A importância do período seco sobre a dinâmica das infecções intramamárias tem sido bastante estudada, visto que os quartos mamários infectados durante o período seco produzem menos leite na lactação seguinte, resultando em grandes prejuízos ao produtor.
Ainda não existem estudos quantitativos sobre o impacto das infecções intramamárias do período seco sobre a mastite clínica, pois mesmo que parte das novas infecções do período seco persista até a lactação seguinte, nem todas infecções irão se apresentar na forma clínica. Buscando melhor entender estas relações entre período seco e mastite clínica, foi realizado um estudo europeu, no qual foi acompanhado o período seco e de início da lactação, sendo coletadas amostras de leite de 480 vacas em 6 diferentes rebanhos (1920 quartos). A coleta das amostras de leite para identificação de patógenos ocorreu em todos os quartos na secagem e uma semana após o parto, e outras duas coletas foram feitas durante o período seco (0-7 dias e 8-14 dias antes do parto).
As infecções intramamárias existentes no momento da secagem e entre 1-2 semanas antes do parto aumentaram os riscos de mastite clínica na lactação seguinte, no estudo citado. No final do período seco, as infecções causadas por agentes primários aumentaram o risco de mastite clínica pelo mesmo agente, ainda que não foi determinado se estes casos ocorreram por persistência da infecção ou se pela ocorrência de uma nova infecção. Acima de 60% dos casos de mastite clínica com a mesma identificação dos agentes antes e depois do parto ocorreram dentro de duas semanas após o parto, indicando a grande importância do período seco como origem destas infecções e ponto de partida para o seu controle.
A probabilidade da ocorrência de mastite clínica na lactação seguinte foi muito aumentada quando foram isolados os seguintes agentes durante o período seco: Streptococcus dysgalactiae, Streptococcus faecalis, Escherichia coli, Enterobacter spp e Corynebacterium spp. Os autores do estudo sugerem, no entanto, que estas infecções não persistem durante o período seco até após o parto. Uma possível explicação para o aumento do risco de mastite clínica para quartos com aqueles agentes seria uma maior susceptibilidade dos quartos (devido a características anatômicas) e por outro lado, o fato de que uma infecção prévia aumentar o risco de uma infecção subseqüente (redução dos mecanismos de defesa inespecífica).
Um achado interessante do estudo foi que o momento de ocorrência da infecção causada por Corynebacterium spp é um fator importante na associação entre período seco e mastite clínica. Quando um quarto está infectado com este microrganismo no momento da secagem, observa-se alto risco da ocorrência de caso clínico de mastite após o parto. A ocorrência de infecções causadas por Corynebacterium spp no momento da secagem é indicativo de deficiência no manejo de ordenha. No entanto, se a infecção causada por Corynebacterium spp ocorreu apenas nas últimas semanas antes do parto (sem a sua identificação no momento da secagem), o quarto mamário apresenta menor risco de ocorrência de mastite clínica.
Os resultados do estudo demonstraram que as infecções intramamárias do período seco apresentam importante influência sobre a mastite clínica na lactação subseqüente, sendo que as infecções associadas aos patógenos primários aumentam o risco de mastite clínica após o parto, em maior grau do que as infecções não associados ao período seco.
Fonte: Journal of Dairy Science. 85:2589-2599, 2002.