Atualmente, existe uma grande preocupação, por parte de muitos produtores, sobre o impacto negativo de altas produções de leite sobre a ocorrência de doenças, em particular no que se refere à mastite. De forma geral, acredita-se que a alta produção de leite e dos seus componentes (gordura, proteína) são fatores de risco para ocorrência de mastite nestas vacas, o que resulta em custos aumentados devido à diminuição da produção de leite, tratamentos e descarte de leite com resíduos, e prejuízos ao conforto e bem-estar animal.
Geneticamente, a mastite e a produção de leite podem estar correlacionadas positivamente, pois com a pressão de seleção cada vez maior para o aumento da produção de leite ocorre, paralelamente, aumento dos fatores de risco de ocorrência de mastite. Desta forma, pode-se esperar que a elevada produção de leite de uma vaca leiteira seja um fator de risco para a ocorrência de um caso de mastite neste animal.
Para estudar a relação fenotípica entre a produção de leite e a ocorrência de mastite (analisada pela CCS), foi desenvolvido um estudo na Holanda, no qual foram avaliados dados de mais de 4000 rebanhos e quase 2 milhões de lactações, durante um período de quase 6 anos. O objetivo principal foi estabelecer, com base em dados de rebanhos comerciais, se vacas de alta produção apresentam maior ocorrência de picos de CCS ao longo da lactação, em comparação com vacas de produção menor. Para tanto foram comparadas curvas de lactação de vacas consideradas sadias (CCS < 150.000 cel/ml) e de vacas com mastite que apresentaram picos de CCS durante a lactação (CCS >400.000 cel/ml).
De acordo com os resultados do estudo acima, existe uma clara relação entre a produção de leite e a ocorrência de picos de CCS (caracteriza casos de mastite), pois os animais com maior ocorrência de picos de CCS são aqueles que produzem maior quantidade de leite antes da ocorrência de tais picos de CCS, em comparação com vacas que mantém a CCS baixa por toda a lactação.
Considerando que, em termos de rebanho, o aumento da CCS indica aumento do nível de mastite, pode-se apontar que a alta produção de leite aumenta o risco de mastite. Além da produção de leite, outro fator de risco relacionado com a ocorrência de mastite foi a relação entre gordura/proteína do leite. Em ambos os casos, aumento ou redução, da relação gordura/proteína do leite ocorre maior risco de mastite. Exemplos destas situações (alta porcentagem de gordura do leite) ocorrem no início da lactação, enquanto que no final de lactação ocorre redução da porcentagem de gordura do leite.
Mesmo considerando que os resultados do estudo apontaram para uma relação positiva entre produção de leite e ocorrência de mastite, não se pode afirmar que a alta produção de leite automaticamente resulta em maior ocorrência de casos de mastite, pois existem enormes diferenças entre rebanhos e condições gerais de manejo.
Em termos práticos, estes resultados indicam que vacas de alta produção estão sob maior risco de ocorrência de mastite (maior desafio metabólico para produção de leite, duração maior da ordenha, entre outras causas) e que desta forma, necessitam de atenção e medidas de controle ainda mais rigorosas para prevenir a ocorrência de mastite. É interessante destacar que o oposto também pode ser verdadeiro, pois vacas de produção baixa são menos propensas a ocorrência de mastite, e geralmente, mantêm níveis mais baixos de CCS durante a lactação.
Fonte: Windig, et al. Livestock Production Science, v.96, p.291-299, 2005.