Marcos Veiga dos Santos
Diversas estratégias com o objetivo de prevenir a mastite bovina baseiam-se exclusivamente em medidas de manejo do rebanho. Por outro lado, a capacidade de resposta imune da vaca leiteira depende, entre outros fatores, do adequado fornecimento de nutrientes, levando vários pesquisadores a buscar o aumento da resistência do animal pela suplementação de nutrientes específicos. Atualmente, temos vários exemplos bem estudados que relacionam suplementação e resistência à mastite, como: selênio e vitamina E.
Busca-se assim o descobrimento de novos nutrientes com o mesmo potencial de auxílio no controle da mastite, sendo o cobre um dos mais estudados ultimamente pela sua função crucial no funcionamento do sistema imune de várias espécies animais. Em muito países e regiões leiteiras têm-se observado a ocorrência de muitos casos clínicos de mastite causados por microrganismos chamados de ambientais, tais como a Escherichia coli. A prevenção da ocorrência de casos clínicos de origem ambiental é um grande desafio, pois as medidas tradicionais de manejo afetam pouco este tipo de agente, em particular a desinfecção de tetos após a ordenha e a tratamento de vaca seca.
Baseando-se em pesquisas anteriores que demonstraram a função do cobre na redução da incidência de mastite e no tipo de resposta a infecções experimentais causadas por E. coli, estaremos relatando um estudo que avaliou o efeito do nível de cobre sobre a resposta imune de novilhas desafiadas com E. coli. De maneira resumida, vinte e três novilhas foram dividas aleatoriamente em dois grupos e submetidas a uma das duas seguintes dietas: dieta basal (6,5 ppm de cobre) ou suplementadas com altos níveis de cobre (dieta basal + 20 ppm na forma de sulfato de cobre), entre os 60 dias antes e 42 dias depois do parto. Durante este período, foi monitorado o nível de cobre dos animais através de biópsias de fígado e amostras de sangue. Paralelamente, após o parto foi realizada coleta semanal de amostras de leite para cultura microbiológica e monitoramento da ocorrência de casos de mastite.
As novilhas suplementadas apresentaram níveis de cobre no fígado cerca de 3 vezes superiores que os animais da dieta basal, indicando efeitos positivos da suplementação de cobre sobre as reservas do animal. No 34o dia após o parto, foi selecionado um quarto sadio de todos os animais (com e sem suplementação de cobre), o qual foi desafiado experimentalmente com a infusão intramamária de E. coli. Após a infusão foram monitorados em cada animal os sinais clínicos da mastite, a produção de leite e os níveis de cobre no sangue. Antes da infecção experimental, a produção de leite era igual para os dois grupos de animais. No momento do parto, os animais suplementados com cobre tenderam a apresentar menor proporção de quartos com infecções intramamárias que os não suplementados, apontando para uma possível ação preventiva da suplementação.
Após a infecção experimental, os animais suplementados com cobre na dieta apresentaram menores contagens de E. coli e de células somáticas (CCS) no leite nas 18 horas iniciais da infecção. Os sintomas clínicos dos casos de mastite foram mais severos para o grupo não suplementado, apresentando maior severidade nas primeiras 36 horas da infecção e retornando ao normal em cerca de 8 dias. Houve aumento das temperaturas retais com pico máximo de 18 horas, sendo que os animais suplementados apresentaram as menores temperaturas. No tocante a produção de leite, ambos os grupos apresentaram em média de 12 a 17% de quebra no 1o dia após a infecção por E. coli, retornando gradualmente ao normal após o 4o dia.
Os resultados deste estudo apontam que a suplementação com 20 ppm adicionais de cobre em uma dieta basal fornecem suprimento adequado de cobre para manter as reservas deste mineral em níveis adequados no fígado, durante o período peri-parto. No entanto, não se sabe se estes níveis de suplementação são os mais adequados para a máxima resposta imune de vacas leiteiras. Como referência, o NRC de 1989 recomenda 10 ppm para a dieta de vacas leiteiras, enquanto a edição de 2001 eleva para cerca de 16 ppm no final da gestação. Considera-se que os níveis de cobre presentes no sangue não refletem se os níveis de cobre do animal estão ou não adequados, uma vez que o fígado é o órgão de reserva, o que o torna o local mais indicado para o monitoramento.
Os resultados apresentados desse estudo indicam que a resposta das novilhas desafiadas com E. coli é influenciada pelos níveis de cobre da dieta, uma vez que os níveis basais parecem ser adequados ao crescimento e produção de leite, mas mostram-se insuficientes para otimizar a resposta imune à mastite. As diferenças em relação à resposta à mastite quanto à contagem de E. coli, CCS, temperatura retal e severidade dos sintomas está diretamente relacionada com os níveis e a função do cobre sobre o sistema imune, visto que várias células de defesa - neutrófilos e macrófagos - são fundamentais na resposta imune e utilizam o cobre no seu metabolismo. Pode-se, portanto, explicar os efeitos benéficos da suplementação devido à capacidade aumentada de eliminação pelas células de defesa.
Em resumo, os resultados reforçam a idéia da importância de nutrientes específicos, como o cobre, para a máxima resposta imune em vacas leiteiras, em especial na prevenção da mastite ambiental.
Fonte: J. Dairy Sci. 86:1240-1249, 2003.