GDT: após sucessivas quedas, preços internacionais voltam a subir

Nesta semana foi realizado o 315º evento do leilão Global Dairy Trade (06/09), e após passar por sucessivas quedas, os preços dos derivados lácteos no mercado internacional voltaram a ganhar força.

O trecentésimo décimo quinto evento da plataforma GDT apresentou avanço significativo de 6,34% na média de seus preços, que voltaram ao patamar acima dos U$ 4.000 /tonelada, fechando em US$ 4.007 /tonelada.

Gráfico 1. Preço médio leilão GDT x GDT Price Index.

Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2022.

Nesta quinzena, ocorreu um recuo no volume negociado. Foram negociadas 27.127 toneladas de lácteos, volume 10,55% inferior em relação ao último leilão. O comportamento no volume negociado foi diferente dos últimos anos, quando ocorreram avanços para o período, porém ainda foram superiores ao ano passado.

Gráfico 2. Volumes negociados nos eventos do leilão GDT.

Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2022.

Dentre as variações dos preços dos derivados, observou-se os seguintes movimentos: leite em pó desnatado (+1,45%, fechando em US$ 3.575 /tonelada), queijos (+0,82%, fechando em US$ 5.046 /tonelada), manteiga (+3,17%, fechando em US$ 5.369 /tonelada). Pela primeira vez após meses, todos os produtos passaram por variações positivas.

Os preços médios do leite em pó integral sofreram um expressivo aumento de 5,65%, passando de US$ 3.417 /tonelada para US$ 3.610 /tonelada. Esta é a primeira alta após cinco leilões consecutivos de quedas.

Confira na Tabela 1 o preço médio dos derivados após a finalização do evento e a variação em relação ao evento anterior.

Tabela 1. Preço e variação do índice dos produtos negociados no leilão GDT em 06/09/2022.

Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2022.

As sucessivas quedas que os preços internacionais passaram nos últimos meses contribuíram para elevar a demanda pelo produto, e atrair novos compradores, frente aos patamares baixos que os produtos estavam operando.

Países do Sudeste Asiático, Oriente Médio e África (especialmente a Argélia) elevaram sua demanda pelos derivados lácteos, devido ao preço atrativo em que o produto estava operando. Esse cenário, associado a oferta limitada, trouxe uma pressão de alta nos preços praticados.

Além disso, ao final de agosto, no mercado de commodities, os preços do petróleo passaram por altas, com um possível corte na produção do produto anunciado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+). O contrato futuro do petróleo do tipo Brent de outubro chegou a subir mais de 1,6% em uma sessão, ultrapassando os U$ 100 por barril.

A China ainda enfrenta demanda desestabilizada, frente a persistência do controle da covid-19 e as políticas de tolerância zero no combate a pandemia. Ao todo, ao menos 41 cidades que correspondem a 32% do PIB do país são afetadas por medidas restritivas. Mesmo em meio a este cenário de menor demanda, o país asiático parece ter aproveitado os preços em patamares mais baixos e pode ter elevado as negociações dos derivados lácteos nesta semana.

Em relação aos contratos futuros de leite em pó integral no GDT e na Bolsa de Futuros da Nova Zelândia (NZX Futures), ambas as projeções seguem com cenário estável para os próximos meses. Em meio às incertezas geradas pelo mercado extremamente volátil, as projeções do GDT e da NZX Futures mantêm os preços futuros na casa dos US$ 3.600 /tonelada.

Gráfico 4. Contratos futuros de leite em pó integral.

Fonte: GDT X NZX Futures, elaborado pelo MilkPoint Mercado, 2022.

E como os resultados do leilão GDT afetam o mercado brasileiro?

Para entendermos o impacto das negociações do evento GDT no mercado nacional, podemos considerar o câmbio desta segunda-feira (06/09/2022) — R$ 5,22 — e o valor do leite em pó integral internacional (US$ 3.610 /tonelada), para chegarmos ao preço equivalente de um leite importado colocado no Brasil, que seria de R$ 2,27 /litro.

Esse valor está abaixo, se comparado com o leite pago ao produtor no mês de agosto – fechado na média de R$ 3,57/litro (CEPEA/ESALQ) – também inferior, porém mais próximo, se comparado ao preço do leite spot da primeira quinzena de setembro (R$ 2,40 /litro – média Brasil).

O dólar voltou a ganhar força frente ao real. Altas foram registradas ao longo da semana, frente a dados da economia brasileira e norte americana. No cenário internacional, o dólar ganhou força frente a moedas rivais fortes, como por exemplo euro e o iene. A moeda europeia atingiu menor valor dos últimos 20 anos enquanto o iene o valor mais baixo desde 1998. Esse cenário se formou frente a dados mostrando nova expansão da manufatura norte-americana em agosto.

Complementando o cenário, os preços no mercado interno vêm passando por sucessivas quedas. O Índice MilkPoint Mercado registrou a oitava variação negativa consecutiva nesta semana e os preços do mercado spot recuaram aproximadamente -29,1% entre o início de agosto e a primeira quinzena de setembro.

Desta forma, o cenário de altas nos preços do mercado internacional de lácteos, associado ao ganho de força do dólar, e queda dos preços no mercado interno, contribuem para desestimular as importações. Em um primeiro momento, ainda deve-se observar importações competitivas e a janela de exportações fechada, porém este cenário pode se alterando gradualmente, caso o cenário observado nesta semana persista.