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Visão sistêmica da produção

POR ROBERTA ZÜGE

NA MIRA

EM 01/12/2012

4 MIN DE LEITURA

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Devido às atividades de implementação de requisitos de normas de qualidade, tenho tido a oportunidade de visitar muitas propriedades, cooperativas, indústrias, entre tantas organizações do setor agropecuário, de diversas regiões do Brasil.

Além, claro, de realizar minhas atividades profissionais, sempre aprendo muito, sobre os diversos costumes e, divirto-me com tantas histórias que existem no nosso meio, também com os sotaques, termos e as práticas regionais. Muitas vezes fazemos piadas dos nossos erros. Mas, sempre com o intuito de alertar para os problemas que podem surgir. Nas diversas apresentações realizadas, busco pontuar e ilustrar as situações corriqueiras, mas observada sob uma ótica divertida, o que demonstra nossos problemas e, também, oportunidades de melhorias sem causar constrangimentos.

No entanto, há um ponto que sempre me perturba, independente do público, podendo ser da agricultura familiar, cooperativas de distintos portes, grandes propriedades, etc.: a ausência de uma visão sistêmica da produção.

Visitando propriedades, às vezes somente para identificar um ponto, como exemplo, a busca pelo incremento do volume de leite, quando questiono sobre as questões de armazenamento dos alimentos recebo olhares desconfiados como: “mas que raios essa mulher implica tanto com os gatos? Afinal, eles estão ali, com os bezerros ou sob o feno, para controlar os ratos”. Assim que recebo a resposta: que os gatos são o controle biológico dos ratos (frase dita por um grande amigo produtor de leite) sei que tenho muito trabalho a frente.

Corriqueiramente, o produtor investe em genética, diversos medicamentos, alimentos com qualidade, entre vários itens necessários para uma boa produção de leite, mas não se preocupa com o armazenamento de seus insumos. As sacarias estão sobre o solo, em contato com animais (domésticos e silvestres), sem controles de pragas, expostos a umidade, calor e as nossas impressionáveis variações de temperatura ambiente. Como iremos produzir alimentos seguros para os humanos, sem alimentar nossos animais seguindo estes preceitos?

Há uma dificuldade em relacionar problemas que estão acontecendo na propriedade, como baixa produção, abortos, repetição de cio, natimortos, alta mortalidade de bezerros, entre vários itens, aos nossos galpões (quando estes existem) de armazenagem da “comida das vacas”. Claro que, muitas destas enfermidades, podem ter diversas etiologias, mas um armazenamento inadequado proporciona um ambiente ideal para proliferação de pragas1 e de vetores2.

Historicamente são conhecidos os problemas decorrentes das pragas. Passagens bíblicas descrevem também estas parábolas. Evidenciando, não somente os riscos à saúde, por meio de diversas enfermidades transmitidas, mas também pelos prejuízos que causam na inadequada estocagem dos nutrientes, nas contaminações de embalagens, dos produtos e no ambiente. Na produção de leite, as enfermidades causadas pelas pragas e vetores prejudicam a produtividade e a sanidade do produto, favorecendo, do mesmo modo, a transmissão de doenças aos trabalhadores.

Os roedores sinantrópicos, que convivem no mesmo ambiente do homem, podem transmitir diversas enfermidades como: leptospirose, salmonelose, leischmaniose, peste bubônica, sarna, micoses, hantavirose, entre outras. Assim como os roedores, a mosca doméstica também é transmissora de enfermidades tais como: mastite, diarreias, febre tifoide, conjuntivite, tuberculose, erisipelas, lepra, gonorréia, cólera, meningite cérebro-espinal, peste bubônica, varíola e até poliomielite; outras enfermidades também são relatadas.

Muito se pode descrever sobre enfermidades e suas consequências, como as repetições de cio que podem ser ocasionados pela leptospirose (que tem o rato como principal vetor nas propriedades) e os abortos ocasionados pela toxoplasmose, enfermidade causada pelo agente Toxoplasma gondii, que possui os felídeos como hospedeiros definitivos; sendo os mamíferos e as aves, considerados hospedeiros intermediários. Poderia descrever muitas outras doenças, mas, sem dúvida, outros artigos com mais detalhamento, estão disponíveis para consulta em uma pequena busca rápida na rede.

