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Porque o leite cresce tanto no Brasil

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 15/08/2006

9 MIN DE LEITURA

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A produção brasileira de leite vem crescendo a uma taxa consistente ao longo dos últimos 25 anos, como mostra a figura 1. De 1995 para 2005, a produção aumentou cerca de 50%, passando de 16,4 bilhões para estimados 25 bilhões. Não só o número é considerável, como também a continuidade do crescimento chama a atenção. A Argentina, que tem feito bonito nas exportações, teve uma retração de 16% na produção de leite entre 2001 e 2003, só recuperando a produção no ano passado, para em 2006 atingir 10 bilhões de litros. De 2001 para 2005, nossa produção cresceu 4,5 bilhões de litros, ou meia Argentina.

A Rússia, um dos grandes produtores de leite, apresenta estagnação da produção, assim como a União Européia, responsável por 25% da produção mundial de leite. A Austrália, em função de secas, também patinou na produção nos últimos anos. Por isso e pelo fato do Brasil já ser um grande produtor mundial, o crescimento da produção de leite não deve ser menosprezado.

Figura 1. Crescimento da produção de leite nos últimos 25 anos no Brasil (Fonte: IBGE, elaborado por Equipe MilkPoint)


Na semana passada, após uma palestra a respeito das tendências de mercado, um produtor me questionou a respeito desse crescimento. Segundo ele, o contínuo e significativo crescimento verificado nos últimos anos não era motivo de comemoração, uma vez que representava muito mais a falta de opção econômica do que a atratividade real da atividade. Ele argumentou ainda que quanto mais tecnificado o produtor, maior o prejuízo, e que a quantidade de leilões de liquidação de rebanhos era uma prova de que a atividade não ia bem, uma vez que os liquidantes são via de regra produtores tecnificados.

Essa argumentação tem em parte origem na percepção do leite ser uma atividade marginal, que cresce onde nada mais pode ser explorado. O escritor (e humorista) Eduardo de Almeida Reis, definiu em um de seus livros o que configura uma bacia leiteira. Segundo ele, uma região que não se presta a nenhuma outra atividade agrícola tem todas as condições para se tornar uma "bacia leiteira".

Tirando os exageros, parte da argumentação do produtor descontente com a minha visão positiva a respeito do crescimento da atividade, procede. Vamos estudar a hipótese de que, em muitas regiões, a atividade leiteira cresce mais pela falta de opções do que pela criteriosa seleção, entre várias alternativas disponíveis e viáveis.

É plausível considerar que o leite é uma boa alternativa quando se pensa em um pequeno produtor disposto a trabalhar e que não tenha muito capital para investir. Pode ser explorado em pequenas áreas, apresenta baixo risco comercial (sempre haverá por perto alguma linha de leite), o risco tecnológico nos sistemas a pasto é reduzido (compare com horticultura ou fruticultura intensivas), o fluxo de caixa mensal é atraente e há emprego de mão-de-obra familiar, representando uma forma interessante de ocupação e renda para a população rural. Isso ocorre nas regiões oeste do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, assim como no norte do Mato Grosso e outras fronteiras. A Figura 2 mostra o crescimento de 1994 a 2004 da produção em diversos estados, ficando claro que o desempenho dos estados de fronteira é maior do que o dos estados mais tradicionais como SP e MG.

Figura 2. Crescimento porcentual da produção de leite de 1994 a 2004 (Fonte: IBGE, elaborado por Equipe MilkPoint)


O crescimento desse produtor de pequeno porte, muitas vezes utilizando mão-de-obra familiar, embute uma distorção, representada pelos custos desta mão-de-obra que não é encarada pelo produtor como um desembolso, mas sim como a sobra ou lucro da atividade.

