A criação de animais jovens, independentemente do sistema de criação utilizado, é um dos pontos mais críticos para a produtividade de uma fazenda leiteira, uma vez que estes animais representam o futuro do rebanho. Neste caso, o objetivo principal é o de proporcionar condições ambientais adequadas para que as novilhas desenvolvam o máximo potencial de produção de leite, na idade adequada e com o menor custo possível. Um dos fatores que podem contribuir para o sucesso do desenvolvimento e crescimento das novilhas é a manutenção da saúde, sendo que a mastite é uma das doenças que podem afetar a capacidade produtora destes animais.
Risco de ocorrência de mastite em novilhas
Tradicionalmente, tem-se dado pouca atenção à saúde da glândula mamária das novilhas, devido ao conceito bem difundido de que estes animais estariam livres de infecções intramamárias e que a mastite é uma doença exclusiva de vacas em lactação e vacas secas. Desta forma, as atuais medidas de controle de mastite bovina enfocam prioritariamente vacas adultas em lactação e as vacas secas. Estas práticas incluem desinfecção antes e após a ordenha, terapia da vaca seca, funcionamento adequado do equipamento de ordenha, tratamento imediato de todos os casos clínicos e descarte/segregação dos animais cronicamente infectados.
No entanto, diversos trabalhos de pesquisa comprovam que na grande maioria dos rebanhos, os animais jovens podem estar infectados antes do parto, apresentando como conseqüência direta:
- redução da capacidade de produção de leite,
- aumento da contagem de células somáticas após o parto,
- aumento da ocorrência de casos clínicos de mastite.
A porcentagem de novilhas infectadas antes do parto pode chegar até 97% dos animais e 75% dos quartos, sendo que cerca de 37% destas infecções são causadas por Staphylococcus aureus (4). Aproximadamente 29% das novilhas e 15% dos quartos podem apresentar mastite clínica na idade de cobertura, o que pode ser identificado pela presença de grumos ou flocos nas secreções da glândula mamária destes animais (3).
Principais agentes patogênicos que causam mastite em novilhas
Existem diferentes tipos de patógenos causadores de mastite em novilhas, sendo que cada um deles gera um impacto distinto de maior ou menor gravidade sobre a glândula mamária. Podemos dividir os patógenos em primários contagiosos, primários ambientais e secundários. Dentre esses, os agentes encontrados com maior freqüência em novilhas são patógenos secundários, especialmente Staphylococcus coagulase negativo - SCN. São reconhecidas cerca de 23 espécies diferentes de SCN, que fazem parte na microbiota normal da pele dos bovinos e podem ser isolados facilmente em novilhas. Estes agentes caracterizam-se por apresentar menor dano ao tecido mamário e menor contagem de células somáticas do que os agentes primários. Isto não significa que estes agentes não sejam importantes, apenas são menos patogênicos, mas igualmente causam perdas significativas de produção de leite. Os patógenos pertencente ao grupo dos SCN são considerados como sendo os mais importantes da etiologia da mastite em novilhas (1).
Figura 1 - Freqüência de isolamentos bacterianos em secreção mamária de novilhas (6)
No entanto, em alguns rebanhos têm-se encontrado alta prevalência de S. Aureus também nas novilhas, podendo-se encontrar prevalência de até 20% deste agente em novilhas no momento do parto (6). Este tipo de problema pode ser particularmente grave em rebanhos que apresentam bom controle de mastite nos animais adultos, uma vez que, neste caso, as novilhas passam a ser a fonte de infecção para os demais animais. Nos rebanhos em que as condições de higiene do ambiente não são muito favoráveis, pode haver também uma alta prevalência de patógenos primários ambientais tais como coliformes e Streptococcus dysgalactiae e Streptococcus uberis que foram encontrados infectando de 4 a 13% dos quartos mamários de novilhas em um grande estudo realizado nos EUA (1).
Impacto econômico da ocorrência de mastite em novilhas
Normalmente, a glândula mamária dos animais jovens não é examinada antes do início da lactação ou antes do aparecimento de casos clínicos. A presença de infecções intramamárias em novilhas tem efeito negativo sobre a produção de leite futura, uma vez que grande parte do desenvolvimento da glândula mamária ocorre durante a primeira gestação e, conseqüentemente, este desenvolvimento pode ser severamente prejudicado pela presença de uma infecção intramamária. Estima-se que um quarto mamário de uma novilha infectado antes do parto produz cerca de 18% menos de leite quando comparado com um quarto sadio (5).
As novilhas paridas com mastite podem apresentar queda significativa na produção de leite. Para exemplificar este fato, um trabalho de pesquisa comprovou que novilhas que pariram com mastite causada por Staphylococcus aureus produziram em média 2,5 Kg leite/dia a menos durante os primeiros 60 dias de lactação do que as novilhas que não apresentaram infecção da glândula mamária. Esta queda na produção ocorre pois o patógeno começa a causar danos de forma bastante precoce, ainda na fase de desenvolvimento do tecido mamário, afetando a sua constituição e capacidade produtora (6).
Referências bibliográficas:
1. Fox, L.K., Chester, S.T., Hallberg, J.W., Nickerson, S.C., Pankey, J.W., Weaver, L.D. Survey of intramammary infections in dairy heifers at breeding age and first parturition. Journal of Dairy Science. v.78, p.1619-1628, 1995.
2. Galphin JR., S. Reducing intramammary infections in heifers utilizing tail tags. Proceedings of 36 Annual Meeting National Mastitis Council. Albuquerque, p.145-151, 1997.
3. Giraudo, J. A., A. Calzolari, H. Rampone, A. Rampone, A. T. Giraudo, C. Bogni, A. Larriestra, and R. Nagel. Field trial of a vaccine against bovine mastitis. 1. Evaluation in heifers. Journal of Dairy Science. 80:845-853,1997
4. Gonzalez, R. N., J. S. Cullor, D. E. Jasper, AND R. B. Bushnell. Prevention of clinical coliform mastitis in dairy cows by a mutant Escherichia coli vaccine. Canadian Journal of Veterinary Research. v.53, p.301- 305, 1989.
5. King, J.O.L. The effect of mastitis on the yield and composition of heifers´ milk. Veterinary Record. v. 80, p.139, 1967.
6. Nickerson, S.C., Owens, W.E., Boddie, R.L. Mastitis in dairy heifers: initial studies on prevalence and control. Journal of Dairy Science. v.78, p.1607-1618, 1995.
7. Nickerson, S.C., Owens, W.E., Tomita, G.M. Widel, P.W. 1999. Vaccinating dairy heifers with a Staphylococcus aureus bacterin reduces mastitis at calving. Lg Anin. Pract. 20:16-28.
8. Oliver, S.P., Lewis, M.J., Gillespie, B.E., Dowlen, H.H. Influence of prepartum antibiotic therapy on intramammary infections in primigravid heifers during early lactation. Journal of Dairy Science. v.75, p.406-414, 1992.
9. Schalm, O.W. Streptococcus agalactie in the udder of heifers at parturition traced to suckling among calves. Cornell Vet v.34, p.49, 1942.
*Texto originalmente publicado na Revista Balde Branco, v.445, 2001