Além destas enfermidades, a ausência de controles de pragas pode ser sentida no bolso, cada ratazana consome cerca de 30g de alimentos e estraga outros 30. Assim, a cada 30 dias, gastam-se cerca de 1.800g de alimentos com cada rato da propriedade. São quase dois quilos, por rato. E, obvio, sempre buscam os alimentos mais nobres, especialmente se estão com acesso fácil.

No trabalho realizado no projeto de elaboração e validação da norma de certificação de leite, uma empresa parceira (Sanex) nos proporcionou um levantamento de pragas e vetores, em oito propriedades de leite pertencentes ao projeto piloto (disponível “Controle de Pragas e Vetores na Produção Integrada de Leite”), quando apresentamos os resultados, houve um impacto por parte dos produtores. Um deles brincou “Puxa, não sabia que tinha um biotério”. Os profissionais demonstraram também o quanto se perdia em ração só na estimativa de número de pragas identificadas. Isto sem mensurar as perdas pelas enfermidades.

Pode-se argumentar muito mais sobre a necessidade de controle de praga e vetores na propriedade. Além das doenças transmitidas aos animais, que causam grande impacto econômico, temos também a saúde do nosso produtor e dos nossos trabalhadores, que são custos mais difíceis de mensurar. Aliados a estes impactos de saúde animal e do homem, temos ainda que dividir nosso investimento em alimentação (que todos buscam mitigar, pois é um dos itens mais impactantes no orçamento) com os ratos, ou seja, alimentamos nossos inimigos- às vezes mortais, na propriedade.

Com isto, um controle efetivo deve ser preconizado, em consonância com um armazenamento adequado dos alimentos. Estas medidas não requerem grandes investimentos, uma organização da área, com a retirada de entulhos e inservíveis, colocação das sacarias em pallets, com distanciamento de paredes e teto, manter o chão limpo (sem restos de alimentos), entre outras medidas cabíveis, já diminuem a possibilidade de proliferação. O ideal é realizar um levantamento de pontos de controle, utilizar meios adequados e preconizados para estas pragas identificadas, monitorar e realizar uma organização do armazenamento de alimentos que atendam as boas práticas.

Obs.1: Antes de tudo, adoro gatos. Mas a minha fica em casa e só tem contato com as vacas de pelúcia e de porcelana, as únicas que entram no meu apartamento. E o gato não é controle biológico do rato, ele também pode transmitir enfermidades ao rebanho.


Nota:
1. Pragas: organismos que se multiplicam desordenadamente mediante condições favoráveis.
2. Vetores: organismos vivos que podem transmitir uma enfermidade.

ROBERTA ZÜGE

Membro do CCAS.
Consultora técnica em fazendas e industrias de alimentos com foco no atendimento a requisitos legais e normas de qualidade. Coordenou o projeto da norma Brasileira de Certificação de Leite (MAPA/Inmetro).
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ROBERTA LISBOA PONTES GESTAL DE SIQUEIRA

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 28/01/2013

Roberta , parabéns pelo conteúdo da matéria. Esquecemos que o Brasil tem um n de fazendas muito grande e que medidas simples precisam ser adotadas e valorizadas no dia dia de cada uma e que o resultado final eglobal seria expressivo.
Minha sugestão a você e que divulgue fotos de propriedades que adotam estas medidas simples e eficientes.
PAULA CRISTINA MARCONDES LÁRIOS

MATO GROSSO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 28/01/2013

Roberta
Eu como produtora rural e médica veteriñária concordo em partes, mas a questão do gato é difícil
O nosso armazem estava com muitos roedores, de dia, então o grau de competição pelos alimentos estava acirrado, meu pai pegou vários filhotes de gatos e soltou ao redor do armazém (gatos vacinados e vermifugados em esquema metódico), e hoje quase não vemos ratos, é um controle biológico sim, infelizmente é a arma que podemos lutar e nos custa barato.
Fazemos vacinação e vermifugação para não termos nenhum problema de saúde pública
Muitas pessoas acham que é ignorância essa história do gato, mas só quem tem uma propriedade sabe das dificuldades que temos com roedores, claro que os gatos não ficam na ordenha, eles limitam-se a área do armazém.
Um dia quando soubermos um controle efetico de roedores podemos deixar de utilizar os gatos, e eu já fiz até curso com brasileiro que cuida com controle de roedores em Cuba (médico veterinários tbm), e ele mesmo assume que é impossível acabar com roedores.

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