O conhecimento sobre o equipamento de ordenha ainda é restrito a poucos técnicos do setor, sendo ainda freqüentes mitos e crenças sobre o funcionamento e manutenção desta máquina. Sendo assim, são bastante comuns algumas afirmações como a seguinte: "o equipamento de ordenha causa mastite". Tal crença ocorre pela falta de informações corretas sobre o funcionamento, dimensionamento, avaliação e manutenção do equipamento de ordenha, visto que em muitas fazendas podemos facilmente observar falhas graves no uso deste equipamento. Mesmo considerando que o equipamento de ordenha entre em contato direto com os tetos durante a ordenha, o risco potencial de seu uso afetar a saúde de glândula mamária, causando novas infecções, é baixo, desde que o equipamento encontre-se em condições adequadas de operação. Por outro lado, é correta a afirmação de que o inadequado uso e funcionamento do equipamento de ordenha, além de deficiências na sua manutenção, podem ser fatores de risco para o desenvolvimento da mastite.
De forma resumida, o equipamento de ordenha pode estar associado ao desenvolvimento de novas infecções intramamárias nas seguintes formas:
a) Facilitar a transferência de bactérias entre as vacas durante a ordenha
Durante a ordenha, podem ocorrem várias oportunidades de transferência de bactérias entre vacas e quartos. As vacas infectadas contaminam a superfície das teteiras com resíduos de leite, as quais passam a atuar como carreador de patógenos para a pele do teto de vacas sadias durante a ordenha. Teteiras velhas, que ultrapassaram a sua vida útil, desenvolvem rachaduras, nas quais ocorrem acúmulos de bactérias patogênicas. Além disso, a preparação inadequada do úbere antes da ordenha, pelo uso de toalhas de uso múltiplo ou pelas mãos dos ordenhadores também podem atuar na transmissão de agentes causadores de mastite.
b) Aumento de lesões na pele e extremidade do teto
Um dos principais fatores que afetam a ocorrência de mastite é o aumento da exposição da extremidade do teto aos agentes patogênicos. A máquina de ordenha em funcionamento inadequado pode causar lesões na extremidade do teto, tais como eversão e hiperqueratose, as quais são colonizadas por bactérias patogênicas e podem resultar em novas infecções. As principais situações que resultam em lesões dos tetos são: alto nível de vácuo, sobre-ordenha e falhas nos pulsadores. Como exemplo, alto nível de vácuo (> 60 KPa) está associado com maior ocorrência de hiperqueratose, assim como alterações nas fases de pulsação, principalmente pela massagem insuficiente, podem resultar em maior taxa de novas infecções.
c) Aumento da penetração de bactérias para dentro do teto
Flutuações bruscas no nível de vácuo durante a ordenha podem resultar em fluxo reverso de ar e leite para dentro da glândula mamária, e, consequentemente, levar ao aparecimento de novas infecções. Estas flutuações de vácuo ocorrem devido a capacidade de bomba de vácuo insuficiente e problemas no regulador de vácuo. Desta forma, quando ocorre o deslizamento e queda de teteiras e rápidas introduções de ar na unidade de ordenha, o fluxo normal do leite é invertido e pequenas gotículas podem ser introduzidas para dentro do teto, possibilitando o aparecimento de novas infecções. A manutenção adequada do equipamento, a secagem completa dos tetos e a remoção cuidadosa da unidade de ordenha após o término do fluxo de leite são medidas que reduzem os riscos do fluxo reverso de leite.
d) Modificação das condições intramamárias ou dos tetos aumentando a infecção bacteriana ou dificultando os mecanismos de defesa
O equipamento de ordenha pode causar lesões nos tetos, tornando-os mais susceptíveis à colonização e infecção da glândula mamária. Da mesma forma, lesões internas da glândula mamária podem facilitar a colonização bacteriana destes tecidos. Adicionalmente, lesões que provoquem dor na glândula mamária podem reduzir a capacidade de resposta imune do animal, aumentando assim a ocorrência de infecções intramamárias.
Fonte: Machine Milking and Lactation, p.355-368, 1992.