A temperatura estava na casa dos 36 graus e o sol teimava no céu dessa região semi-desértica no centro do México, onde chove apenas cerca de dez dias por ano e está localizada a fazenda La Laguna. Mas nos gigantescos galpões, com sistema de resfriamento, vacas, em ordenhas mecânicas em formato de carrossel ouviam a quinta sinfonia de Mahler e, impassíveis, produziam, produziam muito leite.
A propriedade pertence a Eduardo Tricio Haro, chairman da Lala, e está localizada em Gómez Palacio, na região conhecida como La Laguna, onde o pai do empresário começou a produzir leite nos anos 1950. Foi também na região, em Torreón, nasceu o que atualmente é a Lala.
Na La Laguna, Tricio mantém 30 mil vacas criadas em sistema de confinamento, sendo 15 mil em lactação - isto é, produzindo leite todos os dias. De acordo com Ignacio Lastra, administrador da fazenda, cada animal produz, em média, 38 litros de leite por dia, o que significa um total de mais de 500 mil litros diários na propriedade. Ele explica que as vacas, a grande maioria da raça holandesa, são ordenhadas três vezes ao dia, e para suportarem o calor da região, que chega a 45 graus no verão, são banhadas seis vezes por dia. Isso visa garantir o conforto dos animais, fator que também interfere na produtividade.
Segundo Lastra, genética e alimentação são fundamentais para uma produtividade tão elevada. Na La Laguna, as vacas são alimentadas com silagem de milho, soja, semente de algodão e alfafa. A música clássica, diz, não influencia o rendimento dos animais, mas como tem efeito relaxante, ajuda a "soltar" o leite.
A região da La Laguna concentra 23% da produção de leite do México, estimada em 11 bilhões de litros por ano, segundo a Canilec, entidade que representa a indústria leiteira do país. Na média nacional, a produtividade por animal é de cerca de 12 litros de leite por vaca/dia. A média cai porque em algumas regiões do sul do país os animais são criados a pasto e muitas vezes têm dupla finalidade, servindo tanto para leite quanto para corte, diz Miguel Ángel Paredes, presidente da Canilec.
A fazenda de Tricio é uma das fornecedoras de leite da Lala. Mas nem todas têm volumes diários tão elevados. "Temos muitos produtores grandes, muitos medianos e, fora da área da La Laguna, compramos de muitos pequenos produtores, de 500, 800 litros por dia", afirma Eduardo Tricio.
O tamanho dos fornecedores da Lala no México gerou preocupação no presidente da Itambé, Marcelo Candiotto. Conforme contou ao Valor em entrevista em janeiro deste ano, a convite de Tricio ele visitou fazendas produtoras no México logo depois que a Lala anunciou a compra da Vigor e dos 50% da Itambé. Ele disse que um dos desestímulos para fechar o negócio foi o temor de que a Lala desse prioridade à compra de leite de grandes produtores, o que afetaria os cooperados da CCPR. Segundo Candiotto, 85% dos associados são pequenos e médios produtores, com até mil litros de leite por dia. E apenas 15% produzem mais que isso.
Diante desse relato, Tricio lembrou que também já foi um pequeno produtor e negou que isso fosse acontecer se a compra tivesse se concretizado. "Temos de nos ajustar à realidade da região de cada país onde estamos", disse. Ele acrescentou que, no Brasil, a Lala já começou a dar assistência técnica aos produtores da Vigor. "O que queremos é que sejam cada vez maiores, eficientes e produtivos".
Hoje a Lala adquire leite no México de 100 fornecedores que são acionistas da empresa e também de outros não acionistas. Uma fatia de 80% da empresa, que abriu o capital em 2013, está nas mãos de 300 acionistas (incluem produtores e familiares) e o restante é free float.
As informações são do jornal Valor Econômico.