Na época, Rafaela estava atuando na Johnson & Johnson como trainee e posteriormente foi efetivada na área de marketing. “Eu notei que não era esse caminho que eu queria seguir. Com isso, iniciei uma pesquisa de mercado para saber quais eram as marcas de pães de queijos existentes no Rio de Janeiro. Constatei que havia espaço para novidades”. Segundo ela, algumas marcas não usam o queijo entre os ingredientes do produto. “Na visão de algumas pessoas, mesmo o ‘pão de queijo ruim’ é ‘bom’. Essa informação sobre a ausência de queijo passa batida pelos consumidores ainda mais porque, na maioria das vezes, o queijo é substituído por aromas, substâncias químicas, entre outros. E foi exatamente essa lacuna que nos incentivou a entrar no negócio, com a meta de produzir e mostrar ao público o que era um pão de queijo ‘de verdade’”.
O conceito da marca começou a ser trabalhado em 2015 (nome, embalagem, receita e design) e no início de 2016, o produto ensacado e congelado passou a ser comercializado. A NUU utiliza a receita original do pão de queijo mineiro em uma escala industrial, mas, antes disso, Rafaela fez uma imersão nos estabelecimentos dos possíveis fornecedores a fim de conhecer os detalhes dos insumos.
“Uma particularidade nossa - e que sempre foi prioridade - é conhecer as origens dos ingredientes utilizados na iguaria. Para selecionar a mandioca, passamos um tempo na fazenda fornecedora para compreender todo o processo no qual o polvilho era produzido, desde o plantio da mandioca, até a secagem, embalagem, decantação, entre outros. Demos um giro de ‘360º’ para não deixar escapar nada. Nessas visitas, também conversamos e conhecemos cozinheiras para aperfeiçoar a receita. Nosso pão de queijo, além de muito queijo, leva em sua receita polvilho doce, polvilho azedo, leite, água, óleo e sal”.
O queijo utilizado é artesanal, curado, leva 21 dias para ficar pronto e é produzido na fazenda dos pais de Rafaela. Ela conta que também participou de todos os processos na propriedade do pai, de ordenha à cura dos queijos, a fim de lapidar o sistema e produzir um queijo ideal para os pães de queijo NUU.
“Após a minha temporada em Minas Gerais, voltei para o Rio com a receita redonda em mente. O meu sócio Erik Nako é chefe de cozinha e chegou nas gramaturas exatas e ideias para iniciar a fabricação da receita final. Demos start então na sequência com uma pequena produção focada em eventos. Para essas ocasiões, aproveitamos a exposição para apresentar o pão de queijo recheado com pernil, molho pesto, linguiça artesanal, doce de leite ou goiabada, algo muito disseminado em terras mineiras. Congelados, temos o pão de queijo sem recheio e em embalagens de vários tamanhos, P, M, G e GG”. Além de Erik, também são sócias da empresa Luisa Sá e Cristiano Lanna.
Ela destaca que com esse crescimento, houve a necessidade de comprar queijos de outros fornecedores de confiança além dos pais. “Majoritariamente, usamos o nosso queijo, mas, dependendo da quantidade dos pedidos, temos que buscar o produto em outros locais. Dessa forma, aproveitamos também para divulgar o terroir dos queijos, algo que contribui muito para a divulgação dessas maravilhas produzidas em Minas. A nossa produção de leite é pequena e não queremos expandir, queremos manter a máxima qualidade com o que temos hoje”.
O queijo da família Gontijo é produzido na Serra do Salitre, tem um sabor salgado intenso e cor branca, tendendo ao amarelo. Quando curado, sua fina casca se torna amarelo-ouro. Também, tem um terroir diferente comparado ao queijo Serra da Canastra. “O queijo que meu pai fabrica é bem tradicional, da forma antiga mesmo. Na receita do pão de queijo usamos um queijo artesanal, mas, nosso produto final não é artesanal. Enfatizamos isso para não confundir o consumidor. O desafio é manter o sabor, o padrão e as características iniciais - mesmo com o aumento da escala. Faço questão de ressaltar aos consumidores que além de um pão de queijo, eles também estão comprando uma história”.
A embalagem utilizada para vender os produtos lembra os sacos de leite antigos e um extenso trabalho de design foi aplicado à marca. O objetivo, foi resgatar uma parte da história e a tradição mineira na produção de leite. Atualmente, são produzidas nove toneladas de pão de queijo por mês e para essa quantia, três toneladas de queijo são utilizadas. O produto pode ser encontrado em mais de 160 estabelecimentos entre cafés, bistrôs, supermercado e delicatessens. “No curto prazo, também temos a ideia de vender o queijo puro, e para isso, estamos com o processo de certificação e burocracia em andamento. Pretendemos avançar com isso ainda este ano. Em breve, também teremos uma loja ‘pop up store’ (loja temporária) no Leblon durante quatro meses para vender pão de queijo recheado, café e mais algumas surpresas que estão por vir”.
Rafaela fez questão de frisar que a empresa é formada por pessoas jovens com faixa etária média de 30 anos. “Estamos concorrendo em um mercado de grandes empresas e que trabalham com diversos produtos. Nós fazemos um produto único e por muito tempo, a empresa foi formada apenas por mulheres, que ‘botaram a mão na massa’ em todas as áreas necessárias, desde finanças e vendas, até logística. Acho que vale divulgar essa informação pois nos dias de hoje, ela ainda é um diferencial”, finaliza.