Staphylococcus aureus
Muito embora o principal reservatório de S. aureus seja a glândula mamária, este microrganismo pode ser encontrado em diversos locais no próprio animal ou nas mãos de ordenhadores. Novilhas, mesmo antes do parto, podem ser também reservatório de S. aureus em função de infecções intramamárias.
Após a introdução de medidas de controle e antibioticoterapia, existe tendência de redução da prevalência de S. agalactiae e, desta forma, o S. aureus passa a ser um dos principais agentes contagiosos encontrados em rebanhos leiteiros. Na grande maioria dos países, este agente pode ser encontrado em praticamente todos os rebanhos leiteiros, com a prevalência entre rebanhos variando entre 81 a 94%. No Brasil, no estudo descrito acima realizado em 48 rebanhos, o S. aureus foi isolado em 19,2% das 6.315 amostras analisadas, sendo que em apenas um rebanho não foi identificado este microrganismo.
Como os animais de reposição podem ser fonte potencial de S. aureus, recomenda-se que sejam coletadas amostras de leite para cultura microbiológica antes da sua introdução no rebanho. No entanto, existem outras fontes do microrganismo, o que leva a necessidade de aplicação de medidas de biossegurança dentro do próprio rebanho, tais como: desinfecção dos tetos após a ordenha, tratamento de vaca seca, descarte de vacas com mastite crônica, entre outras. As principais razões para a importância destas medidas são:
- A erradicação deste microrganismo não é possível através do uso de antibioticoterapia, pois as taxas de cura geralmente são menores que 50%.
- A realização e cultura de uma amostras de leite apresenta baixa sensibilidade (de 30 a 85%), o que significa que uma parcela das vacas infectadas não é identificada com apenas uma amostragem.
- A existência de reservatórios externos à glândula mamária nas vacas e novilhas torna a erradicação bastante difícil.
A redução da prevalência de S. aureus nos rebanhos pode ser feita no longo prazo pela implementação de medidas de controle descritas acima. Muitas das práticas recomendadas para controle de Staphylococcus aureus, como a segregação e descarte, são de difícil aplicação pelo seu alto custo e, portanto, vários novos métodos para tratamento de mastite causada por S. aureus têm sido estudados. As principais estratégias usadas recomendam o aumento da duração do tratamento dos casos de S. aureus, em especial nas vacas que não apresentam mastite crônica, pois nestes casos há uma melhor resposta ao tratamento. De forma geral, os resultados com o uso da terapia estendida são de aproximadamente 40% de taxa de cura, o que em muitos casos não é economicamente viável, devido ao alto custo do descarte do leite com resíduo de antibióticos.
Para controlar a mastite por S. aureus deve-se implementar um bom Programa de Controle de Mastite, com especial atenção ao correto manejo de ordenha, adequado funcionamento do equipamento de ordenha e uso do pós-dipping. O uso de vacinas contra mastite causada por S. aureus deve ser implementado em fazendas com alta prevalência deste agente, dando-se ênfase ao seu uso em animais jovens, objetivando aumentar a resistência contra o S. aureus.
Mycoplasma sp
Cerca de 11 espécies diferentes de micoplasmas são conhecidas como causadoras de mastite, entretanto, a espécie mais comum é a Mycoplasma bovis. Este agente apresenta comportamento bastante semelhante a um agente contagioso, pois pode se disseminar rapidamente entre as vacas de um rebanho. A grande maioria das novas infecções intramamárias é transmitida através de fômites, como as mãos de ordenhadores, o equipamento de ordenha e o uso de cânulas de uso múltiplo para tratamento. Além disso, são encontradas vacas portadoras do agente que de maneira intermitente eliminam o micoplasma pelo leite, sendo então consideradas como fontes de infecção. Alguns estudos apontam que alguns animais podem apresentar cura espontânea, no entanto não é conhecida a proporção de animais que continuam abrigando o microrganismo.
O isolamento de Mycoplasma pode ser feito de cavidades nasais de bezerros em rebanhos sem mastite por Mycoplasma, muito embora, o fornecimento de leite de descarte de animais portadores é uma importante fonte de infecção para os bezerros. Desta forma, a pasteurização do leite fornecido para aleitamento de bezerros é uma medida recomendada para evitar surtos de mastite causada por Mycoplasma.
Vacas com mastite causada por Mycoplasma geralmente desenvolvem infecções múltiplas nos quartos, podendo apresentam todos os quartos infectados. A transmissão da mastite entre quartos de uma mesma vaca pode ocorrer via sanguínea, embora a maioria das novas infecções ocorre por gotículas de leite contaminado. A principal forma de entrada do agente na fazenda é através da compra de animais infectados de outros rebanhos, sendo que no caso do Brasil, existe grande risco disto ter ocorrido pelas importações de animais. A grande dificuldade de identificar o micoplasma decorre da necessidade de técnicas de culturas especiais que na grande maioria das vezes não são utilizadas de maneira rotineira.
A presença do micoplasma como agente causador de mastite já foi identificada em rebanhos do Paraná e São Paulo. Estudando 713 vacas do estado do PR e SP, foram detectados 137 animais com mastite, sendo que dos casos diagnosticados de mastite, foi encontrado o percentual de 5,83% (8 em 137 casos) de animais com mastite clinica causada por Mycoplasma bovis. Os resultados deste estudo mostram necessidade de implantação de diagnóstico para micoplasma como uma técnica de rotina nos laboratórios que trabalham com identificação de agentes causadores de mastite, visto que este agente pode participar de forma significativa como causa da mastite e que atualmente não está sendo diagnosticado. A principal medida de biossegurança para prevenção da introdução de mastite por Mycoplasma nos rebanhos leiteiros é pela amostragem e cultura das vacas antes delas entrarem em contato com o restante do rebanho.
Referências consultadas
Brito, M., Brito, J. R. F., Ribeiro, M. T., Veiga, V. M. O. Pattern of intramammary infection in dairy herds: evaluation of mammary quarters of lactating cows in Minas Gerais, Brazil. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. v.51, p.129-135, 1999.
Dinsmore, R.P. Biosecurity for mammary diseases in dairy cattle. Veterinary-Clinics-of-North-America,-Food-Animal-Practice. 18: 115-131, 2002.
Faust, M. A., M. L. Kinsel, M. A. Kirkpatrick. Characterizing Biosecurity, Health, and Culling During Dairy Herd Expansions. J. Dairy Sci. 84:955-965, 2001.
Pretto, L. G., Muller, E. E., Freitas, J. C., Mettifogo, E., Buzinhani, M., Yamaguti, M., Salvador, R. Bovine mastitis in dairy cows caused by Mycoplasma bovis. Pesquisa Veterinária Brasileira. v.21, p.143-145, 2001.
Sischo, W. M.. Biosecurity principles as applied to udder health. in Proc. Natl. Mastitis Counc., Albuquerque, NM, Natl. Mastitis Counc., Inc., Madison, WI. p.124-126, 1998.
Wells, S. J. Biosecurity on Dairy Operations: Hazards and Risks. J. Dairy Sci. 83:2380-2386, 2000.
Fonte: Balde Branco, v. 463, maio 2003.