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Orgânicos: na contramão da crise, setor busca constância e competitividade

RAQUEL MARIA CURY RODRIGUES

EM 15/06/2016

9 MIN DE LEITURA

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Adotando uma série de ações sustentáveis e produzindo leite orgânico desde 1998, o engenheiro agrônomo Ricardo José Schiavinato, proprietário da Fazenda Nata da Serra, localizada em Serra Negra/SP, comemora a pujança do mercado de orgânicos.

Figura 1
- Ricardo José Schiavinato.

Fonte: Folha de São Paulo 

A propriedade, de aproximadamente 100 hectares, foi adquirida em 1988 e, dez anos depois, a produção de leite orgânico foi iniciada. Como a área era composta majoritariamente por matas nativas, terras abandonadas e solo degradado, o trabalho foi intenso para estabelecer condições próprias para a agropecuária. Inicialmente, Ricardo optou pela produção de leite convencional. Em 1991, instalou uma miniusina para pasteurização e empacotamento do leite, lançando assim o Laticínio Nata da Serra.

Figura 2
- Fazenda Nata da Serra. 



Atraído e impulsionado pelas questões ambientais, pela filosofia da produção orgânica e por seu componente econômico agregado, ele caminhou em busca de melhorias para o seu sistema de produção de leite, elegendo a produção orgânica como carro chefe. Vários investimentos foram feitos e o negócio deu tão certo que hoje a fazenda produz 1500 litros de leite por dia, com média de produção diária de 21 litros por vaca.

“O produtor que pensa em produzir leite orgânico precisa primeiramente mudar o conceito de produção e entender a atividade como um novo negócio. Citando as instalações como exemplo, hoje a maioria das fazendas está trabalhando com gado estabulado, porém, para orgânicos, isso não é viável. A ideia é pensar na produção de leite por área e não por animal. Além disso, a genética de produtividade é menor por animal, mas, maior por área”, ponderou Ricardo, que acredita que o sistema de produção orgânico pode melhorar o planeta.

Com a Fazenda da Toca, localizada em Itirapina/SP, não foi diferente. Após produzir por vários ano no sistema convencional, a fazenda partiu para a produção orgânica, que teve início em 2011.“A decisão de produzir leite orgânico ocorreu após um grande planejamento estratégico realizado em 2010. Como resultado, iniciou-se a execução de um plano de transformar a Fazenda da Toca em um grande organismo agrícola, que conciliasse a produção animal (leite e ovos) e vegetal (fruticultura), agregando valor aos produtos com o intuito de viabilizar o escoamento de forma rentável e 100% orgânica”, comentou Otavio Negrelli, Diretor Operacional da Fazenda da Toca.

Figura 3 - Otavio Negrelli.


Figura 4 - Fazenda da Toca. 



Nem tudo são flores

Apesar do sucesso do projeto de produção orgânica de alimentos, a empresa tomou recentemente uma difícil decisão: após vários anos de atuação, a Fazenda da Toca optou por descontinuar a produção orgânica de leite. De acordo com Otavio, mesmo acreditando muito no potencial do setor e em uma produção altamente sustentável, o nível de dedicação demandava exclusividade. “É uma cadeia complexa e a verticalização torna o desafio maior ainda. Cada etapa da cadeia de produção requer alto nível de especialização. Além do leite, precisávamos nos dedicar à fruticultura e produção de ovos – setores nos quais estamos tendo resultados mais promissores – e no desenvolvimento dos sistemas agroflorestais (SAF)”, disse.

Figura 5 - Ovos da Toca Orgânicos. 


Desafios

Segundo Ricardo, da Nata da Serra, a produção demanda atenção a vários detalhes, sendo necessário engajamento e muito estudo. Ele também aposta que a produção de leite orgânico deve ser voltada para a criação a pasto e para as pequenas e médias propriedades. A questão gerencial foi apontada como um item fundamental, pois há uma grande quantidade de variáveis que, nos seu ponto de vista, são mais complexas quando comparadas ao sistema tradicional. “Hoje, o maior problema é tentar conciliar um melhor aproveitamento de terra (produtividade por área) e respeitar os ciclos da natureza e dos animais”, adicionou. Pode-se afimar, portanto, que produzir leite orgânico é mais complexo do que a produção convencional, o que demanda gestão de primeiro nível.

