O primeiro quesito pode ser alcançado pela melhoria da qualidade do leite, uma vez que nos sistemas de pagamento do leite por qualidade, o leite com baixa CCS (geralmente <200.000 células/ml) é bonificado e leite com teor de CCS acima de 400.000 células/ml é penalizado. Em relação à redução de custos, a mastite é considerada a doença do gado leiteiro que mais traz prejuízos, o que significa que a redução e controle desta doença pode resultar em menores perdas de produção, menores custos de tratamentos, redução de leite descartado e de descartes involuntários.
Atualmente, existem diversas medidas de prevenção e controle de mastite, as quais têm sido exaustivamente testadas em termos de eficácia. No entanto, em razão da mastite ser uma doença multifatorial, nenhuma medida aplicada de forma isolada apresenta sucesso total no controle da doença. O controle e prevenção da mastite tem sido feito por um conjunto de medidas, as quais devem ser aplicadas em concomitantemente, dependendo da situação específica de cada fazenda.
Outro fator complicador em termos de avaliação do custo:benefício de algumas medidas é que a sua eficácia máxima somente é obtida com treinamento de mão de obra, visto que a qualidade dos procedimentos pode fazer toda a diferença e não somente o fato de usar ou não um determinado produtos ou procedimento.
A tomada de decisões sobre utilizar ou não uma determinada medida de controle pode ser feita com base em recomendações de especialistas ou com base em resultados de estudos científicos. No entanto, na maioria das vezes, as particularidades de cada fazenda leiteira não tornam fácil a avaliação do benefício real de cada medida em relação aos custos que ela representa.
Numa tentativa de esclarecer o assunto, um estudo holandês foi desenvolvido com o objetivo de avaliar a relação custo:benefício da aplicação de medidas de controle de mastite em fazendas leiteiras, considerando com resposta a eficácia em termos de redução da CCS do tanque e da incidência de mastite clínica.
O foco do estudo era identificar dentro de um conjunto de medidas (Quadro 1) tradicionalmente recomendadas para o controle de mastite, aquelas que trariam o maior retorno econômico para o produtor.
Quadro 1. Relação de medidas de controle (conforme recomendações do National Mastitis Council e Dutch Udder Health Centre).
Inicialmente, foi feito um levantamento de toda a literatura científica, durante os últimos 10 anos, sobre estudos que avaliaram a eficácia das medidas de controle, considerando como resposta a porcentagem de redução de CCS do tanque ou da redução da incidência de mastite clínica.
Para avaliações sobre as quais não foram encontrados valores de eficácia na literatura consultada, foram consultados grupos de especialistas para estimativa de eficácia. Para a avaliação das medidas de manejo (Quadro 1) foram feitas simulações de custo de cada medida, considerando o custo do produto e mão de obra, descarte de leite e outros serviços envolvidos para uma fazenda com 65 vacas em lactação e uma ordenha com 12 unidades.
Foi selecionado um total de 218 estudos científicos para embasamento da eficácia da medidas de controle em relação à redução de CCS e de mastite clínica. Além dos resultados da literatura científica, foram consultados 15 especialistas para obtenção de informações sobre as eficiências de medidas, sobre as quais não havia dados de experimentos ou estudos científicos.
Dentre as medidas estudadas, a desinfecção dos tetos após a ordenha foi a que isoladamente teve o maior efeito na redução da CCS do tanque e da incidência de mastite clínica, tanto para agentes contagiosos quanto para ambientais. No outro extremo, o uso de luvas durante a ordenha teve o menor impacto em ambos sobre a redução de incidência de mastite clínica causada por agentes contagiosos e ambientais, ainda que este fator tenha sido avaliado em poucos trabalhos de pesquisa.
Em relação às demais medidas, houve grande variação do efeito da sua aplicação em relação aos agentes ambientais e contagiosos, o que indica que é importante considerar as características especificas de cada fazenda para aplicação das outras medidas. Algumas medidas, ainda que reconhecidamente importantes, não foram avaliadas por pesquisas científicas, como por exemplo a recomendação de evitar a superlotação de animais e de melhorar a alimentação das vacas, o que dificulta o estabelecimento de retornos quando uma fazenda se propõe aplicar tal medida.
A estimativa de custos anuais para o conjunto de medidas avaliado está apresenta na tabela 1. Considerando a análise de custo:beneficio, as medidas com maiores retornos da aplicação foram: a) Lavar com água quente a unidade de ordenha depois de uso em vacas com mastite clínica e antes do uso em outras vacas; b) Utilização de uma tolha única por vaca; c) Manter vacas de pé após a ordenha; d) Uso de luvas pelos ordenhadores durante toda a ordenha.
Tabela 1. Custo (€/ano) de implantação de medidas de controle, considerando custo de mão de obra, gasto com produtos e custos totais, para uma fazenda com 65 vacas em lactação e ordenhadeira com 12 unidades (valores estimados para a Holanda, 2010).
A avaliação de custo:benefício como rotina dentro de uma fazenda é geralmente trabalhosa e complicada, pois muitos dos fatores que influenciam tanto o custo quanto os benefícios são de difícil controle e estimativa. Muitos proprietários e técnicos tomam como base de decisão somente a eficácia de uma determinada estratégia, sem levar em consideram a relação custo:benefício.
O mais comum é que medidas que sejam mais eficientes sejam adotadas e aquelas que implicam em maiores custos sejam evitadas. No entanto, a avaliação da relação custo:benefício do estudo em questão revela as medidas com as maiores eficácias não são necessariamente aquelas com a melhor relação custo:benefícios.
Um exemplo bastante comum, é a desinfecção dos tetos após a ordenha, cuja eficácia é indiscutível e bastante alta, mas não foi classificada dentro das medidas com maior retorno em termos de custo:benefício, com base na metodologia avaliada. Por outro lado, o uso de luvas durante a ordenha, ainda que não apresente altos valores em termos de eficácia, é altamente vantajosa em termos de custo:benefício, pelo seu baixo custo relativo.
O estudo em questão traz uma abrangente avaliação da eficácia de 17 medidas de controle de mastite. As medidas avaliadas foram aquelas consideradas como mais recomendadas por instituições internacionais, porém deve-se destacar que outros fatores podem afetar a eficácia das medidas, como por exemplo, a situação atual de saúde do úbere de cada fazenda.
Fonte: Huijps et al, J. Dairy Sci. 93 :115-124, 2010.