A competitividade dos sistemas de produção de leite está diretamente associada com o desenvolvimento de programas de controle e prevenção de doenças. Isto ocorre uma vez que a ocorrência de doenças em fazendas leiteiras tem como consequência o aumento dos custos de produção e de perdas. Dentre as doenças da vaca leiteira, a mastite é uma das que mais afetam a lucratividade da fazenda, cujo monitoramento é feito pela CCS do tanque ou das vacas individualmente.
O aumento da CCS do tanque é um indicador da ocorrência de infecções intramamárias, as quais afetam a composição do leite (menores teores de caseína e lactose) e a quantidade de leite produzido pelas vacas afetadas. No entanto, os produtores de leite, geralmente, têm uma menor percepção das perdas ocasionadas pela mastite, uma vez que alguns custos são indiretos e nem sempre são avaliados como rotina nas fazendas. Por exemplo, fazendas que não têm uma avaliação regular da CCS individual das vacas leiteiras podem ter uma percepção equivocada do impacto negativo da CCS sobre a produção de leite, uma vez que na mastite subclínica a vaca apresenta redução da produção diretamente proporcional a CCS. Além do impacto sobre os custos, a mastite também afeta negativamente o preço do leite, visto que os programas de pagamento por qualidade pagam bonificação do leite com baixa CCS, em razão do maior rendimento de fabricação de derivados lácteos.
Considerando as perdas causadas pela mastite, uma importante área de pesquisa é a avaliação dos benefícios econômicos da melhoria de controle de mastite, uma vez que a quantificação destes benefícios poderia justificar a implantação de medidas por parte dos produtores. Um estudo recente, realizado na Irlanda, avaliou em nível nacional este benefício econômico de controlar a mastite em nível de fazenda leiteira, durante um período de 4 anos. Foram utilizados dados econômicos e de monitoramento de mastite de cerca de 1000 fazendas leiteiras, cujas características gerais estão apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1 – Descrição de características das fazendas selecionadas para avaliação de Impacto econômico da melhoria de controle de mastite, Irlanda.

Fonte: adaptado de Dillon at al., 2015
Impacto da CCS sobre a produção e lucratividadeOs resultados principais do estudo estão apresentados na Tabela 2. Pode-se observar que a medida que aumenta a CCS do tanque, os indicadores de lucratividade, produção por vaca e preço do leite foram reduzidos. De acordo com as avaliações das variáveis de cada fazenda avaliada, quando a CCS do tanque aumenta, ocorre redução da lucratividade da fazenda. Em termos quantitativos, quando ocorre aumento de 100.000 cel/ml no tanque, ocorre uma redução da margem bruta de cerca de €19/vaca. Desta forma, estes resultados indicam que uma redução da CCS do tanque de 400.000 para 300.000 cel/ml, em um rebanho de 55 vacas, resultaria em aumento de cerca de €1.015 da margem bruta do rebanho.
Tabela 2 – Indicadores econômicos de fazendas leiteiras (Irlanda), de acordo com a CCS do tanque (2008-2011)

Fonte: adaptado de Dillon at al., 2015
De uma forma resumida, quando se considera apenas o efeito da CCS sobre a produção de leite das vacas, quando todas as demais variáveis foram incluídas no modelo de avaliação estatística, fazendas com CCS > 400.000 cel/ml têm menor produção de leite/vaca/lactação, cerca de 2% (aproximadamente 102 l/vaca/lactação) do que fazendas com CCS < 400.000 cel/ml.
Ainda que os resultados deste estudo devam analisados considerando as diferenças dos sistemas de produção do Brasil e Irlanda, algumas conclusões podem fazer sentido também para a produção de leite do Brasil. Por exemplo, produtores com elevada CCS do tanque devem ser estimulados por meio de sistemas de pagamento e de capacitação das indústrias captadoras de leite, buscando aumentar a lucratividade destes rebanhos. É provável que no médio e longo prazos, estes produtores tenham menos capacidade de permanecer na atividade, o que afetaria diretamente a capacidade de crescimento destas empresas no mercado. Por outro lado, estudos internacionais realizados em diferentes países indicam que a redução da CCS do tanque não ocorre de forma abrupta pela aplicação de medidas pontuais, mas sim em resposta a mudanças de atitude e comportamento dos produtores, as quais ocorrem de forma cumulativa e lenta. Dentre os fatores mais significativos para o aumento do controle da mastite, destaca-se o fator humano, o que inclui a capacitação do produtor e todos os colaboradores que participam no dia a dia do sistema de produção.
Fonte: DILLON, E. J., et al. (2015). "Measuring the economic impact of improved control of sub-clinical mastitis in Irish dairy herds." The Journal of Agricultural Science 153(04): 666-675.