O mercado de alimentos orgânicos tem apresentado um ritmo acelerado de crescimento nos países desenvolvidos, especialmente nos últimos anos, atingindo taxas de crescimento de até 20% ao ano em alguns países europeus. Os maiores mercados destes produtos estão localizados nos países desenvolvidos em virtude do seu maior preço, cerca de 30% maior que o dos produtos convencionais, sendo que a baixa produtividade de fazendas orgânicas é apontada como uma das causas dos custos mais elevados.
Ainda que a grande maioria dos potenciais consumidores de produtos orgânicos tenha maior poder aquisitivo e, conseqüentemente, maior nível educacional, grande parte deles não sabe exatamente quais as vantagens e características que diferenciam alimentos orgânicos dos convencionais. Recentemente, alguns países da Europa, principalmente Dinamarca e Áustria, começaram a apresentar excesso de produção de leite orgânico em relação à demanda por leite e outros derivados, o que pode ser um indicativo de que a onda da produção orgânica, ainda que tenha um mercado de alto poder aquisitivo, deve ser baseada em ampla campanha de divulgação de informações sobre os reais benefícios do consumo de alimentos orgânicos.
Sendo assim, acredito ser importante conhecermos melhor como está a saúde da glândula mamária nos rebanhos orgânicos, uma vez que esta é uma característica extremamente importante sobre a qualidade do leite. Inicialmente, é preciso esclarecer que as principais características da produção de leite orgânico são: não utilização de fertilizantes químicos no solo ou agrotóxicos, dietas baseadas em forragens e a não utilização de antibióticos de longa ação para o tratamento de vaca seca. Em rebanhos orgânicos preconiza-se o uso de tratamentos alternativos como a homeopatia, uso de linimentos e massagens. Somente nos casos muitos severos em que há o risco de vida do animal, o uso de antibióticos é permitido com o acompanhamento de um veterinário, não sendo permitido utilizar para nenhuma finalidade o leite durante o período de carência e, em alguns casos, o animal deve ser vendido a outro produtor. Para que um rebanho seja certificado como produtor de leite orgânico, há a necessidade de certificação por uma entidade com reconhecida credibilidade.
Em um estudo feito na Inglaterra durante o período de 3 anos em 10 fazendas produtoras de leite orgânico, foram monitorados diversos parâmetros relacionados com a saúde da glândula mamária destes rebanhos. Os resultados do estudo apontam que a incidência de casos clínicos de mastite não foi diferente entre os rebanhos orgânicos e convencionais durante a lactação. Entretanto, houve uma maior incidência de mastite clínica durante o período seco, uma vez que não era feito o tratamento de vaca seca no momento da secagem. Ficou demonstrado que, nestas condições, o principal agente causador de casos clínicos de mastite foi o Streptococcus uberis, um patógeno ambiental.
A contagem média de células somáticas dos rebanhos orgânicos foi significativamente maior que a encontrada nos rebanhos convencionais da Inglaterra, o que indica maior ocorrência de mastite subclínica e principalmente, maior prejuízo nestes rebanhos pela redução na produção de leite e maior incidência de penalidades sobre o preço do leite. Os rebanhos convencionais da Inglaterra apresentam a CCS média 167.000 cél/ml, enquanto que a CCS dos rebanhos produtores de leite orgânico apresentaram o valor médio de 244.900 cél/ml (46,7% maior).
Para os demais problemas de saúde, como os problemas metabólicos (febre do leite e cetose), retenção de placenta e abortos, os rebanhos orgânicos apresentaram índices semelhantes aos encontrados nos rebanhos convencionais.
O estudo aponta ainda para a necessidade de novos conhecimentos sobre tratamentos alternativos eficientes, uma vez que a retirada completa dos antibióticos da rotina das fazendas leiteiras ainda é bastante difícil, sem que haja efeitos adversos sobre o bem estar animal e a produtividade dos rebanhos orgânicos.
Tabela 1 - Incidência de problemas de saúde em 10 rebanhos produtores de leite orgânico durante o período de 3 anos
Fonte
Vet. Rec. 146:80-81, 2000.