A empresa familiar, que surgiu em novembro de 1911, foi um sonho que virou realidade nas mãos de Mário Silvestrini, imigrante italiano que iniciou a sua história em Lambari/MG. Sua esposa, Isaíra Silvestrini, inicialmente fazia a receita caseira do requeijão para o consumo da família, mas devido ao sucesso do produto, os amigos próximos pediram para que passasse a comercializá-lo. A partir dessa trajetória, a produção do requeijão expandiu e a marca Catupiry – que na língua indígena brasileira (tupi-guarani) significa “excelente” – começou a ganhar corpo. A famosa caixinha redonda, feita com uma fina folha de madeira, era confeccionada uma a uma, com rótulo nas cores vermelho, azul e branco.
Para fabricar o produto em maior escala, Mário buscou alguns parceiros para fazer negócio e a empresa passou a funcionar em um esquema de sociedade: a família Silvestrini e mais outras cinco famílias (que permanecem na gerência até hoje). Em 1922, o requeijão passou a ser industrializado na cidade de São Lourenço/MG e na década de 1940, a empresa expandiu o seu parque fabril para as cidades de Bebedouro e Santa Fé do Sul – na época, duas bacias leiteiras no Estado de São Paulo.
Segundo Vilson Sanchez, Superintendente da Catupiry e entrevistado pela Equipe MilkPoint, além dessas duas plantas, há uma em Santa Vitória/MG e outra em Doverlândia/GO. “Na cidade de São Paulo temos o nosso escritório e duas lojas próprias para vendas diretas dos produtos ao consumidor final. Chamadas de “Delícias do Catupiry”, elas ficam nos bairros de Moema e do Bom Retiro. Em Bebedouro também temos um estabelecimento assim. As lojas vendem massas prontas, tortas doces e salgadas, pizzas, salgadinhos, entre outros”.
“A inspiração para a criação do requeijão partiu das primeiras pessoas que experimentaram a receita no início da criação. As tão adoradas caixas de madeira são vantajosas com relação ao plástico porque absorvem a umidade do requeijão, deixando-o mais gostoso e sequinho. A caixinha ainda é encontrada nas lojas, mas a demanda é tanta que estamos estudando voltá-la ao mercado no ano que vem”, destaca Vilson. Segundo ele, não é tão fácil encontrar a madeira ideal e quem a produza, até porque a ideia é que ela seja oriunda do reflorestamento. Na década de 1990 a troca da madeira pelo plástico (polipropileno) fez com que aparecessem outros formatos de embalagens, como bisnagas, sacos de dez quilos e baldes (especialmente desenvolvidos para serem vendidos às pizzarias).
Todas as indústrias da Catupiry são equipadas com laboratórios de microbiologia e se porventura chega um leite com qualidade inferior e/ou despadronizado, é descartado ou devolvido ao fornecedor. “Não é à toa que a nossa marca nunca esteve envolvida em nenhuma fraude ou problemas do tipo”, ressalta.
O processo de fabricação do requeijão, mantido em segredo desde 1911, é considerado semiartesanal, pois os funcionários – que trabalham há anos na empresa – só de olharem para o produto sabem se tem algo errado com ele. “Eles sabem dizer se precisa de um pouco mais de creme ou um pouco mais de massa. Para produzir, nós fazemos o desnate do leite, o que gera o creme de leite (matéria gorda). Com o leite desnatado fazemos uma massa e o nosso requeijão é basicamente composto por esses dois derivados lácteos”, ponderou o superintendente. As vendas por mês do requeijão tradicional somam 800 toneladas.
Questionado sobre a crise, Vilson disse que a empresa sentiu o impacto já que o preço do leite subiu este ano devido aos altos custos de produção, consequentemente afetando os custos, a margem e a rentabilidade dos laticínios. “O consumidor também ficou apertado e o requeijão não tem margem de manobra para subir de preço, pois se isso ocorre, ele é substituído pelas margarinas por exemplo. O produtor também se sentiu prejudicado e do nosso ponto de vista, o mercado lácteo ficou abalado pela crise. A indústria deve ter a consciência de que os produtores são as nossas ‘galinhas de ouro’, precisamos valorizá-los, pois muitos inclusive estão abandonando a atividade”. Segundo ele, no Brasil faltam subsídios tanto para os produtores como para as indústrias. “Nos nossos países vizinhos – Argentina e Uruguai – a atividade é mais reconhecida”.
Mesmo com alguns percalços ao longo do caminho, a empresa está prevendo um crescimento de 20% em 2016 – suportado pelo aumento do portfólio de produtos, melhorias na distribuição, ações de marketing e melhor divulgação da marca.
Além do tradicional requeijão (linha culinária), encontrado no sachê ou na caixinha de plástico nos sabores tradicional, light, alho poró, tomate seco, quatro queijos e cheddar, a Catupiry possui o requeijão no copo (tradicional ou light), requeijões aromatizados (azeitonas pretas, ervas finas, peito de peru e tomate seco), cream cheese, fondue e a linha de quitutes (empadas, pão de queijo, quiches e tortinhas).
“Vale a pena destacar que o requeijão do sachê e caixinha é o mesmo. O do copinho, é um outro produto. O primeiro, chamamos de um produto culinário e o outro é para lanches ou passar no pão/torrada. Nos requeijões com sabor usamos produtos de verdade, então o consumidor encontrará pedaços de tomate seco na massa por exemplo”. Vilson antecipou que em breve novos lançamentos estarão disponíveis.
“O nome Catupiry hoje é extremamente disseminado no Brasil entre os cardápios de restaurantes e lanchonetes, porém, nem sempre o produto original da marca é usado e não temos como controlar isso – só na cidade de São Paulo existem mais de 5.000 pizzarias por exemplo. Quando são estabelecimentos grandes, buscamos estabelecer uma parceria, conversando com o proprietário e oferecendo os produtos da Catupiry. Normalmente a aceitação é boa, pois contextualizamos e eles entendem perfeitamente. Não vemos mais isso como um problema para nós”, concluiu Vilson.