Os dados do Diagnóstico do Leite em MG trazem boas informações a esse respeito. Analisando-se os vários estratos de produção, concluiu-se que nos estratos de menor volume de leite por dia o uso de mão-de-obra familiar é maior (61,51% em produtores abaixo de 50 litros x 44,64% em produtores com mais de 1000 litros diários). Nesses estratos de menor produção, o custo operacional efetivo, ou seja, o desembolso ou custeio por litro de leite, é muito menor, como mostra a tabela 1. Por outro lado, o custo total, ao se incluir mão-de-obra familiar, depreciações e juros sobre o capital investido, fica bem superior para os produtores de menor volume de leite. O efeito prático disso é que, no curto prazo, se esses produtores receberem valores que cubram o desembolso, por exemplo R$ 0,30/litro de leite, de acordo com os dados de 2005, permanecerão na atividade, às vezes com a ilusão de estar ganhando dinheiro. O mesmo valor recebido por um produtor de grande porte, que além de tudo tende a ser mais tecnificado, isto é, com mais despesas variáveis (logicamente visando maior produtividade) não é suficiente para remunerar as despesas correntes, sendo desestimuladora à produção. Em outras palavras, o leite cresce em determinadas regiões e situações porque a contabilidade correta do ponto de vista econômico não é adotada.

Esse processo pode estar sim na raiz de parte do crescimento do leite, especialmente em regiões não tradicionais, onde a atividade é marcadamente familiar ou extensiva. Antes de darmos então razão aos argumentos do nosso produtor, vale a pena refletir um pouco sobre a questão. Pois bem, o leite cresce nas fronteiras pela falta de opção. E daí?

Dois países - China e Índia - cuja economia mais cresce no mundo, hoje celebrados em qualquer artigo sobre globalização, tem como base de suas vantagens comparativas uma enorme oferta de mão-de-obra que se dispõe, pela falta de opção, a trabalhar em troca de salários (sob nossa análise) baixos e em jornadas exaustivas em indústrias, resultando em produtos de baixo custo que são exportados para os quatro cantos do mundo. Pode-se argumentar que os salários são reduzidos e que as condições de trabalho muitas vezes são desumanas e que o ideal seria salários maiores e melhores condições de vida, mas o fato concreto é que esses milhões de trabalhadores estão em melhor situação hoje do que antes, quando não dispunham dessa opção. Muitas das críticas nesse sentido, inclusive, vêm de países que estão perdendo mercado, sendo os argumentos às vezes mais baseados em um protecionismo disfarçado do que em uma preocupação genuína com as condições de trabalho.

Em última análise, a falta de opção é um dos aspectos que tem feito China e Índia crescerem suas economias a taxas muito elevadas, assim como a falta de opção pode ter ajudado o leite brasileiro crescer, a ponto de ter injetado algo próximo a R$ 850 milhões a mais na economia somente no elo produtivo, em 2005, considerando um preço médio de R$ 0,50/litro. O leite, assim, passa a ser uma opção relevante para um grupo considerável de produtores rurais.


Tabela 1. Custos de produção de leite por estrato de produção (adaptado de Gomes, 2006)


COE = Custo operacional Efetivo; COT = Custo Operacional Total; CT = Custo Total

Mesmo reconhecendo que esta realidade tem sua parcela de responsabilidade no crescimento da produção, conferir a ela todo o crescimento é ignorar uma parte importante das mudanças que vêm ocorrendo no mercado. Primeiro, há produtores tidos familiares e de pequeno porte que estão produzindo com emprego de tecnologia e tendo lucro econômico, a ponto de competir com outras atividades. Estive recentemente no noroeste de SP e pude ver essa realidade. A leitura da entrevista de Artur Chinelato e André Luiz Novo, aliás recordista em cartas, também sinaliza isso (Clique aqui para ler).

