A bactéria Staphylococcus aureus continua sendo o principal agente contagioso da mastite bovina, resultando em alta contagem de células somáticas no leite. A prevalência deste agente pode ser reduzida a longo prazo nos rebanhos afetados através da aplicação de medidas de manejo como a desinfecção dos tetos após a ordenha, tratamento de vaca seca, associadas em muitas situações com a segregação de animais infectados e descarte de vacas com mastite crônica. No entanto, muitos rebanhos ainda apresentam elevado número de animais infectados por Staphylococcus aureus, reduzindo a sua produção leiteira e diminuindo a qualidade do leite.
Muitas das práticas recomendadas para controle de Staphylococcus aureus, como a segregação e descarte, não são de fácil aplicação pelo seu alto custo em muitas fazendas e, portanto, vários novos métodos para tratamento de mastite causada por S. aureus têm sido estudados. As principais estratégias usadas recomendam o aumento da duração do tratamento dos casos de S. aureus, em especial nas vacas que não apresentam mastite crônica, pois neste casos há uma melhor resposta ao tratamento. De forma geral, os resultados com o uso da terapia estendida são de aproximadamente 40% de taxa de cura, o que em muitos casos não é economicamente viável, devido ao alto custo do descarte do leite com resíduo de antibióticos.
Diante deste quadro, outra forma de melhorar a eficácia dos tratamentos contra S. aureus seria através do aumento da capacidade de reposta imune do animal pela nutrição (suplementação de vitamina E, Se) e pela vacinação. Para avaliar a influência da vacinação sobre a resposta do tratamento contra mastite por S. aureus foi desenvolvido um estudo em sete fazendas comerciais. As vacas com infecção intramamária por S. aureus foram identificadas por cultura microbiológica e submetidas a um dos seguintes tratamentos: tratamento intramamário com 3 doses de pirlimicina ou vacinação contra S. aureus + tratamento intramamário com 3 doses de prilimicina. Para as vacas vacinadas contra S. aureus, o esquema de vacinação envolveu duas doses antes do tratamento, com o intervalo de duas semanas entre as duas primeiras vacinações e uma terceira dose aplicada uma semana após o tratamento.
Para a avaliação da eficácia dos tratamentos, foram coletadas amostras de leite antes do tratamento (duas amostras) e após o tratamento (14, 21 e 28 dias após a última aplicação de antibiótico). Os resultados demonstraram que a taxa de cura para infecções causadas por S. aureus nas vacas tratadas apenas com pirlimicina foi de aproximadamente 21% dos quartos tratados, o que é bastante similar com a maioria dos estudos avaliando a taxa de cura de infecções causadas por S. aureus. No entanto, o tratamento com antibiótico juntamente com a vacinação apresentou melhora na taxa de cura, a qual variou entre 64% e 86% dos quartos tratados. Outro fato importante é que a CCS do leite após o tratamento apresentou redução após 21 dias do tratamento, sendo que o grupo de vacas vacinadas teve maior diminuição da CCS no leite que o grupo tratado apenas com antibiótico. Para exemplificar esta redução da CCS, o grupo de vacas vacinadas teve redução média de 2.470.000 cél/ml para 540.000 cel/ml, enquanto que as vacas que foram apenas tratadas com antibiótico intramamário teve redução da CCS de 2.320.000 cél/ml para 1.100.000 cél/ml. Esta maior redução da CCS das vacas que foram vacinas é explicada pela maior taxa de cura das infecções causadas por S. aureus neste grupo de animais.
Tabela 1 - Taxa de cura de infecções intramamária por S. aureus em sete fazendas usando tratamento com antibiótico ou tratamento com antibiótico+vacinação contra S. aureus
De forma geral, infecções crônicas não respondem bem ao tratamento com antibiótico. Ainda que esta estratégia de associar tratamento intramamário com vacinação para melhoria da taxa de cura de infecções causadas por S. aureus não possa ser uma recomendação prática para todos os rebanhos, esta é mais uma alternativa que vem sendo apresentada para a diminuição da prevalência de S. aureus em rebanhos leiteiros. É preciso destacar, porém, que esta estratégia, ou mesmo o descarte e segregação dos animais infectados, só terá sucesso com uma boa prevenção das novas infecções, as quais ocorrem geralmente no momento da ordenha. Desta forma, é de fundamental importância que seja feita a desinfecção dos tetos após a ordenha, cuja principal função é evitar a transmissão de novos casos de mastite contagiosa.
Fonte: 2o International Symposium on Mastitis and Milk Quality, Vancouver, Canadá, p. 44-47, 2001.