“A minha mãe, Dona Lázara, sempre fez doce de leite para a família de uma maneira informal - no tacho de cobre - e a ideia de produzir doce de leite já estava sendo amadurecida na minha cabeça há muito tempo. O principal objetivo era agregar valor à matéria-prima leite e fazer com que as pessoas provassem um sabor único e diferenciado. Para isso, estudamos, fizemos todo o planejamento e lançamos a Rocca. A composição do produto foi lapidada ao longo do tempo e demorou um ano para chegarmos na receita original hoje comercializada pela Rocca. Os erros nos ajudaram a chegar no produto ideal e que hoje, tem uma grande aceitação entre os consumidores”, relatou Rosiane, que também contou com o apoio do marido e, também produtor de leite, Raphael Figueiredo.
Atualmente, todo o leite utilizando para a fabricação do doce de leite é oriundo da fazenda dos pais de Rosiane, localizada em Pouso Alegre/MG. A produção de leite é pequena, em torno de 350 litros/dia, os animais são criados a pasto e a propriedade tem uma grande preocupação com o bem-estar dos animais. “A Rocca absorve hoje 300 litros de leite por dia (que rendem 120 quilos de doce de leite) e ainda sobra uma quantidade pequena de leite que vendemos para fora. Vale destacar que, hoje, a fábrica fica na fazenda dos meus pais, mas, estamos estruturando um plano de expansão. Com esse crescimento, possivelmente teremos que utilizar leite de fazendas externas. Por isso, queremos fomentar a produção leiteira dos pequenos produtores da nossa região que preconizam o mesmo sistema de produção que o nosso”, acrescentou Rosiane. Uma outra vantagem do aumento da empresa é que a instalação da fábrica ocorrerá nas proximidades da rodovia Fernão Dias, o que facilitará a logística e distribuição.
De acordo com ela, a qualidade do leite não é um problema, já que a fazenda tem um histórico muito bom nesse quesito. “Antes de utilizar o leite internamente, meu pai vendia a produção leiteira para indústrias bastantes exigentes e devido a isso, ele já tem uma certa ‘bagagem’. O diferencial é que tiramos o leite e mandamos direto para a fábrica, que é do lado. Isso gera vários benefícios, por exemplo, a redução da acidez do leite. Na fábrica, fazemos alguns testes e padronizamos vários procedimentos de industrialização”.
Tendências de mercado
Além dos seus próprios princípios, a Rocca se preocupa com as tendências de mercado, se mostrando completamente adepta ao bem-estar animal, poucos ingredientes na receita e uma história embutida por trás de cada pote do doce. “Nós decidimos trabalhar com uma quantidade enxuta de componentes na receita, pois vemos muitas opções do doce carregadas em amido e glicose de milho, o que reduz o custo dos fabricantes, mas, desconfigura a tradição. Não optamos por esse caminho já que acreditamos em rótulos mais limpos”, ponderou Raphael.
Segundo ele, no início do projeto, o desafio era fazer e desenvolver um produto já tradicional em um estado também tradicional. “Como nós poderíamos nos diferenciar no mercado já que existe muita concorrência? Aproveitando o espírito jovem da empresa, procuramos posicionar a marca no mercado a nível de rótulo, a nível de redes sociais, nas gôndolas e buscando sempre fazer um trabalho bem agressivo de marketing”.
Os produtos Rocca são considerados semiartesanais visto que ainda dependem do recurso humano para atingir o ponto ideal. Eles podem ser encontrados nos sabores Tradicional, Coco, Café a Coco. Há um controle total de origem de cada ingrediente e de todos os processos.
Certificação e comercialização
Os produtos Rocca são certificados pelo IMA (Instituto Mineiro de Agropecuária), mas, a previsão é de que com a fábrica nova, conquistem o SIF (Serviço de Inspeção Federal). “Estamos trabalhando para conquistar a certificação a nível nacional e otimistas que ele saia até o fim deste semestre. Nosso foco comercial é Minas Gerais e, em Belo Horizonte, estamos com um posicionamento forte por meio de campanhas de marketing destinadas para a capital. Os consumidores já nos encontram em dois supermercados importantes da cidade além de municípios turísticos mineiros, como Monte Verde, Tiradentes e Gonçalves, entre outros”, frisou Raphael.
No ponto de vista dos empresários, a demanda pelo doce de leite sofre uma certa sazonalidade no mercado, sendo mais procurado nos meses de inverno. Eles acreditam que no verão, as pessoas se direcionam para o litoral e deixam de visitar as cidades turísticas de Minas Gerais. Para tentar amenizar essas oscilações no consumo, a empresa fez uma parceria com algumas sorveterias mineiras que oferecem sorvetes também com a mesma proposta da Rocca, utilizando poucos ingredientes e receitas originais.
Questionados sobre a recessão econômica enfrentada pelo país e as suas consequências diretas no consumo de alimentos, Raphael disse que a empresa não sentiu as influências provavelmente porque eles aproveitaram para sair da zona de conforto, focando na abrangência da Rocca nos quatro cantos de Minas Gerais. “Graças à crise, não ficamos reclamando e não nos acomodamos, mas sim, buscamos levar o produto para outras cidades além de Pouso Alegre. Acreditamos que nosso público é majoritariamente formado por consumidores que são adeptos a produtos diferenciados e buscar esses clientes foi a estratégia para sobreviver e crescer. Comparando 2015 com 2016, tivemos um crescimento de 200% e a agregação de valor contribuiu para isso”.
Para ele, a crise retirou do mercado muitos produtos medianos e valorizou quem priorizava preço e quem priorizava qualidade. Os produtos que não se decidiram entre ser baratos ou ter ou não qualidade, foram consumidos pela crise. Quem conseguiu se destacar a nível de preços e qualidade, se deu bem.
“O nosso foco hoje é o doce de leite. Com a fábrica nova, queremos expandir para todo o Brasil, quiçá para o mundo”, finalizou Raphael.