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Entenda o conflito entre os EUA e Canadá na indústria de lácteos

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 25/04/2017

10 MIN DE LEITURA

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O pesadelo continua para alguns produtores de leite de Wisconsin e Minnesota que se esforçam para encontrar um novo processador para seu leite a partir de 1 de maio. Dezenas de laticínios receberam aviso da Grassland Dairy Products Inc. em primeiro de abril de que a companhia não ia mais comprar suas produções a partir de 1 de maio. A decisão veio após um anúncio do Canadá de que não comprariam mais leite ultrafiltrado dos Estados Unidos. Cerca de meio milhão de quilos de leite da Grassland atravessavam a fronteira todos os dias até o Canadá.

conflitos entre estados unidos e Canadá - mercado lácteo

O secretário de Agricultura de Wisconsin, Ben Brancel, esteve no centro da situação, chamando processadores, encontrando-se com grupos de lácteos e buscando respostas para esses produtores de leite que precisam de um novo processador.

Até agora, Brancel estima que cerca de metade do volume de leite originalmente captado pela Grassland já encontrou outra planta de processamento. A má notícia é que pelo menos 44 das fazendas ainda não encontraram um novo processador. E, devido ao aumento da produção na primavera, não há muito espaço para esse leite extra em muitas plantas.

Agora, o objetivo de Brancel é conseguir destino para o leite desses 44 rebanhos, mas encontrar um novo processador para essas fazendas é apenas a ponta do iceberg, de um problema maior de oferta e demanda.

Entenda o caso

A indústria de lácteos do Canadá está oficialmente no radar do presidente dos EUA, Donald Trump. Após meses de especulação - e muita ansiedade - o presidente americano prometeu defender os interesses dos produtores de leite de Wisconsin contra a indústria de lácteos "injusta" do Canadá. O Canadá diz que os argumentos americanos são infundados e a superprodução, tanto dentro dos Estados Unidos como globalmente, é a culpada. O primeiro-ministro, Justin Trudeau, chegou a insistir que o sistema "funciona" e que não vai a lugar algum.

Mas o que tudo isso significa?

O que é gestão da oferta?

A gestão da oferta é um sistema usado no Canadá para lácteos, aves e ovos onde a produção, os preços e as importações são regulamentados. Os produtores compram cotas que determinam a quantidade de produto que lhes é permitido produzir e vender. O sistema foi trazido durante os 1960s como um meio de proteger produtores de grandes mudanças de preço que os forçavam para fora do negócio.

A agricultura é uma das poucas responsabilidades federais-provinciais compartilhadas. Dessa forma, cada província tem conselhos de vendas que supervisionam os vários setores que têm a gestão da oferta e mantêm limites nos níveis de oferta e demanda. Os conselhos determinam o preço que os produtores recebem por seus produtos, dependendo do uso final. Eles não ditam o preço de varejo dos produtos que possuem sua oferta controlada.

Organizações nacionais - como a Comissão Canadense de Lácteos - ajudam a coordenar as discussões políticas federais e provinciais com os vários conselhos e partes interessadas. A Comissão de Lácteos também estabelece preços de referência anuais que são então utilizados pelas províncias para determinar o preço do leite industrial ou leite cru em cada província. A Comissão é igualmente responsável pela emissão de autorizações especiais de importação, quando necessário.

O que é o leite diafiltrado ou ultrafiltrado?

O leite diafiltrado, ou leite ultrafiltrado como os americanos chamam, é o leite que foi finamente filtrado através de uma membrana, a fim de atingir o seu teor de proteínas desejado. O leite tem uma consistência similar ao leite de coco e tem tipicamente um índice de proteína muito elevado (maior que 40%). Quando o leite cru é processado para produzir butterfat (necessário para a confecção de manteiga), ele é dividido em duas partes:

a) butterfat;
b) o que é chamado de ‘sólidos não gordurosos’, comumente chamados de ingredientes lácteos.


O leite diafiltrado são os sólidos não gordurosos que foram processados em um passo a mais.

Invenção americana, o leite diafiltrado é usado principalmente por processadores de lácteos no Canadá para fabricar queijos, porque esse produto tem maiores rendimentos enquanto produz menos dejetos (neste caso, leite desnatado). O leite desnatado, devido ao excesso de oferta, é frequentemente despejado ou usado em fazendas como ração animal ou secado para fazer leite em pó. Seu excesso de oferta tem sido uma questão de longa data que a indústria de laticínios vem enfrentando há anos.

