A produção coletada por estes 16 laticínios cresceu 5,5%, em comparação aos 6,7% de 1999 para 2000 (tabela 1). Já o número de produtores mostrou nova redução, agora de 8,2%, menos do que os quase 15% do biênio anterior, mas que resultou em uma redução acumulada de 22,8% nos últimos 2 anos.
Seguindo tendência semelhante do ano anterior, a produção média por produtor/dia subiu significativos 15%, resultando em aumento acumulado de 40% em dois anos.
Parem para pensar nestes números. Em dois anos, o produtor médio dos 16 maiores laticínios, que respondem por 50% da coleta formal de leite, aumentou quase 50% a sua produção diária. Poucos setores da economia verificaram alterações drásticas tão rápidas, sugerindo que estamos de fato em meio a uma revolução no setor.
Tabela 1. Dados sumarizados dos 16 maiores laticínios
Mas é avaliando os dados individuais de cada laticínio que conseguimos analisar mais detalhadamente o cenário que se desenrolou a partir de 1999. O gráfico 1 traz a variação na captação de leite de 1999 para 2000 e de 2000 para 2001. Os dados da Central Leite Nilza de 1999 não foram incluidos na análise, além do fato que, em 2000, os dados desta empresa referem-se apenas à quantidade entregue pela COONAI, uma de suas singulares, sendo que as outras, CASMIL e COOPERCARMO, não foram incluidas.
Algumas informações saltam aos olhos neste primeiro gráfico. Quem mais cresceu em litragem, em 2001, foi a Danone, fruto da aquisição de unidade da CCL e da compra de grande volume de leite desta cooperativa. Já o maior crescimento acumulado em dois anos ficou com a Parmalat, com quase 175 milhões de litros. Considerando que, ao final de 2001, a empresa adquiriu a Fleischmann Royal, cujo crescimento em 2001 foi bastante considerável, é de se esperar que, neste ano, a Parmalat novamente seja um dos destaques em aumento de captação.
Vale notar que o crescimento da Danone já era esperado conforme o comentário feito aqui, na mesma época, no ano passado (clique aqui para ler)
Destaque positivo também tiveram Itambé, que recuperou o baixo crescimento do ano passado, além de Morrinhos, CENTROLEITE, Embaré e SUDCOOP. Perderam captação significativa a CCL - Paulista, Batávia e o Grupo Vigor (as duas últimas pelo segundo ano consecutivo).
O crescimento das empresas situadas no Oeste do Paraná, Goiás e Oeste de Minas Gerais confirma o fato do estímulo à produção nestas regiões, em detrimento de bacias mais tradicionais, como São Paulo, Sul de Minas e (talvez) Norte do Paraná, justamente regiões nas quais atuam mais fortemente as três empresas citadas acima e que perderam captação.
A Nestlé, em 2001, se moveu lentamente no que se refere ao aumento de captação, embora para 2002 se espere uma outra realidade, como já comentado neste espaço anteriormente. A empresa vem mostrando agressividade na aquisição de leite no mercado e seus dirigentes têm demonstrado interesse em aumentar significativamente o faturamento da empresa no país.
Um outro dado interessante é que, comparando as barras verde-claras da transição 1999-2000 com as barras azuis de 2000-2001, nota-se uma melhor distribuição do crescimento em litros neste último período, com empresas menores ganhando mercado considerável em comparação às empresas do primeiro escalão. Como as empresas do segundo pelotão são obviamente menores do que as do primeiro pelotão, isto significa dizer que seu crescimento porcentual foi maior. É o que pode ser observado no gráfico 2.
O crescimento mais notável em captação foi da Danone, com aumento de nada menos do que 90% na coleta do último ano em comparação a 2000. Em dois anos acumulados, a empresa dobrou de tamanho, fruto da aquisição de unidade da CCL, que encolheu em 2001. A Danone saiu da 13ª ou 14ª posição em 1999, para a sexta colocação em 2001, constituindo-se na empresa mais agressiva no período analisado. Grande destaque vai também para CENTROLEITE, SUDCOOP, Morrinhos e Embaré (90% de crescimento em dois anos). Vale notar que estes laticínios atuam nas regiões de maior crescimento da produção no país, como Goiás, Oeste do Paraná e Triângulo Mineiro / Oeste de Minas Gerais.
Se avaliarmos o crescimento médio dos 4 últimos anos (gráfico 3), agora em relação aos 10 maiores laticínios, nota-se que o primeiro lugar vai para a CENTROLEITE, com crescimento anual de 16,71%, seguida pela Leite Líder e Danone. Destaques negativos neste quesito ficam para a CCL - Paulista, Batávia e Grupo Vigor, este com queda anual de mais de 7% na coleta de leite.
No pelotão da frente, não houve grandes modificações, exceto talvez a não confirmação, em 2001, da tendência da Elegê superar a Itambé no volume coletado, embora ambas continuem próximas (gráfico 4). Das 5 maiores, apenas a CCL teve queda no volume coletado, embora ainda esteja folgada na quinta colocação, uma vez que coletou quase o dobro de leite em comparação à sexta coletada, a Danone.
Em relação ao número de produtores por laticínio (gráfico 5), a mudança mais drástica foi sem dúvida alguma capitaneada pela Nestlé. De 2000 para 2001, a empresa perdeu simplesmente 5.606 fornecedores, sendo responsável, sozinha, por 54,49% da redução total verificada no grupo dos 16. Avaliando também o gráfico 6, que traz a litragem média por fornecedor, fica clara a política da Nestlé de mudar radicalmente o perfil do seu fornecedor, algo que até agora não se manifestou na Parmalat, por exemplo, ou na Elegê, que reúne o maior número de fornecedores de leite no país (quase o dobro de toda a Argentina !), embora os números de 2001 tenham sido estimados nesse item, para esta empresa.
É justamente na litragem por produtor que aparecem as maiores diferenças entre os laticínios. As diferenças ocorrem tanto em litragem absoluta por produtor, quanto na velocidade de mudança. Enquanto algumas empresas permanecem praticamente estagnadas no módulo de fornecimento, como Elegê, Leite Líder, Morrinhos, Batávia e SUDCOOP (as duas últimas até reduziram o volume por produtor/dia no último ano), outros verificaram aumento significativo no módulo de fornecimento, sendo destaque a ILPISA, com atuação no Nordeste, com crescimento de 171 litros/produtor/dia no último ano, chegando ao topo da lista com 559 litros/dia em 2001 e a própria Nestlé, cujo fornecedor médio produz hoje quase 3 vezes mais do que produzia em 1999.
Para tentar conceituar estas diferenças, é preciso levar em conta diferentes realidades regionais, como o fato de Elegê, Lider, Batávia e SUDCOOP atuarem no sul do país, onde a produção familiar é muito significativa, sendo caracterizada por propriedades menores. Outra possibilidade é a necessidade do crescimento na captação de leite, especialmente nas empresas atuantes nas chamadas fronteiras do leite, forçar a aquisição de produto proveniente de produtores menores. Isso poderia ocorrer com as empresas atuantes em Goiás, como CENTROLEITE e Morrinhos. Um outro aspecto que pode contribuir para a não redução do módulo de produção nas cooperativas reside justamente em uma provável pressão dos cooperados. Isso poderia explicar a pequena alteração no módulo de produção, em 2001, na Itambé e na CCL, após uma queda significativa em 2000.
Independentemente das explicações, uma coisa é fato: a análise destes dados, ainda que superficialmente, como fizemos, não deixa dúvidas a respeito das drásticas mudanças pelas quais a produção de leite está passando no Brasil.