No entanto, os resultados de pesquisa apontam que o fator principal determinante da elevação da CCS é a ocorrência de infecção intramamária. Em outras palavras, os fatores anteriormente mencionados somente têm relevância como fatores de risco para ocorrência de mastite e, desta forma, podem estar associados apenas indiretamente com a elevação da CCS.
Já que a ocorrência de uma infecção intramamária é a principal determinante da CCS em vacas leiteiras, da mesma forma, o tipo de bactéria causadora de mastite pode ter impactos bastante variados sobre a CCS. Classicamente, os agentes causadores de mastite podem ser classificados como patógenos principais e secundários. Os patógenos principais mais comuns incluem o S. aureus, S.agalactiae, coliformes, estreptococos e enterococos de origem ambiental. Dentre os patógenos secundários destacam-se Staphylococcus sp. coagulase negativa e Corynebacterium sp. Essa classificação leva em conta o fato de que os patógenos principais são assim considerados, pois resultam em maiores variações da composição do leite e da CCS.
Um estudo recente, desenvolvido por pesquisadores da Embrapa Gado de Leite e da UFMG, teve como objetivo determinar o efeito individual de cada patógeno causador de mastite sobre a CCS em rebanhos comerciais, além de avaliar também a influência do tipo de rebanho, ordem de parto e período de lactação. O estudo foi desenvolvido em 24 rebanhos de 11 municípios dos estados de MG e RJ. Foram analisados 2.657 animais, dos quais foram coletadas 3.987 amostras compostas de rebanhos com composição racial variando de especializado a mestiço (Holandês = 3, Jersey = 3, Pardo Suíço = 1, Holandês x Gir = 17). As análises realizadas foram a CCS e a cultura microbiológica.
Do total de amostras coletadas, em 30,3% não foi verificado crescimento e no restante foi identificado pelo menos um tipo de agente causador de mastite, indicando a ocorrência de infecção intramamária. Dentre as amostras com apenas um tipo de isolamento, foram isolados 826 (31,6%) Corynebacterium spp., 790 (30,2%) S. aureus, 551 (21,1%) S. agalactiae, 466 (17,8%) Staphylococcus spp. coagulase negativo e 351 (13,4%) Streptococcus spp. que não S. agalactiae. Em todos os rebanhos estudados, foram isolados Corynebacterium spp., Streptococcus spp. que não S. agalactiae e Staphylococcus spp. coagulase negativo.
Em relação à CCS, nas amostras de leite sem crescimento bacteriano a média de CCS foi de 264.000 células/mL e em 50,0% dessas a CCS foi menor ou igual a 24.000 células. Por sua vez, as amostras com isolamento de pelo menos um patógeno da mastite apresentaram média da CCS de 779.000 células/mL, em 50,0% dessas a CCS foi igual ou maior que 342.000 células/mL. O S. agalactiae foi o agente que determinou a maior elevação de CCS, com média de 1.520.000 células/ml e em 50% das amostras deste agente a CCS estava acima de 923.000 células/ml. Na sequência, S. aureus e Streptococcus spp. que não S. agalactiae foram responsáveis pela segunda e terceira maior elevação da CCS, com médias de CCS de 966.000 e 894.000 células/mL, respectivamente. Entre os patógenos secundários, Corynebacterium spp. e Staphylococcus spp. coagulase negativo apresentaram, em média, a CCS de aproximadamente 400.000 células/mL.
Tabela 1. Variação da contagem de células somáticas (x 1.000/mL) de acordo com a presença de infecção intramamária, a presença de infecção mista, o tipo de infecção mista e o tipo de agente etiológico.

Os resultados do estudo indicam que os diferentes patógenos causadores de mastite causam infecções intramamárias com intensidade e resposta imune variável. Dos fatores estudados, os considerados significativos foram: rebanho, ordem de parto, estação do ano, presença de S. agalactiae e de Streptococcus spp. que não S. agalactiae.
Os resultados de CCS em função da ordem de parto e da presença de infecção intramamária estão apresentados na Tabela 2.
Tabela 2. Médias do escore linear da contagem de células somáticas de acordo com a ordem de parto e a presença de infecção.

Estes resultados indicam que ocorre aumento da CCS com o aumento do número de lactações, e que existe um efeito de ordem de parto, independentemente da presença ou não de infecção. Entretanto, conforme os dados da tabela 2, os valores médios da CCS dos animais de acordo com a ordem de parto, foi aproximadamente duas vezes maior para amostras com isolamento em relação às que não apresentaram crescimento bacteriano, indicando que a ocorrência de infecção foi considerada como principal fator responsável pela variação da CCS.
Fonte: Souza et. al. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.61, n.5, p.1015-1020, 2009.