Além disso, há também um outro aspecto que explica o crescimento da atividade, agora no grupo dos maiores produtores. Com a granelização e preocupação crescente com qualidade do leite, a disparidade de preços entre produtores aumentou, abrindo oportunidades para produtores de maior volume de leite e qualidade superior. No Boletim do Leite de junho/julho de 2006, do CEPEA/USP, verifica-se que no Rio Grande do Sul, por exemplo, os preços máximos atingiram R$ 0,553 ao passo que os mínimos, R$ 0,376 por litro. Há produtores de grande porte recebendo hoje algo em torno de R$ 0,65/litro de leite, isso quando os preços médios no Brasil estão na faixa de R$ 0,50/litro de leite. Essas diferenças de preços refletem os menores custos de transporte, os menores custos operacionais, a qualidade, a localização do produtor e o poder de negociação, entre outros. O ponto em questão é que à medida que o mercado diferencia produtores, o preço médio acaba ficando distante da chamada "moda", para utilizar o termo matemático correto. Quem recebe o leite nas faixas superiores está em outro negócio em comparação a quem está na base da pirâmide de preços.

Um termômetro de que os grandes produtores estão acreditando na atividade é o levantamento Top 100 do MilkPoint (clique aqui para ler). Desde que começou a ser realizado, em 2001, vemos ano a ano um aumento considerável da produção média e a intenção mais ou menos constante de cerca de 70% dos produtores em elevar a produção no ano seguinte. Ora, não se investe em uma atividade que não apresente potencial de retorno econômico - estes produtores não carecem da falta de opção de investimento!

Os leilões de liquidação são sempre utilizados como indicativo da permanente crise do setor. É preciso cautela ao analisar essa informação, pois os leilões acabam tendo visibilidade muito maior do que o número proporcional de leite que é perdido através deles. Há uma mudança de mãos, os animais não são enviados ao abate. Os leilões representaram e ainda representam um processo de transformação da atividade. Muitos dos que liquidaram eram produtores de leite de outra época, época em que era possível conduzir o negócio à distância e com índices de produtividade incompatíveis com uma atividade bem conduzida. Analisando as opções existentes, o valor da terra e o custo de oportunidade de seu trabalho e capital, optaram por encerrar a atividade, dando lugar a outro tipo de produtor. Hoje, minha percepção é que há muitas centenas de produtores de mil, dois mil, três mil litros de leite que estão investindo na atividade, silenciosamente. Vários laticínios em regiões tradicionais aumentaram a captação nos últimos anos apesar de terem reduzido o número de fornecedores.

A conclusão do artigo não é que o leite cresce porque está bom para todos. Sem dúvida a atividade passa ciclicamente por crises, como quase todas as commodities que operam em livre mercado. Sem dúvida nem todos estão e sempre estarão satisfeitos com a atividade. Sem dúvida muitos vão deixar de produzir leite nos próximos anos. Como qualquer atividade submetida à concorrência, o mercado não comportará a todos. Mas o fato é que o leite tem sido uma atividade interessante para distintos perfis de produtores, sendo prova disso a produção crescer a taxas consideráveis há anos, devendo continuar assim por um bom tempo ainda, desde que consigamos colocar essa produção no mercado.

PS: A propósito, a Índia é a maior produtora de leite do mundo, com cerca de 96 bilhões de litros de leite produzidos a partir de uns 70 milhões de produtores. A produção média é de 4 kg por produtor/dia e o pagamento é feito diariamente ao produtor, mediante a entrega e pesagem do leite. Segundo a FAO, a Índia é o país com maior crescimento previsto na produção de 2002 a 2010, com acréscimo de 27 bilhões de litros. O Brasil é o segundo do ranking, com mais 9 bilhões

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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MARCOS A. MACÊDO

PIUMHI - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 29/12/2006

Marcelo,

Parabéns pela clareza e visão abordada no artigo.

Como abordado pela EMBRAPA - S. Carlos - SP. acreito que dificilmente leite deixará de ser um bom negócio, ou como dizemos a base econômica qe sustenta as despesas diárias e custos de atividades em mono culturas e ou nas policulturas. Todavia, traz este estigma de má remuneração, não obedecendo uma análise econômica dentro das regras econômicas de qualquer negócio, onde as flutuações de ofertas no mercado é que ditam o preço do litro de leite.

