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Tratamento seletivo de mastite clínica pode reduzir o uso de antimicrobianos e o descarte de leite

POR MARCOS VEIGA SANTOS

E TIAGO TOMAZI

MARCOS VEIGA DOS SANTOS

EM 04/12/2017

5 MIN DE LEITURA

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0
Tiago Tomazi*
Marcos Veiga dos Santos


A mastite clínica (MC) é responsável por causar grandes prejuízos em rebanhos leiteiros, os quais estão associados com fatores como o descarte de leite, redução do potencial produtivo e reprodutivo, risco de transmissão, e descarte precoce da vaca. Além disso, parte dos custos associados com a MC está atribuído aos gastos com tratamento, visto que protocolos não-seletivos (uso de antimicrobianos em todos os casos de MC), continuam sendo a principal estratégia de tratamento desta doença em rebanhos leiteiros. 

Resultados de um estudo desenvolvido pela equipe do Laboratório Qualileite demonstraram que 97% de aproximadamente 6.000 casos de MC receberam tratamento com antimicrobianos por via intramamária e/ou injetável. No entanto, o uso abusivo e indiscriminado de antimicrobianos tem preocupado órgãos governamentais em diversos países devido a fatores como:

(a) aumento do risco de resíduos no leite e derivados;
(b) possível desenvolvimento de resistência de microrganismos patogênicos aos antimicrobianos e;
(c) perdas econômicas associadas com o tratamento da vaca e descarte de leite.

Uma estratégia para redução do uso de antimicrobianos em rebanhos leiteiros pode ser realizada pela implantação de programas de tratamento seletivo (TS) de MC, nos quais o uso de antimicrobianos depende dos resultados de identificação microbiológica. Programas de TS de MC, considerando os resultados de cultura realizados na fazenda, ou pela disponibilidade de resultados de cultura por laboratório especializado em menos de 24 horas, podem reduzir o uso de antimicrobianos, e consequentemente, reduzir os custos gerados pela MC em rebanhos leiteiros.

O TS de MC tem como princípio o uso de antimicrobianos apenas para casos que possam se beneficiar desta estratégia. Por exemplo, em programas de cultura na fazenda não é recomendado o uso de antimicrobianos para tratamento de casos leves ou moderados de MC que apresentam resultado de cultura negativa (sem crescimento microbiológico). Cerca de 30-50% dos casos de MC submetidos para cultura microbiológica não apresentam crescimento bacteriano, para os quais, o uso de antimicrobianos é difícil de ser justificado. Além disso, bactérias Gram-negativas possuem propriedades morfológicas distintas de bactérias Gram-positivas.

Bactérias Gram-negativas como a Escherichia coli possuem uma camada lipopolissacarídea adicional na parede celular bacteriana, a qual reduz a ação da maioria dos antimicrobianos comercialmente disponíveis, além de ter propriedades endotóxicas que causam infecções com sintomatologia mais grave. Por outro lado, taxas de cura espontânea superiores a 85% podem ser esperadas em casos de MC causadas por bactérias Gram-negativas, e isso está associado com a maior susceptibilidade deste grupo bacteriano aos componentes do sistema imunológico da vaca. Com base nisso, e considerando estudos que avaliaram programas de cultura na fazenda para TS de MC, o uso de antimicrobianos pode não ser justificado para os casos de gravidade leve ou moderado com isolamento de bactérias Gram-negativas, ou com resultados de cultura negativa.

Um estudo recente, desenvolvido com rebanhos dos EUA, avaliou a eficiência de um programa de TS de MC em comparação a um protocolo de tratamento não-seletivo (TNS), no qual todas as vacas com MC foram tratadas, independentemente dos resultados de cultura. Vacas do grupo TNS receberam uma aplicação de cloridrato de ceftiofur (antibiótico de amplo espectro) por via intramamária no dia do diagnóstico da MC, seguido de mais quatro aplicações do mesmo produto a cada 24 horas. Por outro lado, para as vacas do grupo TS, uma amostra de leite foi coletada para cultura microbiológica, e em menos de 24 horas, as fazendas receberam o resultado para direcionamento do tratamento com um dos seguintes protocolos:

(a) vacas com isolamento de bactérias Gram-negativas ou com cultura negativa não receberam tratamento antimicrobiano; e
(b) vacas com isolamento de bactérias Gram-positivas ou com cultura mista foram tratadas com apenas duas aplicações de cefapirina sódica com intervalo de 12 horas.


