúmeras possibilidades, como o turismo rural e a produção de derivados. A Equipe MilkPoint agradece a entrevista concedida pelo Marcos que nos ensinou e contou um pouco sobre a sua história e da Eisland. Desejamos todo o sucesso para eles.

E você, leitor, jé pensou em abrir as porteiras para os consumidores?

JULIANA VIEIRA PAZ

Médica Veterinária pela USP.

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