A epidemiologia é o campo da ciência médica que investiga os fatores que afetam a saúde das populações, e em que medida estes influenciam a sanidade dos indivíduos que compõem estas populações. Essa ciência dispõe de ferramentas que nos permitem inclusive, avaliar e monitorar a sanidade da glândula mamária de rebanhos leiteiros. E é a partir do levantamento epidemiológico da saúde da glândula mamária dos animais que compõem o rebanho que se pode estabelecer ações eficientes para o tratamento e controle da mastite que o afeta.
Para um levantamento epidemiológico da mastite deve-se, portanto, determinar a extensão e o comportamento da doença no rebanho, a partir da mensuração de parâmetros, tais como: a prevalência, que mede a quantidade de casos de mastite já existentes no rebanho em um determinado momento; e a incidência, que mede a quantidade de novos casos que surgiram no rebanho num período de tempo considerado (mês, ano, por exemplo). De particular interesse para o controle da mastite é a medida de incidência, que indica alterações na saúde do úbere dos animais durante um período considerado, estimando o risco potencial desses animais em desenvolver a doença clínica/subclínica. Por exemplo: se num rebanho de 100 animais, com CCS média abaixo de 200.000 células/mL, se 40 vacas apresentarem contagens superiores a esse nível naquele mês em que foram coletadas, significa que o risco estimado de mastite subclínica no rebanho é de 40%, ou 40/100/30 dias. Conforme o quadro 1, outras variáveis podem ser usadas para mensurar a sanidade da glândula mamária no rebanho:
Quadro 1. Variáveis úteis em programas de mastite
Imprecisões, especificidade e sensibilidade inerentes aos métodos de monitoramento
Mesmo com o uso dos mais sofisticados e modernos métodos de diagnóstico, deve-se levar em consideração algumas imprecisões que são inerentes às metodologias usadas. Quando por exemplo se deseja monitorar a prevalência de mastite clínica semanal, a maior ou menor capacidade que o ordenhador possui para o diagnóstico da doença pode interferir na composição dos resultados, fazendo com que o levantamento epidemiológico seja sub ou superestimado. O mesmo pode acontecer quando da escolha dos animais para a composição de uma única amostra representativa do rebanho para determinação do agente causador de mastite naquele rebanho.
Imprecisões podem também ocorrer nos resultados fornecidos por alguns métodos usados para o diagnóstico da mastite, uma vez que não existe nenhum que seja 100% sensível ou específico e desta forma, podem fornecer resultados falso-positivos ou falso-negativos. O método sensível é aquele capaz de identificar, com precisão, todos os animais doentes. O específico é aquele capaz de identificar os animais que, com certeza, não estão doentes. Por exemplo, se um determinado teste para diagnóstico bacteriológico de mastite detecta 50 dos 100 casos de mastite por E. coli prevalentes num rebanho, significa que este teste tem sensibilidade de 50%. Se o mesmo teste for negativo em 90 de 100 vacas que não têm a doença, significa que ele possui especificidade de 90%. Num segundo exemplo, um teste para detecção de mastite por S. aureus identifica 13 vacas positivas em 100 animais. Se a especificidade do teste é de 87% (ou seja, 13% dos resultados obtidos podem ser falso-positivos), então todos os 13 animais positivos neste rebanho podem, na realidade, ser falso-positivos para mastite por S. aureus. Infelizmente, os kits comerciais para diagnóstico nem sempre apresentam essas informações, as quais devem ser obtidas junto aos seus fabricantes. Além disso, sem qualquer noção sobre especificidade e sensibilidade, os resultados dos testes não são passíveis de interpretação correta.