A escolha pelo produto a base de cefapirina para os casos de MC do grupo TS se baseou no menor custo do antimicrobiano, e por este princípio ativo ser indicado especificamente para tratamento de mastite causada por bactérias Gram-positivas. Além disso, com a redução da frequência de aplicações, uma redução ainda maior do uso de antimicrobianos e de descarte de leite foi esperada no grupo TS.

Um total de 489 casos de MC foram avaliados neste estudo, dos quais 246 foram incluídos no grupo TS, e 243 foram tratados independentemente do resultado de cultura (TNS). Após a análise dos dados, não foi observado diferença entre os grupos avaliados em relação aos dias até a cura clínica, produção de leite, escore linear de CCS, e risco de descarte das vacas aos 30 e 60 dias após o diagnóstico de MC (Figura 1).

Figura 1. Comparação entre um programa de tratamento seletivo (TS, 246 casos) de mastite clínica baseado nos resultados de cultura e um protocolo de tratamento não-seletivo (TNS; 243 casos).

 

 
 


Além disso, os resultados do estudo demonstraram uma redução de três dias no descarte de leite das vacas do grupo TS em comparação ao grupo TNS. As vacas do grupo TNS tiveram o leite descartado por aproximadamente 9 dias, ao passo que as vacas do grupo TS tiveram descarte de leite por apenas 6 dias. Além disso, outro fator impactante do ponto de vista econômico, foi em relação ao uso de antimicrobianos. Enquanto 100% dos casos de MC ocorridos nas vacas do grupo TNS receberam antimicrobianos, apenas 32% dos casos do grupo TS foram tratados com antibiótico intramamário.

Contudo, considerando os resultados deste estudo, mais de 65% dos casos leves e moderados de MC não teriam sido tratados com antimicrobianos se todas as vacas tivessem sido submetidas ao programa de TS. Além disso, o período de descarte de leite foi reduzido em três dias sem que houvesse prejuízos em relação aos dias até a cura clínica, produção de leite e CCS, e risco de descarte da vaca em até dois meses após o caso de MC. Desta forma, se a decisão de tratamento dos casos de MC for baseada em resultados confiáveis de cultura, bem como de identificação precoce dos casos leves e moderados da doença, programas de TS podem reduzir significativamente os custos da MC e promover ganhos econômicos aos rebanhos leiteiros.

Fonte: Vasquez et al. (2017). Journal of Dairy Science. 100:2992–3003.

* Tiago Tomazi é doutor em Nutrição e Produção Animal e pesquisador do laboratório Qualileite/FMVZ-USP.
 
Saiba como a cultura microbiológica pode auxiliá-lo na tomada de decisão correta quanto aos casos de mastite clínica no rebanho, visando racionalizar o uso de antimicrobianos. Confira o curso: Cultura microbiológica na fazenda: como usá-la para o controle de mastite, ministrado pelos especialistas no assunto,  Dr. Marcos Veiga e MSc. Eduardo Pinheiro, com participação especial do Dr. Tiago Tomazi. 

