A partir deste radar técnico, estaremos abordando os principais assuntos que foram discutidos no II Simpósio Internacional sobre Qualidade do Leite, realizado em Curitiba de 5 a 8 de outubro de 2000. O II SIQL teve a participação de 4 palestrantes internacionais e vários palestrantes nacionais, contando ainda com a presença de mais de 450 participantes.
Um dos temas centrais do simpósio foi a situação atual da qualidade do leite no mundo. Grande ênfase foi dada ao papel destacado pelo consumidor, que paulatinamente vem exigindo de toda a cadeia láctea produtos alimentícios não apenas seguros e de alta qualidade, tendo havido também preocupação crescente com a saúde e bem estar dos animais que produzem o leite.
É importante destacar que, em termos mundiais, as normas utilizadas para o comércio internacional são definidas pelo Codex Alimentarius, que é um órgão da FAO/OMS, cuja função primordial é definir normas mínimas para garantir a segurança dos produtos que são comercializados internacionalmente. De acordo com o Codex, os alimentos de forma geral devem apresentar:
a) Baixas contagens bacterianas
b) Ausência de microrganismos patogênicos ao homem
c) Sem a presença de resíduos de medicamentos veterinários
d) Mínima contaminação com contaminantes químicos ou toxinas microbianas.
Ainda que não exista nenhuma recomendação atual sobre a contagem de células somáticas (CCS) no leite, este é um parâmetro mundialmente reconhecido para avaliar a qualidade do leite. Só para exemplificar, o limite máximo legal para a CCS do leite consumido nos países da União Européia, Nova Zelândia e Austrália é de 400.000 cel/ml, no Canadá é de 500.000 cel/ml e nos EUA de 750.000 cel/ml. No Brasil, a nova legislação de deverá entrar em vigor a partir de 2001 já contempla a CCS como critério para avaliar a qualidade do leite, estabelecendo o limite máximo de 1.000.000 cel/ml para o leite C e 600.000 cel/ml para os leites A e B.
O produtor pode estar se perguntando qual a relação entre CCS no leite e qualidade. Inicialmente, a CCS reflete a saúde da glândula mamária do rebanho, indicando a ocorrência de mastite, mas sem nenhuma relação direta com riscos à saúde dos consumidores. Alguns trabalhos de pesquisa, no entanto, têm associado a presença de altas CCS com maiores riscos da presença de antibióticos no leite e condições higiênicas piores do que aquelas encontradas em rebanhos com baixa CCS. Atualmente, reconhece-se que a CCS do tanque é um bom indicativo da qualidade geral do manejo e saúde da glândula mamária nos rebanhos.
Resultados da evolução da CCS no leite produzido no Canadá e as medidas auxiliares implantadas naquele país podem servir de alerta para os responsáveis pela implantação do nosso Programa Nacional para Melhoria da Qualidade do Leite. Em 1989 foi estabelecido o limite máximo de 800.000 cel/ml, com redução anual de 50.000 cel/ml neste limite até atingir o patamar de 500.000 cel/ml em 1995.
Atualmente, a CCS média no Canadá é de 225.000-260.000 cel/ml nos últimos dois anos, sendo que a província da Columbia Britânica apresenta a CCS média de 172.000 cel/ml dos seus 792 produtores.
É importante lembrar que tal progresso só foi possível com a implantação de um intenso programa de treinamento de técnicos e produtores, programas de acompanhamento dos avanços à medida que novos limites eram implantados, assim como incentivos em bônus sobre o preço do leite e penalizações para produtores que durante 3 meses consecutivos produziram leite com CCS acima do limite legal.
fonte: Anais do II Simpósio Internacional sobre Qualidade do Leite, 2000.