Em programas de controle de mastite e qualidade do leite, a CCS (contagem de células somáticas) do leite é um parâmetro freqüentemente avaliado para o monitoramento da saúde da glândula mamária de rebanhos leiteiros e da qualidade do leite.
O tipo de patógeno causador de mastite tem impacto significativo sobre a curva de CCS ao longo da lactação, tanto quando considerada a mastite clínica, quanto a forma subclínica. Em lactações sem a ocorrência de mastite clínica ou subclínica, a curva da CCS normal é descrita da seguinte forma: após o parto a CCS é mais elevada, diminuindo para o nível mais baixo aos 50 dias em lactação, ocorrendo, então, lento aumento da CCS ao fim da lactação. No entanto, quando ocorre uma nova infecção intramamária, o efeito do tipo de agente causador da mastite sobre a curva da CCS é bastante diferente, por exemplo, entre os agentes Staphylococcus aureus e Escherichia coli. O primeiro é tipicamente um agente contagioso, sendo transmitido de vaca a vaca, enquanto o segundo é classicamente um agente ambiental, o qual é transferido do ambiente para o interior da glândula mamária, causando as novas infecções.
Antes da ocorrência de um caso clínico causado por Staphylococcus aureus, a CCS é normalmente mais elevada tanto em primíparas quanto multíparas, quando comparada com a CCS média normal durante a lactação. Isto sugere que, em muitos casos, o agente causador (neste caso o Staphylococcus aureus) pode estar na forma subclínica, sem sintomas aparentes, durante um longo período de tempo, antes da ocorrência dos sintomas clínicos. O Staphylococcus aureus é conhecido por causar mastite crônica e na forma subclínica, caracterizando-se pelo aparecimento de casos clínicos ocasionais. Sendo assim, após a resolução de um caso clínico causado por Staphylococcus aureus, a CCS se mantém elevada por um longo período de tempo, demorando em diminuir para níveis considerados normais, principalmente nas vacas multíparas.
Por outro lado, antes da ocorrência de um caso de mastite clínica causada por Escherichia coli, a CCS é normalmente baixa, sendo praticamente igual ao nível da CCS dos animais sem mastite clínica ou subclínica. Além disso, após a resolução do caso clínico, a CCS sofre redução bastante rápida, diferentemente dos casos causados por Staphylococcus aureus. Vacas com mastite clínica causada por Escherichia coli apresentam, também, mais sintomas sistêmicos do que vacas com mastite clínica causada por Staphylococcus aureus, Streptpcoccus uberis e Streptpcoccus dysgalactiae. Normalmente, cerca de 70-80% das infecções intramamárias causadas por Escherichia coli se tornam clínicas, enquanto que, na média, aproximadamente 53% das infecções intramamárias de origem de estreptococos podem ser clínicas.
Diversos pesquisadores têm alertado que vacas com CCS muito baixa durante o início da lactação podem ser mais susceptíveis à ocorrência de mastite clínica, uma vez que a sua habilidade em responder às novas infecções intramamárias está reduzida. No entanto, novos estudos não confirmam esta recomendação, pois avaliando-se a curva da CCS antes e depois de um caso clínico de mastite, não foram verificadas diferenças entre a CCS de vacas com casos clínicos e a de vacas sadias. Desta forma, a redução da CCS dos rebanhos continua sendo uma estratégia importante e necessária para controle da mastite e para melhoria da qualidade do leite.
Fonte: J. Dairy Sci. v.85, p.1314-1323, 2002.