MARCOS VEIGA SANTOS

Professor Associado da FMVZ-USP

Qualileite/FMVZ-USP
Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite
Endereço: Rua Duque de Caxias Norte, 225
Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP
Pirassununga-SP 13635-900
19 3565 4260

TIAGO TOMAZI

Médico Veterinário e Doutor em Nutrição e Produção Animal
Pesquisador do Qualileite/FMVZ-USP
Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite
Endereço: Rua Duque de Caxias Norte, 225
Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP
Pirassununga-SP

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VINÍCIUS FERNANDES

EM 22/01/2018

Ola professores. Fiquei sem entender. Os animais do tratamento seletivo que deram cultura gram + foram tratados? Foi utilizado cmt para diagnosticar outros tetos positivos e realizar o uso de bisnagas intramamarias mos tetos acometidos? Ja li um artigo que citava o termo tratamento seletivo desse modo. O animal com mastite clinica era submetido a cmt e os tetos + eram tratados com bisnagas.
MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 29/12/2017

Prezada Carla, obrigado pelo seu comentário. Concordo que o sucesso da cura do tratamento de mastite depende de 3 fatores principais: 1) características da vaca (idade, histórico, imunidade); 2) do agente causador; 3) protocolo de tratamento (princípio ativo, duração, via de administração). Sendo assim, penso que o uso de cultuara na fazenda pode auxiliar o produtor e veterinário a tomar uma decisão sobre um dos fatores (agente causador), mas os demais fatores continuam sendo fundamentais para o sucesso do tratamento. Mais uma vez obrigado pelo comentário, Atenciosamente, Marcos Veiga
CARLA VASCONCELOS

BOTUCATU - SÃO PAULO

EM 29/12/2017

Bom dia Tiago! Obrigada pelo artigo!
Temos visto muita discussão sobre esse assunto nos últimos anos, fundamental principalmente pela inegável e urgente importância da determinação do uso racional dos antibióticos, e isso nos leva a ponderar como trabalhar melhor. Coloco aqui algumas considerações, pois o tema além de complexo envolve vários fatores. Como hoje já é conhecida, a medida microbiológica de infecção não é mais sobre uma colônia bacteriana e sim sobre o biofilme formado a partir da adesão de uma única bactéria. Devido esse motivo e da difícil remoção do biofilme já aderido, freqüentemente me pergunto como medir a cura espontânea. No estudo citado, especificamente no grupo dos animais não tratados, foi observado se esses mesmos animais retornaram com casos de mastite clínica posteriormente? Esses animais foram acompanhados por um tempo após o estudo inicial? Pergunto, pois sabemos que os Gram negativos são forte formadores de biofilmes devidos sua grande capacidade de adesão e características do LPS (endotoxina de membrana externa), tanto em superfícies quanto em tecidos celulares. Para que as bactérias proliferem dentro do hospedeiro, elas se utilizam de um mecanismo de comunicação conhecido como quorum sensing, uma adaptação da bactéria para que no momento em que a população esteja pequena no animal, o sistema imune não desenvolva grande resposta inflamatória. Porém, quando se encontra em uma população maior, de biofilme estruturado com matriz e trocas de nutrientes, aí o sistema imune "já não dá mais conta" e os antibióticos não conseguem agir. Temos então instalada a temida mastite crônica! Já existem relatos de formação de biofilme a partir de 4 h após colonização inicial. Fora esses fatores também co-existem outros que predispõem a evolução da mastite grau 1 e 2 para grau 3 e até óbito em poucos dias. P. ex., já temos citado em literatura que vacas com fígado gorduroso, alto NEFA, demoram mais de 6 horas para metabolizar o LPS ao contrário de vacas saudáveis que levam somente 30 minutos. Quanto maior a produção de LPS circulante e maior permanência dele no organismo, maior e mais desordenada pode ser a resposta inflamatória, desenvolvendo a chamada Síndrome de Resposta Inflamatória Sistêmica que agrava a situação do animal. Sem falar que existe variabilidade genética de LPS em diferentes microrganismos. Devido a esses fatores, penso que quando o assunto envolva agentes bacterianos, existe fortemente o efeito agente e o efeito fazenda e que o conhecimento dos animais e da epidemiologia das bactérias em cada propriedade deva ser avaliado na decisão de tratar ou não a vaca, não se baseando somente na cultura, tendo em vista que, mesmo realizada na fazenda, a resposta só virá com 24h. Precisamos conhecer nossos animais e como eles respondem às bactérias que circulam na nossa propriedade, pois existem particularidades de fazenda para fazenda.
Abraços
Carla - VIDAVET

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