Otávio acrescentou que o produtor deverá abrir mão de algumas ferramentas, como o uso de fertilizantes químicos, mas, com uma gestão profissionalizada, é plenamente capaz de suplantar as barreiras. “Em termos de sanidade animal, a norma permite a intervenção alopática, desde que se faça um controle estrito de manejo de cada animal com a ressalva de que o período de carência é o dobro do determinado pela bula e a quantidade de intervenções é limitada. São regras aparentemente restritas, mas dão uma abertura para tratar e resolver problemas que são um desafio em qualquer sistema. Os obstáculos acabam se concentrando mais na produção e comercialização”, ponderou.

Com relação à comercialização, é importante salientar que é um setor competitivo e os produtos bastante perecíveis – com isso, vale buscar alternativas na forma de distribuição, estando o mais próximo possível do consumidor.

Mercado promissor

Nos Estados Unidos (EUA), os lácteos representam 16% de todo o mercado de orgânicos e na Europa, 30%, enquanto no Brasil, esse mercado é incipiente. Há algumas estatísticas sobre esse mercado no país, apesar de ser um setor pouco auditado. Os números falam em um mercado em torno de R$ 2 bilhões, sendo 80% do mercado concentrado nos produtos in natura, especialmente hortaliças. Nos mercados mais desenvolvidos, como EUA e Europa, a evolução do setor leva a uma participação maior dos produtos processados.

“Estamos na contramão da crise. Ainda é um mercado de nicho e devemos trabalhar a imagem para os consumidores. Tem muita gente interessada. Porém, elas devem entender as limitações dos produtos refrigerados quando o assunto é conservação, por exemplo”, frisou Schiavinato.

Sobre a disseminação da produção orgânica, Ricardo disse que nas regiões Nordeste e Centro-Oeste a prática ainda não é comum. A Nata da Serra hoje atende a região de Campinas e São Paulo, mas desperta o interesse de vários estados. No entanto, a produção da fazenda não é capaz de suprir essa demanda em crescimento. “Produzimos muito pouco, mas ainda podemos crescer muito. O consumidor principal está localizado nos grandes centros e a distribuição fica concentrada no Sul e Sudeste. Esse é outro item que precisamos trabalhar melhor”, completou. Ele lembrou que para que a produção seja escoada para outros estados, a logística demandaria uma atenção especial, já que os produtos são mais delicados e podem sofrer alterações ao longo do trajeto.

Com relação ao beneficiamento e distribuição, Otávio também enfatizou que os produtos não levam conservantes, o que implica em vários custos adicionais. “Um pequeno laticínio tem processos muito manuais e o sistema orgânico requer um esforço muito grande em higienização, o que já chegou a beirar a obsessão. Não há margem para formação de estoques, e a diversidade de produção requerida implica em lotes pequenos, com trocas frequentes. Quando se opta por uma distribuição em larga escala, acessando os canais tradicionais de comercialização como as grandes redes, o trabalho no ponto de venda, somado à eficiência na distribuição na cadeia fria, são grandes desafios”, pontuou ele, que completou que há uma necessidade forte de foco e investimentos em trade marketing (que envolve todo o trabalho de reposição, degustação e comunicação dentro do ponto de venda).

“Um iogurte com polpa de frutas sem conservantes, por exemplo, terá aproximadamente 28 dias de validade (o setor costuma trabalhar com 45 dias). Imagine que, entre a produção, entrega em São Paulo, redespacho para o cliente, visita do repositor à loja para abastecimento da gôndola e tempo para que o produto seja efetivamente comprado, pode transcorrer muito tempo. Com 28 dias de shelf life total, sobra muito pouco para o consumo e o resultado é um alto nível de perdas por vencimento”, concluiu.

