O controle de mastite em vacas adultas é um dos grandes desafios dos produtores de leite, os quais contam com diversas medidas de controle. Contudo, em muitos rebanhos, as novilhas antes mesmo da primeira parição já se encontram infectadas, ocasionando perdas no potencial de produção de leite e aumento da CCS, tão logo estes animais de reposição sejam integrados ao do rebanho.
As estimativas de estudos científicos indicam que praticamente metade (50%) das novilhas pode apresentar infecções intramamárias antes do primeiro parto. Uma das possíveis medidas para controle destes casos de mastite é o tratamento intramamário antes do parto, o que pode ser feito com o emprego de produtos intramamários para vaca seca (acima de 60 dias antes do parto) ou para vaca em lactação (7 a 14 dias antes do parto). Ambos os procedimentos de tratamento apresentam boa taxa de cura e mostraram-se economicamente viáveis, pois poderiam aumentar a produção de leite e reduzir a CCS dos animais tratados.
Entretanto, os benefícios do tratamento de novilhas antes do parto dependem da situação de cada rebanho, pois quanto maior a prevalência de mastite nas novilhas e quanto maior a média de produção dos animais, maior é o retorno do tratamento.
Para avaliar se o tratamento intramamário em novilhas traz benefícios em termos de produção futura de leite, na redução da CCS e no desempenho reprodutivo foi desenvolvido um amplo estudo em 9 rebanhos do Canadá e EUA. No total, foram avaliadas 561 primíparas, as quais foram divididas aleatoriamente em dois grupos, sendo que um deles recebeu o tratamento intramamário com cefapirina em todos os quartos (entre 10 e 21 dias antes do parto), e ou outro não foi tratado. Foram coletadas amostras de leite dos quartos imediatamente antes do tratamento e nas semanas 1, 2 e 3 no pós-parto para identificação da presença de microrganismos causadores de mastite. Além disso, os animais do estudo foram monitorados quanto à produção de leite, à CCS, à ocorrência de mastite clínica, ao número de serviços por concepção e à duração do período de serviço.
Em termos gerais, cerca de 34% dos quartos mamários de todos os animais avaliados estavam infectados com um microrganismo causador de mastite antes do parto, e aproximadamente 63% das novilhas estavam infectadas em pelo menos um quarto. Os principais microrganismos causadores de mastite em novilha foram os estafilococos coagulase-negativa, sendo identificado em 74,8% das amostras. O tratamento intramamário antes do parto apresentou taxa de cura de 59,5% nos quartos mamários tratados, resultando em redução de 51,9% da mastite nas novilhas, destacando-se que houve grande variação nos resultados em função dos rebanhos.
Contudo, o tratamento não teve impacto significativo na produção de leite e na CCS, quando se comparou os animais tratados e não tratados, assim como não se verificou efeitos do tratamento sobre o desempenho reprodutivo. Deve-se ressaltar que os quartos não tratados tiveram 31,7% de cura espontânea, o que indica que este percentual de primíparas teve capacidade de recuperação da infecção mesmo sem o tratamento.
Ainda que o tratamento tenha reduzido as infecções intramamárias nas novilhas, os resultados do estudos não demonstraram resposta em termos de produção de leite e redução de CCS. Os resultados desse estudo indicam que a adoção do tratamento intramamário de novilhas antes do primeiro parto não deve ser uma recomendação para todos os rebanhos, pois existem grandes variações de resposta em função da situação de cada rebanho, quanto ao aumento da produção de leite e da redução da CCS. É de se esperar, entretanto, que os rebanhos com alta prevalência de mastite em novilhas tenham maiores benefícios desse tratamento, o que justificaria a sua utilização como medida de controle.
Referência Bibliográfica:
Borm, et al., Journal of Dairy Science, vol. 89, p. 2090-2098, 2006.