Utilização de cama de compost barn para adubação de lavouras

Um dos fatores determinantes nos custos de produção das propriedades rurais está associado à adubação em lavouras, visto que o custo dos insumos agrícolas está cada vez maior.

O mercado brasileiro, principalmente de adubos e fertilizantes, está sentindo os efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia, visto que o país Russo é o principal exportador de fertilizantes para o nosso país e a Ucrânia tem grande importância sob a ureia que chega até nós (FINK et al., 2015).

Uma alternativa viável para esse impasse é a substituição de fertilizantes minerais por adubos orgânicos, além de visar maior sustentabilidade dos sistemas de produção, já que o tratamento dos dejetos orgânicos dentro da propriedade acaba sendo oneroso para o produtor e de potencial poluidor ao meio ambiente.

Em propriedades leiteiras que utilizam o sistema de confinamento compost barn, o principal diferencial está na cama de repouso dos animais (Figura 1). A cama contém fonte de nitrogênio oriundo dos dejetos dos animais, e fontes de carbono provenientes dos materiais utilizados na cama, como, por exemplo, a serragem e maravalha.

Esses materiais adicionados na cama são fontes ricas em carbono, que ao se misturarem com a urina e o esterco de bovinos (ricos em nitrogênio) equilibram a razão nitrogênio carbono do composto (MOTA et al., 2020).

Figura 1. Sistema compost barn

Fonte: As autoras (2022).

O funcionamento da cama depende da decomposição de materiais orgânicos pelas bactérias presentes neste composto, proporcionando o aumento da temperatura da cama (ideal de 45 a 55°C), controle de umidade da mesma (ideal de 40 a 60%) (DAMASCENO, 2020) e, consequentemente, a atividade microbiana ativa (LEITE, 2019; MOTA et al., 2019).

Quando já não houver mais fontes suficientes para as bactérias degradarem, a cama começa a ficar mais úmida (>65%) e a fermentação não ocorre de maneira desejável (KLOPCIC et al., 2021). Da mesma forma, quando a relação C:N estiver abaixo de 15:1, é recomendado realizar a substituição da cama (GALAMA, 2014), pois abaixo desse nível a compostagem pode ser dificultada e a reposição não será suficiente para aumentar a relação destes nutrientes.

Este material que é retirado da cama pode ser utilizado como adubo. Porém, antes disso é necessário realizar a maturação dele, ou seja, permitir que o material sofra uma decomposição total. Então, este material é deixado “descansando” por no mínimo 90 a 120 dias. A maturação completa ocorre quando a matéria orgânica é transformada em húmus, livre de toxicidade e metais pesados (DAMASCENO, 2020).

A Tabela 1 traz a composição química de um adubo orgânico oriundo da cama de CB que passou pelo processo de maturação.

Tabela 1. Composição química do adubo orgânico oriundo de compost barn.

Legenda: Ca: cálcio, Cu: cobre, Fe: ferro, K: potássio, Mg: magnésio, Mn: manganês, P: fósforo, Zn: zinco, C: carbono, N: nitrogênio, pH: potencial hidrogeniônico.
Fonte: Autoras (2022).

Através da utilização do material de cama como fertilizante há uma melhoria na quantidade de matéria orgânica no solo e maior acúmulo de N orgânico, favorecendo o processo de reciclagem de nutrientes (DAMASCENO, 2020). Dessa forma, a utilização de adubos orgânicos é uma forma de reutilizar os dejetos da própria fazenda ou a venda do excedente, caracterizando uma forma sustentável e rentável dentro da propriedade.

O fertilizante orgânico possui todos os nutrientes exigidos pela planta (para desenvolvimento e crescimento), contribuindo assim no aumento da disponibilidade de micronutrientes. Dentre os outros benefícios do uso da adubação orgânica podemos citar: o menor potencial de perdas dos nutrientes por lixiviação, melhora na capacidade de retenção de água, troca de cátions, etc (FINATTO et al., 2013).

A maior utilização do material de cama como adubo vem sendo empregada em cultivos de café, milho e pastagens (MOTA et al., 2020).

Desta forma, a utilização do composto contribui para a redução dos impactos ambientais gerados pela produção leiteira. O processo de compostagem e a reciclagem desses resíduos têm sido uma forma de suprir a grande demanda por fertilizantes (COTTA et al., 2015).

Além disso, com o crescimento contínuo desses resíduos em pequenas propriedades rurais, seu uso de forma racional e sustentável diminui seu potencial poluidor e se torna economicamente viável.
 

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Referências bibliográficas

COTTA, J. A. O.; CARVALHO, N. L. C.; BRUM, T. S.; REZENDE, M. O. O.

Compostagem versus vermicompostagem: comparação das técnicas utilizando resíduos vegetais, esterco bovino e serragem. Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 20, n. 1, p. 65-78,2015. DOI: 10.1590/S1413-41522015020000111864

CORRÊA MOTA, Vania; TAVARES DE ANDRADE, Ednilton; FURTADO LEITE, Daniel. USE OF COMPOST BEDDED PACK BARN IN MAIZE

FERTILIZATION FOR SILAGE. Revista em Agronegócios e Meio Ambiente, v. 13, n. 4, 2020.

FINATTO, Jordana et al. A importância da utilização da adubação orgânica na agricultura. Revista destaques acadêmicos, v. 5, n. 4, 2013.

Fink, V., Vanzella, A., Ajala, M. D. L., Chaves, C. J. A., & Menezes, T. M. (2015). Análise da viabilidade econômica da compra de uréia, avaliando o mercado interno com sua importação da