Também, a produção leiteira, como qualquer outro negócio explorado aleatoriamente, é o motivo do fracasso do negócio. Aliado a idéias preconceituosas de que devemos continuar utilizando técnicas de produção leiteiras herdadas de nossos avós; desprezando as técnicas de manejo de animal e todo conhecimento disponibilizado pela EMBRAPA Gado de leite, acompanhando apenas a fatura emitida pelo laticínio, alegando que boa qualidade do leite apenas por que sua família ordenha o rebanho ou porque utiliza o detergente indicado pelo fornecedor da ordenhadeira.

Atividade de produção leiteira deverá ser interessante como qualquer outra atividade do agronegócio, à medida que mais profissionalizada e gerenciada como negócio. Pode demorar, mas acredito que esta atividade expulsará com maior brevidade os especuladores de curto prazo, com a IN 51 e o pagamento por volume e qualidade.

O mercado externo será conquistado com uma atividade sadia e competitiva, com políticas agrícolas sérias e a longo prazo. Sabemos que taxas cambiais ajudam, mas distorcem muito as realidades e custos produtivos.

A todos Feliz ano 2007
MARIA LUZINEUZA ALVES GOMES DA MAIA

MARABÁ - PARÁ - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 28/12/2006

Caro Marcelo, parabéns pela matéria, e por outros artigos do MilkPoint que são de execelente qualidade e veracidade.

Esta pesquisa comprova que o leite ainda é a melhor fonte de renda para os pequenos produtores rurais, no Brasil e em outros países.

Como podemos observar no mapa acima, a região da Amazônia está destacada pela alta produção, especialmente o Pará e o Acre. O incentivo dos bancos estaduais no investimento nesta área, liberando recursos (PRONAF) para a compra de matrizes leiteiras para PA (projetos de Assentamentos) das regiões, contribui diretamente na melhoria de vida destas pessoas.

Geralmente quando trabalhamos com um grupo de produtores, costumamos fazer uma pesquisa chamada de T.0. onde medimos a produção do leite desde o inicio das ações até o término, com o objetivo de avaliar o aumento da produção a partir do primeiro momento que atuamos com esses grupos.

Os resultados são bastante satisfatorios. Muitos acatam as instruções dos consultores e aplicam em suas propriedades as melhores formas do BPA (Boas práticas agropecuárias), desde a alimentação do rebanho, manejos gerais e sanitários, ordenhas etc.
Conclui-se que isso contribui bastante para essa elevação na produção de leite no Brasil.

Essa matéria está bem atualizada, parabéns!!

Maria Luzineuza
Marabá-Pa
CAIO TACITO GOMES ALVARES

ILHÉUS - BAHIA - PESQUISA/ENSINO

EM 08/09/2006

Marcelo, a análise que você fez foi bastante providencial, mesmo em localidades menos "aclamadas", como aqui no sudeste da Bahia, onde a atividade leiteira está situada entre as conseqüências deletérias da monocultura do cacau e da pecuária de corte à "moda antiga".

De fato, ao estudar seu texto, bem como a análise de vários colegas em suas cartas, podemos observar que é possível, sim, adequar a grande massa de pequenos produtores à realidade que a globalização impõe de competitividade, desde que os mesmos passem a conhecer e adotar práticas citadas como gerenciamento, controle de custos e, não menos importante, programas de marketing, onde sugiro até um estudo mais enfocado na migração da "commodities" para a "specialties", ou construção de "agriclusters", como nos mostram os bons exemplos regionais vindos da avicultura e suinocultura.

Parabéns pelo excelente artigo!
ÍTALO DIÓGENES HOLANDA BEZERRA

LIMOEIRO DO NORTE - CEARÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 06/09/2006

Meus parabéns pela matéria. Como pequeno produtor, vejo essa e outras verdades. Precisamos urgentemente partir para um posicionamento de mercado com foco no consumidor, temos milhares de argumentos científicos e históricos que nos habilita e nos dá lastro para que os nossos produtos sejam remunerados de forma digna.