As principais plantas de produção de leite diafiltrado foram construídas nos últimos anos ao longo da fronteira entre o Canadá e os Estados Unidos em estados como Nova York e Wisconsin para atender a demanda canadense. Devido a uma oferta excessiva de leite - e seus ingredientes - nos Estados Unidos, a indústria americana tem exportado o produto em forma líquida para processadores canadenses.

A Agência Canadense de Serviços de Fronteira considera isso como um ingrediente proteico e, portanto, não está sujeito às altas tarifas de produtos lácteos do Canadá. Além disso, como o produto foi inventado após o NAFTA, oficiais canadenses foram informados de que não estão autorizados a submeter as importações americanas de leite diafiltrado ao que é conhecido como cota sujeita a tarifa (TRQ) - que limita a quantidade de produto permitido. A indústria láctea americana teve acesso completo e irrestrito ao mercado canadense para leite diafiltrado por vários anos (o leite diafiltrado não é usado pelos processadores de lácteos americanos).

Os produtores de leite canadenses têm exigido repetidamente que Ottawa barre essas importações através da imposição de padrões de queijo canadense que requeiram que o queijo seja feito com uma certa quantidade de leite. Os produtores, particularmente aqueles em Quebec, argumentam que o produto americano está deslocando as vendas de leite canadense e estão pondo suas operações no risco. As discussões sobre o assunto estão em andamento, no entanto, nenhuma alteração às regras de importação em torno do produto foram feitas até agora.

No momento, os processadores canadenses não estão equipados para processar leite diafiltrado - embora algumas empresas estejam em processo de fazer investimentos para poder fazer isso.

Por que os americanos - e Donald Trump - estão loucos no Canadá?

Graças ao retorno da popularidade da manteiga, atualmente há uma demanda muito forte por esse produto no Canadá, o que significa um excedente de "sólidos não gordurosos". Para lidar com o excedente, a indústria de lácteos canadense criou uma nova classe de leite em março - chamada Classe 7 - para determinar o preço dos ingredientes do leite como concentrados de proteína, leite desnatado e leite em pó integral.

A nova classe, que foi retroativa, de modo que entrou em vigor em 1 de fevereiro, é parte de uma Estratégia Nacional de Ingredientes que está sendo negociada atualmente entre os produtores de leite do Canadá e seus processadores. As negociações sobre a estratégia pendente estão em andamento desde julho. Deve-se notar que Ontário realmente trouxe uma nova classe de leite na primavera de 2016 – uma medida que mais tarde levou o resto da indústria a avançar com a nova classe nacional, conforme autorizado pela Comissão Canadense de Lácteos.

Americanos, australianos e neozelandeses insistem que a nova classe de preços efetivamente os empurrou para fora do mercado de lácteos canadense. Eles querem que as novas regulamentações de preços sejam contestadas pela Organização Mundial do Comércio (OMC). A indústria dos EUA iniciou uma intensa campanha de escrita de cartas e lobby nos últimos meses, tanto a nível estadual como federal, para pedir que seus representantes façam uma retaliação à medida. Até agora, não houve nenhuma notificação formal dos americanos sobre se eles planejam levar a questão para a OMC.

A indústria de lácteos do Canadá insistiu repetidamente que a estratégia atende às obrigações comerciais do Canadá no âmbito da OMC.

Enquanto isso, um dos principais produtores americanos, Grasslands Dairy Products Inc., cancelou recentemente contratos de leite com cerca de 75 produtores de Wisconsin a partir de 1 de maio. A companhia disse que a decisão foi tomada por causa da nova regulamentação canadense. Oficiais do governo e da indústria de lácteos do Canadá contestam veementemente essas alegações e culpam a atual disputa financeira dos produtores com o enfraquecimento do mercado global de lácteos e a superprodução nos Estados Unidos.

Afinal, existe uma superprodução?

Em termos simples, sim. O mercado mundial de lácteos está atualmente superabastecido com leite, graças à superprodução e ao declínio da demanda dos consumidores, devido à crescente popularidade de bebidas como leite de amêndoa e leite de soja. As sanções russas contra as importações agrícolas ocidentais - incluindo produtos lácteos da Europa - e a demanda flutuante da China também afetaram o mercado mundial de lácteos.

