Para exemplificar o potencial desse tipo de leite, basta dizer que, em média, a composição do leite de búfala pode atingir 8,3% de gordura e 4,8% de proteína, o que confirma o grande potencial como matéria-prima para a fabricação de queijos.
Tradicionalmente, considera-se que a búfala é menos susceptível à mastite do que a vaca. Essa maior resistência às infecções intramamárias poderia ser explicada, em grande parte, por algumas características como o menor diâmetro e maior extensão do canal do teto, o que dificulta a invasão de microrganismos.
Por outro lado, também é verdadeiro que as búfalas têm um úbere mais pendular e tetos maiores, o que pode aumentar o risco de ocorrência de mastite. Independentemente, dessas particularidades da espécie, os bubalinos apresentam praticamente os mesmos problemas sanitários que os bovinos, o que significa dizer que a mastite também pode ser considerada a doença que mais afeta a produção e qualidade do leite das búfalas.
Com o objetivo de estudar a prevalência de infecções intramamárias em búfalas durante toda a lactação e, adicionalmente, identificar os agentes causadores mais prevalentes e a relação entre CCS e produção de leite, foi desenvolvido um estudo em dois rebanhos bubalinos na Itália, com total de 300 animais em lactação.
Os rebanhos foram visitados mensalmente durante toda a lactação para a coleta de amostras de leite para cultura microbiológica (identificação dos microrganismos causadores de mastite) e para a realização de CCS e composição do leite (gordura e proteína). Ao final do estudo foi analisado um total de 1912 amostras de leite.
Em termos de prevalência da infecção, do total de 1912 amostras coletadas, 63% dos quartos estavam infectados, o que indica uma alta prevalência da doença. Além disso, nenhuma búfala permaneceu livre de infecções intramamárias ao longo do estudo.
Dentre os quartos infectados, os agentes causadores mais comuns foram os estafilococos coagulase-negativa (78% das amostras). No início da lactação, a prevalência da mastite era baixa, atingiu o máximo de 79% animais infectados no terceiro mês de lactação e retornou para níveis de cerca de 60% após o sexto mês de lactação.
Distribuição dos principais agentes causadores de mastite dentro das amostras de quartos infectados (n=1204)
A CCS foi um bom indicador da ocorrência de mastite, sendo que 100% dos quartos com valores acima de 200.000 cel/ml estavam infectados, enquanto que 98% dos quartos com CCS abaixo desse limite não apresentaram a infecção. Isso indica uma alta sensibilidade (99,1%) e alta especificidade (100%) para o uso da CCS como indicador da ocorrência de mastite subclínica em búfalas.
Entre os fatores associados com a ocorrência de mastite subclínica, o estágio de lactação foi um dos que mais apresentaram efeitos, uma vez que o risco de uma infecção intramamária foi de 6,3 vezes maior no final da lactação do que no início. Outros fatores de risco importantes foram a maior produção de leite e o número de parições, sendo que animais com maior produção e mais velhos foram mais susceptíveis a ocorrência de mastite.
Observou-se, também, que os animais infectados não apresentaram redução significativa da produção de leite em relação aos animais sadios, o que indica que a ocorrência de mastite subclínica, nas condições do estudo, afeta pouco a produção.
Além disso, diferentemente da vaca, as búfalas infectadas não apresentaram elevados valores de CCS, o que em parte pode ser explicado pela distribuição dos patógenos causadores de mastite nesses rebanhos, pois o agente mais comum (estafilococos coagulase-negativa) tem como característica uma baixa elevação da CCS nos animais infectados.
Os resultados do estudo indicam que em função da pequena diferença de produção de leite entre quartos com alta e baixa infecção, não se justificaria o tratamento intramamários com antibiótico para casos de mastite subclínica em búfalas durante a lactação.
Fonte
Moroni, et al., Journal of Dairy Science, v. 89, p.998-1003, 2006.