Basta dessa relação inversa de custos X preço e preço X valor.

Infelizmente ainda não se tem um estudo sobre setor de leite para o Nordeste, como o que vimos no quadro acima. Nossa região tem feito um esforço gigantesco em aprimoramento Genético, pastos rotacionados e tecnologia própria de irrigação junto a uma primorosa forma de gerenciamento da água e de recursos naturais.

Parabéns mais uma vez pelo texto e todos os comentários feitos por mulheres e homens que sabem, vivem do setor e o defendem.

Ítalo Diógenes Holanda Bezerra
CLEMENTE DA SILVA

CAMPINAS - SÃO PAULO

EM 30/08/2006

Marcelo, você bem que podia ter deixado uma brexazinha para alguém chorar um pouquinho, e com isso poder por a culpa em alguém, quanto às baixas remunerações do leite hoje e sempre.

Sem querer dizer com isso que o nosso leite goze de um preço justo, muito pelo contrário, comparado a refrigerantes e cia, o leite tem a pior de todas as remunerações no Brasil.

Na década de 1.970, quando os holandeses começaram a expandir a produção de leite nas colônias do PR, eu fui um dos que fiz algumas críticas no sentido de "onde pensa esse povo que irá colocar o leite que pretendem produzir?". Me enganei, pois o Brasil cresceu.

Você nos mostra a evolução a partir de 1.980, e seria espantosa se a população brasileira não tivesse crescido 100% nesses últinos 35 anos, e se a educação do brasileiro em termos de costumes alimentares não houvesse evoluido um pouco, se o poder de compra do povo em geral não houvesse melhorado, principalmente a partir do "plano real" em 1.994.

Hoje eu digo: se as associações, cooperativas e indústrias de laticínios se preocuparem um pouquinho com o marketing do leite, investirem nesse segmento 0,25% de seus lucros que seja, no sentido de mostrarem e promoverem os beneficios que o leite pode proporcionar às nossas gerações futuras, fazendo com que cada brasileiro passe a consumir o equivalente a mais 200ml de leite por dia, passaremos a ser um dos grandes importadores de leite do mundo, no curto prazo.

Parabéns Marcelo, por mais essa radiografia da evolução do leite no Brasil.
MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

CAMPINAS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/08/2006

Caro Marcelo,

Parabéns pelo editorial. Realmente o leite não é um negócio bom para todos. Os custos de produção apresentados refletem para os vários extratos a nossa realidade. E quem não se adequar a esses custos acabará deixando a atividade, dando lugar a outros. A adequação de custos exige investimentos para aumentar a produtividade e reduzir custos, como por exemplo, adequação de manejo, melhoria e irrigação de pastagens.

Geralmente, o grande problema é que muitas vezes o produtor trabalha com produtividade muito baixa, num estrato de produção incompatível com sua capacidade de investir. O excelente trabalho que vem sendo desenvolvido pela equipe da Embrapa Pecuária Sudeste, liderada pelo Artur Chinelato e André Luiz Monteiro Novo mostra isso, e tem apontado caminhos para os pequenos produtores, que estão nos extratos menores. Os produtores de estratos maiores precisam encontrar caminhos semelhantes para adequar seus custos se quiserem permanecer na atividade.

Mas o editorial mostra um fato que chama a atenção: no período de 1994 a 2004, a produção nos principais estados produtores cresceu a taxas de 45% ou mais, no estado de São Paulo a produção caiu 13%, contrastando com o quadro de crescimento da atividade. Qual a razão desse fato? Esse quadro de declínio da pecuária leiteira paulista pode ser revertido?