Produtores de leite em todo o mundo estão lutando. A Austrália, por exemplo, aprovou recentemente um pacote de resgate de US$ 450 milhões para sua indústria de lácteos, enquanto a União Europeia ofereceu a seus produtores de leite 500 milhões de euros (US$ 536 milhões) em apoio adicional em julho passado. Nos Estados Unidos, o secretário de Agricultura Sonny Perdue, que cresceu em uma fazenda leiteira, foi recentemente bombardeado com perguntas durante sua audiência de confirmação sobre como o governo poderia ajudar a aliviar as dificuldades da indústria de lácteos do país, que está enfrentando preços historicamente baixos.

A indústria agrícola americana é fortemente subsidiada. Nos registros da OMC, os EUA informaram em 2012 que pagaram US$ 3,84 bilhões em pagamentos diretos aos produtores. Além disso, os EUA têm vários programas de apoio aos preços dos produtos lácteos em vigor para a sua indústria de lácteos que pagaram milhões em apoio ao setor.

Os produtores de leite dos Estados Unidos também estão cada vez mais preocupados se continuarão a ter acesso ao mercado de lácteos mexicano agora que o presidente dos EUA, Donald Trump, prometeu renegociar o Acordo de Livre Comércio da América do Norte. O México é o maior mercado de exportação de produtos lácteos dos americanos. Cerca de 15% da produção leiteira nos Estados Unidos é exportada, diz a Federação Nacional de Produtores de Leite - com um terço disso indo para o México sob a forma de leite em pó, queijo e proteína de soro de leite. Essas exportações são avaliadas em cerca de US$ 1,2 bilhão.

Para colocar isso em contexto, isso é quase o dobro do valor dos produtos lácteos embarcados para o Canadá, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). O Canadá é o segundo maior mercado de exportação dos Estados Unidos.

Os Estados Unidos exportam produtos lácteos para o Canadá?

Sim. De fato, os Estados Unidos são o maior exportador de produtos lácteos do Canadá. Recentes dados norte-americanos e canadenses mostram que as exportações vêm aumentando nos últimos cinco anos. Dados federais mostram que, em 2015, os Estados Unidos exportaram para o Canadá US$ 474.770.480 (149.312.542 kg) de produtos lácteos, um aumento de 54% em relação ao valor de US$ 306.783.020 (99.974,456 kg) de bens exportados em 2012.

Os Estados Unidos também têm atualmente um superávit comercial de produtos lácteos com o Canadá em torno de US$ 400 milhões.

Então, como o NAFTA se encaixa em tudo isso?

Canadá e os Estados Unidos disputam o acesso à indústria de lácteos e de aves há décadas. A agricultura tem uma tradição de ser uma das áreas mais sensíveis a tratar em uma negociação comercial e tem a reputação de ser um setor altamente protegido globalmente.

Os americanos deixaram bem claro que querem garantir mais acesso aos mercados de lácteos e aves do Canadá quando o NAFTA for renegociado. Até agora, Ottawa se comprometeu a defender o setor em qualquer negociação. No entanto, as concessões recentes poderiam tornar essas negociações desafiadoras - e os americanos sabem disso.

Pelo Acordo Comercial Econômico Abrangente (CETA) com a União Europeia, as empresas de queijos europeias obtiveram permissão para exportar 17.700 toneladas de queijo para o mercado canadense - representando cerca de 4% dos produtos de queijos do Canadá. O CETA deverá entrar em vigor ainda este ano. Como a nova cota de queijo será distribuída ainda está sendo resolvido por oficiais canadenses.

Há, ainda, a Parceria Trans-Pacífico (TPP). Sob esse acordo, o Canadá tinha concedido 3,25% de sua produção anual de lácteos aos mercados estrangeiros (os americanos esperavam 10% de acesso.) Trump formalmente retirou os Estados Unidos da TPP no começo desse ano, mas espera-se que os americanos tentarão recuperar os ganhos de mercado em uma renegociação do NAFTA.

As informações são da Hoards.com e do https://ipolitics.ca, traduzidas pela Equipe MilkPoint. 

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