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O bem-estar animal e sua relação com a mastite em rebanhos leiteiros

POR MARCOS VEIGA SANTOS

MARCOS VEIGA DOS SANTOS

EM 23/03/2006

4 MIN DE LEITURA

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Em muitos países do mundo é crescente a preocupação dos consumidores de produtos de origem animal em relação ao bem-estar dos animais de produção, principalmente em países da União Européia e EUA.

A tendência de muitos órgãos internacionais é de estabelecer normativas que definem mais do que apenas a proteção animal contra maus tratos. O governo britânico, através do Conselho de Bem-estar dos Animais de Produção (da sigla, em inglês, FAWC - Farm Animal Welfare Council), define ainda que, o provimento de alimentação adequada, eliminação de situações que gerem estresse, medo, desconforto, dores e doenças, e liberdade para expressão de seu comportamento normal, são as bases para o estabelecimento do bem-estar aos animais que se destinam à produção de alimentos.

Alguns especialistas apontam que questões morais referentes ao bem-estar dos animais de produção podem influenciar, dentro em breve, as eficiências dos modelos de negócios, e reforçam ainda que, aqueles que resistirem a essa tendência podem sofrer embargos impostos por barreiras comerciais aos seus produtos. Não obstante, esses aspectos também se fazem presentes em relação à produção leiteira, cujo tema foi apresentado recentemente na 46a reunião anual do Conselho Nacional de Mastite (NMC, 2006) dos EUA.

É consensual entre os pesquisadores que o controle da dor em situações de enfermidades dos animais é essencial para o seu bem-estar. Entretanto, erroneamente muitos consideram que o bovino é pouco responsivo à dor, já que pouco se conhece sobre os indicadores comportamentais para dor nesta espécie.

A condição de dor ou desconforto experimentada pelo animal numa condição de mastite, por exemplo, é de difícil avaliação, o que torna complicado mensurar os seus impactos sobre o bem-estar, e conseqüentemente sobre a produção e qualidade de seu leite.

Substâncias mediadoras de dor, vasodilatação e edema, como as bradicininas, são liberadas proporcionalmente ao grau de severidade da enfermidade. Conseqüentemente, animais que apresentam sintomas mais exacerbados da mastite clínica possuem maior concentração daquele mediador na circulação sanguínea do que vacas com sintomatologia menos evidente.

Um estudo indicou que os quartos de animais acometidos por mastite subclínica causada por S.aureus também apresentavam elevadas concentrações de bradicinina e CCS superiores a um milhão de células/mL. É interessante saber que, em situações de acometimento por mastite clínica, o animal pode apresentar níveis de bradicinina até 5 vezes maiores em relação aos valores normais.

Comparativamente, no quadro de mastite subclínica o animal pode apresentar elevação de apenas 2 vezes as concentrações normais deste mediador.

Em outro experimento realizado para avaliar as respostas comportamentais diante de dois estímulos diferentes de dor (mastite clínica por E. Coli e emissões de calor por laser), foi observado que as respostas ao estímulo de dor gerado pela emissão de calor foram diminuindo gradativamente, sugerindo que, provavelmente o nível de dor ocasionado pela mastite era superior àquele gerado pela emissão de calor por laser. Esses resultados sugerem que a mastite clínica provoca dor e que essa aumenta à medida que há intensificação dos sintomas.

O tipo de interação entre ordenhador/tratador e os animais, e o efeito sobre a ocorrência de infecção na glândula mamária foi avaliada em experimento conduzido no Brasil. Foi demonstrado que a maneira como os ordenhadores conduziam e manejavam os animais até a sala de ordenha também tem efeitos sobre a ocorrência de mastite.

As atitudes negativas dos ordenhadores como bater, gritar, empurrar e torcer a cauda produziram efeito significativo na ocorrência da mastite, o que reforça o resultados de outros estudos indicando que a atitude dos ordenhadores gera efeitos diretos sobre a produção do leite.

Num estudo feita na Argentina, os pesquisadores submeteram animais de um rebanho Holandês aos sons de latidos de cães por duas horas antes da ordenha para determinar, nas vacas, possíveis variações nos níveis de cortisol, um mediador biológico de estresse e imunossupressor.

As concentrações deste mediador naqueles animais se elevaram. Além disso, a diminuição de índices reprodutivos em rebanhos leiteiros está associada ao estresse gerado por processos patológicos dolorosos como a laminite, febre do leite e a própria mastite.

Condições de higiene do úbere, do animal e dos locais de alojamento do rebanho estão também associados com maiores níveis de CCS. Um estudo apontou que ocorre aumento na incidência de casos clínicos de mastite em rebanhos cuja sala de espera possuía piso escorregadio, demonstrando que este tipo de instalação também possui correlação com o aumento da susceptibilidade do animal em adquirir a enfermidade.

As práticas de manejo e instalações inadequadas, bem como o acometimento por enfermidades, mesmo que sob as formas subclínicas, sem sintomas aparentes de dor, podem provocam estresse e podem comprometer a saúde e o bem-estar da vaca.

Ainda que para muitos produtores e técnicos este assunto esteja restrito aos países europeus e América do Norte, é crescente no Brasil a preocupação dos consumidores e a ação de entidades de proteção dos animais.

Não se pode esquecer ainda o impacto restritivo de muitas legislações, que pode afetar tanto a pesquisa com animais como os sistemas de produção. Portanto, o produtor deve ficar cada vez mais atento a essas questões tanto em função de busca de eficiência de produção, quanto em termos de manter uma boa imagem do setor frente aos consumidores.

Fontes consultadas

Ekman, T. e Sandgren, C.H. Anais da 46ª Reunião Anual do National Mastitis Council, p.122 - 129, 2006.

Barnouin et al. Journal of Dairy Science, v.88, p.3700 - 3709, 2005.

MARCOS VEIGA SANTOS

Professor Associado da FMVZ-USP

Qualileite/FMVZ-USP
Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite
Endereço: Rua Duque de Caxias Norte, 225
Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP
Pirassununga-SP 13635-900
19 3565 4260

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FERNANDO CERÊSA NETO

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 27/03/2006

Professor,



Tenho um rebanho leiteiro holandês e girolando. Atualmente, estamos ordenhando 106 vacas. No último teste CMT, 82 tetos apresentaram sintomas de mastite subclínica. A análise do tanque, efetuada em laboratório credenciado, dia 21/03/06, apresentou CCS de 347.000.



Os animais portadores dos sinais de contaminação são bastante produtivos e não pretendo descartá-los. Gostaria de merecer sua orientação como devo tratá-los, pois o laticínio vem me penalizando no preço do produto. Nesta mesma análise referida, obtive os seguintes resultados:



- gordura: 3,95

- proteína: 3,17

- lactose: 4,39

- EST: 12,48

- CCS: 347

- CBT: 40



Agradeço sua atenção e aguardo.



Fernando Cerêsa Neto



<b>Resposta do autor:</b>



Fernando,



Obrigado pela mensagem. Entendo que com este nível de CCS, na grande maioria não haveria necessidade de penalização (347 mil cel/ml) e sim ausência de algum prêmio de qualidade.



Para reduzir a CCS do rebanho, pode-se pensar em selecionar as vacas em final de lactação e com maior CCS para a secagem antecipada e fazer a identificação dos agentes causadores de mastite para ter uma definição melhor sobre o que pode ser feito (tratamento, descarte, segregação).



Além disso, seria importante saber se este é um valor de CCS que está aumentando (o que geraria maior preocupação) ou reduzindo.



Atenciosamente,



Marcos Veiga

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