Crise não atinge o segmento

“Além de trabalharmos em uma região metropolitana, participamos de muitas feiras orgânicas. Não atuamos no grande e médio varejo de supermercados específicos, mas sim, em algumas lojas destinadas ao nosso público-alvo. Também somos fornecedores de públicos direcionados, como os messiânicos”, comentou Ricardo. “O produto orgânico é mais caro (em média 30% comparado ao produto tradicional) porque tem custos maiores e agrega custos que a produção tradicional não agrega, como as questões ambientais e a melhoria da saúde”, completou.

Corroborando com esse fato, Otávio frisou que desde que a marca da Toca foi lançada, no início de 2015, a empresa dobrou de tamanho e está caminhando para dobrar novamente. “Certamente a crise impõe desafios ao crescimento, mas há um enorme mercado de bem-estar que procura produtos que respeitam a saúde do consumidor e do planeta. Um dos nossos impasses é trabalhar a precificação para poder acessar um público maior, mas, hoje, nosso foco é o consumidor de renda média a alta que valoriza a saudabilidade e questiona a forma como os produtos são produzidos, embora todo o trabalho de comunicação seja mais voltado para os valores que este público carrega do que com a renda em si”, pontuou. “De toda forma, os produtos acabam encontrando mais espaço em lojas que têm um apelo mais premium”, observou.

Se as vendas continuam fortes e escapam à crise econômica, os produtores orgânicos estão tendo que lidar com outro problema, como todos os outros produtores: os custos mais elevados de produção, o que se mostra ainda mais complicado ao se tratar de uma produção por si só mais cara de se produzir.

Linha de produtos

A linha de produtos atual da Fazenda Nata da Serra é composta por manteigas com sal e sem sal, queijo frescal, ricota, muçarela, requeijão, queijo minas padrão e iogurtes nos sabores natural, morango, mel, ameixa e pêssego, tanto na versão integral como light.

Figura 6 - Alguns lácteos da Fazenda Nata da Serra. 

Fonte: UOL 

Além da pecuária, a fazenda cultiva café, tomate, abobrinha italiana, pepino japonês e alface americana. Outros produtos de origem animal também são produzidos, como peixes e mel, este último inclusive usado em alguns iogurtes. Os alimentos fora do padrão são utilizados para fazer legumes em conserva, geleias, molhos e até tomate seco.

Hoje a fazenda é certificada pela ANC (Associação Natural de Campinas). Ela também serve de roteiro turístico para quem deseja conhecer de perto a produção agroecológica e todo o ecossistema que a rodeia. Além das inúmeras árvores plantadas, há uma rica e diversa fauna que habita o local.

A Fazenda da Toca está presente nas categorias de sucos, molhos e ovos. Além de desenvolver produtos para a sua marca, fabrica para algumas parceiras como a Taeq (da rede Pão de Açúcar), Ovos Mantiqueira e Sentir Bem. Ela também está desenvolvendo e pesquisando outras categorias para o portfólio e afirmou que em breve terá novidades. A Toca também mantém relacionamento com alguns clientes B2B (exportação ou não), com o fornecimento de polpas de frutas.

Figura 7 - Sucos na garrafa da Toca Orgânicos. 



“É um mercado potencial enorme, com consumidores ávidos por produtos inovadores, com qualidade, constância e que tenha um custo competitivo. Especificamente na produção de leite, recomendaríamos começar com uma distribuição pequena e regional, evitando o confronto direto com grandes marcas e com os altos custos de distribuição”, finalizou Otávio.

Figura 8 - Sucos em caixinha da Toca Orgânicos. 



Ainda segundo ele, é impossível trabalhar com orgânicos e não se apaixonar pela forma como o produto se relaciona com o planeta, com o solo, com as pessoas e com os animais que estão a serviço da produção. “Acreditamos que o grande legado é contaminar os consumidores com esse mesmo senso de propósito e dar uma grande contribuição para as próximas gerações”.

RAQUEL MARIA CURY RODRIGUES

Zootecnista pela FMVZ/UNESP de Botucatu.

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MARIA APARECIDA OLIVEIRA DE QUEIROS

PIRAPORA - MINAS GERAIS - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 16/06/2016

Excelente trabalho!

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