Marcos Veiga dos Santos
As avaliações genéticas sobre as características de resistência à mastite começaram a ser realizadas pelos programas de melhoramento genético americano, a partir de 1994. Entretanto, mesmo considerando que a mastite tem um elevado impacto econômico negativo, as avaliações genéticas relacionadas com a resistência à mastite ainda não despertaram um grande interesse por parte dos produtores e técnicos. Desta forma, é interessante conhecermos quais as atuais perspectivas do uso de ferramentas de melhoramento genético para o controle de mastite.
A avaliação de características de resistência à mastite só foi possível pois aproximadamente 1,8 milhões de vacas estão, atualmente, sendo controladas em programas de melhoramento genético nos EUA e cerca de 90% deste total é avaliada mensalmente para a contagem de células somáticas (CCS) do leite. Conseqüentemente, estas informações compõem um grande banco de dados sobre a ocorrência da mastite subclínica (medida pela CCS) e, desta forma, podem ser utilizadas no melhoramento genético. É importante, assim, entendermos como podem ser utilizadas as informações sobre avaliação genética da CCS em touros americanos, uma vez que muitos produtores brasileiros que utilizam inseminação artificial usam sêmen destes touros e podem ter mais um critério para a escolha dos reprodutores, relacionado com a resistência à mastite.
Para melhor entendermos a avaliação genética da CCS é importante esclarecer que o valor da CCS é primeiramente transformado numa escala logarítmica, chamada de Escore de Células Somáticas (ECS), que facilita a manipulação dos resultados da CCS, que geralmente apresentam números muito extensos. A relação entre CCS e ECS é apresentada na Tabela 1:
Tabela 1 - Relação entre o escore de células somáticas (ECS) e a contagem de células somáticas (CCS)
A utilização do ECS como critério para a seleção de touros tem como objetivo o melhoramento genético para o aumento da resistência da vaca contra mastite. Isto é especialmente importante devido ao fato de que existe uma correlação negativa entre a produção de leite e a ocorrência de mastite clínica, uma vez que o melhoramento genético para a produção de leite é acompanhado pelo aumento da susceptibilidade à mastite. Sendo assim, é importante estabelecer paralelamente critérios de seleção que aumentem a produção de leite e a resistência à mastite.
A avaliação genética da CCS nos testes de progênie do sistema americano é realizada utilizando-se o índice chamado de PTA (Predicted Transmitting Ability) ou HPT (Habilidade Prevista de Transmissão), sendo que o PTA é publicado em catálogos a cada 4 meses para várias características dos touros, como: produção de leite, gordura, proteína, características de tipo, assim como a característica de resistência à mastite, chamado de PTA-ECS.
A diferença entre o valor do PTA de dois touros diferentes que foram submetidos ao mesmo teste de progênie é a estimativa da diferença esperada no desempenho das futuras filhas dos touros. Por exemplo, considerando os PTAs de dois touros conhecidos (Tabela 2), a diferença entre os PTAs é de 288 kg de leite e de 0,4 pontos para o ECS. Desta forma, estima-se que as futuras filhas do touro FORMATION tenham uma produção média de 288 kg de leite a mais e 0,4 pontos de ECS a menos que as filhas do touro LEIF. Simplificando estes termos, o PTA é uma expressão do desempenho esperado das futuras filhas do touro e não pode ser usado para prever o desempenho real futuro do rebanho.
Tabela 2 - PTAs de dois touros Holandeses e as diferenças entre eles
Ainda que a herdabilidade (proporção da origem genética de uma determinada característica) seja baixa para a resistência à mastite (estimada em cerca de 0,1), podemos destacar como recomendação geral que os touros com PTA-ECS maior que 3,3 devem ser evitados, a menos que sejam comprovadamente superiores para outras características de seleção que são economicamente importantes.
Deve-se considerar, também, que a seleção genética para a CCS deve ser aplicada, tanto em rebanhos com bom controle de mastite, quanto em rebanhos com graves deficiências no controle. Por exemplo, considere que a diferença de PTA-ECS entre dois touros A e B seja de 0,8 pontos. Num rebanho que as filhas do touro com menor PTA-ECS apresentem um ECS médio de 2,0 pontos, é esperado que as filhas do touro com maior PTA-ECS tenham um ECS de 2,8. Da mesma forma, se num outro rebanho as filhas do touro com menor PTA-ECS tenham ECS médio de 5,0 pontos, é esperado que as filhas do touro com menor ECS, apresentem o ECS de 5,8.
Desta forma, as diferenças genéticas entre vacas e touros para a resistência à mastite são substanciais e podem ser economicamente importantes. Para exemplificar, a média da CCS das filhas de touros com os maiores PTA-ECS é de duas vezes maior que a CCS das filhas dos touros com menores PTA-ECS. Em termos de incidência de mastite clínica, pode-se estimar que as filhas de touros com os maiores PTA-ECS irão apresentar taxas de mastite clínica de 1,75 vezes maior que as filhas dos touros com menores PTA-ECS, quando colocadas nas mesmas condições de manejo.
Deve-se ressaltar, portanto, que mesmo sendo um programa de controle preventivo, não sendo a melhor e mais eficaz forma de resolver problemas de mastite e qualidade do leite no curto prazo, o melhoramento genético pode ser um componente de uma estratégia de longo prazo para o aumento da resistência à mastite e melhoria da qualidade do leite.
Fonte: Anais do Encontro Anual do National Mastitis Council, p. 113-127, 2001.
Onde saber mais:
National Association of Animal Breeders: www.naab-css.org
UDSA-AIPL: https://aipl.arsusda.gov
ASBIA: www.asbia.org.br