Com o objetivo de enumerar os fatores associados ao aparecimento de novas infecções intramamárias e calcular o risco relativo à incidência da doença, uma pesquisa foi conduzida na Zona da Mata, em Minas Gerais. Para isso, a pesquisa contou com 3.987 amostras de leite de 2.657 vacas em lactação provenientes de 24 rebanhos no período de um ano. De cada rebanho pesquisado, informações referentes a ordem de parto, período de lactação, profundidade e equilíbrio de úbere, presença de lesão nos tetos e escape de leite, e procedimentos relacionados ao controle e prevenção de mastite foram tomadas. Além disso, os pesquisadores realizaram também uma entrevista com os ordenhadores e os gerentes dos rebanhos, uma inspeção visual e técnica de equipamentos de ordenha, e a verificação de características individuais dos animais.
Ao classificarem os animais conforme a CCS (abaixo ou acima de 200.000 céls./mL), os pesquisadores observaram que 52% das amostras provinham de animais com CCS acima de 200.000 céls./mL. Associando estatisticamente os dados de CCS com as respostas obtidas no questionário formulado, verificaram que 36 variáveis estavam ligadas às contagens acima de 200.000 céls./mL. A partir da possibilidade de relação biológica coerente entre elas, os pesquisadores escolheram 10 variáveis usadas para identificação dos fatores de risco para CCS acima de 200.000 céls./mL, conforme podemos observar no Quadro 1 a seguir.
O único fator de risco associado às características individuais da vaca foi a profundidade do úbere, mostrando que animais com a base do úbere junto ou abaixo do jarrete tiveram 1,73 vezes mais chances de apresentar CCS acima de 200.000 céls./mL quando comparadas às vacas de úberes mais elevados, o que se deve, provavelmente, ao aumento da exposição das extremidades dos tetos aos patógenos ambientais.
Quadro 1. Fatores associados ao risco da ocorrência de CCS acima de 200.000 céls./mL. (Adaptado de Coentrão et al., 2008)
De acordo com os pesquisadores, nos rebanhos em que o equipamento de ordenha, de forma geral, era mal conservado e não possuía manutenção periódica adequada, o risco de ocorrência de mastite subclínica nos animais foi maior que nas propriedades onde se respeitava os procedimentos de limpeza e a revisão freqüente dos componentes do equipamento de ordenha, uma vez que, o uso e o funcionamento adequados do equipamento são fatores importantes para a qualidade do leite e o controle da mastite.
O segundo maior risco identificado pelos pesquisadores foi a falta de treinamento dos ordenhadores quanto ao manejo de ordenha, pois nas propriedades onde os colaboradores não receberam explicações sobre a correta realização e interpretação dos testes da caneca do fundo preto, do CMT, e sobre o uso do equipamento de ordenha, os animais apresentaram 2,51 vezes mais chances de desenvolverem mastite subclínica.
Além disso, nos rebanhos em que não havia diagnóstico microbiológico dos patógenos responsáveis pelos casos de mastite, os animais estavam 1,84 vezes mais expostos ao risco de uma infecção intramamária subclínica que as vacas de propriedades que recorriam aos serviços laboratoriais de cultura microbiológica e antibiograma. De acordo com os pesquisadores, a considerar que a mastite tem caráter endêmico em rebanhos leiteiros, o sucesso de um programa de controle da mastite respalda-se na avaliação periódica da saúde do úbere, baseada na análise periódica e interpretação dos resultados de CCS e exame microbiológico.
Dentre os fatores associados ao manejo de ordenha, a inserção total da cânula da bisnaga de antibiótico intramamário foi o que representou o maior risco de gerar uma infecção intramamária subclínica em relação ao rebanho em que os animais eram submetidos ao tratamento intramamário com inserção correta da cânula no orifício do teto. Os pesquisadores reforçaram que, em animais de rebanhos nos quais se seguia o protocolo correto de desinfecção do orifício do teto, para a posterior inserção parcial da cânula da bisnaga de antibiótico verificou-se uma menor chance de infecção, pois os procedimentos adequados evitavam a penetração de bactérias no interior da glândula.
Em propriedades onde se adotava a prática da imersão do conjunto de teteiras em solução desinfetante para impedir a disseminação de patógenos contagiosos tiveram, ao contrário, 2,19 vezes mais chance de disseminarem a doença entre seus animais durante a ordenha. Entretanto, segundo os pesquisadores, a má execução desta prática verificada nestas propriedades pode ter contribuído para um alto risco relativo: Provavelmente a matéria orgânica, como leite e outros contaminantes que se acumulavam, em contato com o desinfetante neutralizavam o princípio ativo da solução desinfetante, fazendo com que ela facilitasse a transmissão dos patógenos de um animal infectado para um susceptível por meio do conjunto de teteiras.
A compra de animais para reposição do rebanho e o tipo de aplicador utilizado nos procedimentos de pré e pós-dipping não resultaram em risco relativo maior que 1 e, por isso, segundo os pesquisadores, não foram caracterizados como fatores de risco.
Ainda, os pesquisadores reforçaram que os principais fatores de risco identificados pela pesquisa estavam associados às características regionais de logística, acesso à assistência técnica especializada, medicamentos, suporte laboratorial e, principalmente, à falta de orientação profissional.
Dessa forma, ficou evidente que a identificação dos fatores de risco associados aos casos incidentes de mastite subclínica devem ser priorizados nos programas de controle de mastite no rebanho, de forma a permitir a escolha e adoção de procedimentos adequados à prevenção dos novos casos.
Fonte: Coentrão et al. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, 2008.