A preocupação com a respostas a essas perguntas levou a Leite São Paulo a batalhar pela realização do Estudo da "Tomografia do Complexo Leiteiro Paulista", estudo promovido pela Câmara Setorial de Leite e Derivados de São Paulo, que está sendo realizado pelo PENSA/USP, que teve apoio na primeira fase das empresas que forneciam leite para o programa Viva Leite e que na atual fase tem o apoio do SEBRAE-SP, da FAESP-SENAR e da OCESP-SESCOOP. São alguns anos de luta para que esse trabalho pudesse ser viabilizado, mas agora estamos chegando ao fim, e esperamos que em março de 2007 tenhamos as respostas. Você tem acompanhado e ajudado nessa luta, e espero ver nessa época um editorial do Milkpoint com um título como " Qual o futuro do leite de São Paulo".

Um grande abraço,

Marcello de Moura Campos Filho
Presidente da Leite São Paulo
LUIZ JANUÁRIO M. AROEIRA

OUTRO - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 21/08/2006

Marcelo,

Parabéns pelo artigo. Muito bem argumentado. Espero que no país continue existindo lugares para todos os "tipos de produção de leite" inclusive os diferenciados, baseados em práticas agroecológicas e com custo diferenciado. Vamos trabalhar nesse sentido.

Um abraço
Luiz Aroeira.
FLÁVIO QUINTÃO MATEUS

MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 19/08/2006

Marcelo, o conteúdo de seu artigo responde de forma técnica e diplomática à pergunta do título. Mostrando nesse artigo, como em outros, o alto nível das informações que você tenta passar aos leitores deste magnífico site.

O excelente e significativo crescimento da produção leiteira nacional observado a partir da desregulamentação ou desatrelamento ou abertura do mercado, já nos mostra o quão importante a atividade está se tornando não só sob o aspecto econômico mas, principalmente, social. Sobretudo por estarmos vivenciando um processo de transição, que está demorando demais, fazendo com que deixemos de ganhar muito dinheiro com exportações.

Isso tudo causado por reacionários paternalistas que nos impuseram um retrocesso sem tamanho e justificativas plausíveis, quando da prorrogação de 2002 para 2005 da IN 51.

É um descalabro total saber que ainda existem pessoas que têm esse tipo de opinião sobre a atividade leiteira. Isso mostra, Marcelo, que você precisa escrever mais, informar cada vez mais e melhor aos seus leitores.

Este produtor que argumenta não ser a atividade atrativa economicamente, principalmente quanto mais tecnificado for o produtor, carece certamente da assessoria de profissionais gabaritados e capacitados a gerir seu negócio.

Essa visão de uma atividade marginal e extrativista em que o "produtor" confina seus gabirús em um campo de concentração chamado "pasto", que é mais um carrascau, está acabando, ou melhor, tem que acabar em nossa Pátria Mãe Gentil.

A atividade leiteira é uma excelente opção, ou, como digo em minhas palestras, "produzir leite é um excelente negócio", se trabalhado com profissionalismo e a seriedade que a atividade exige. Precisamos levar para o campo a tecnologia produzida em nossas instituições de ensino e pesquisa, que estão preocupando o resto do mundo.

Como me referi anteriormente, a atividade está em processo de mudanças. Precisamos sair do século XX e pularmos imediatamente para o século XXI.

Nossos pequenos produtores estão se tornando grandes, em pequenas áreas com alta produtividade e bons lucros. Não há erro contábil. O produtor está melhorando de vida.

As desigualdades existentes entre os diferentes grupos de produtores têm de ser dirimidas pelo poder público, seja exigindo e/ou oferecendo condições para que isto ocorra.
EDUARDO AGUIAR DE ALMEIDA

SALVADOR - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 18/08/2006

Marcelo,

Parabéns pelo artigo. Até onde percebo, os leilões de liqüidação são, via de regra, de gado europeu puro ou PC, de alta performance individual, ou de tipos cruzados, sobretudo girolandas, com grau mais alto de genética taurina.

Se estados como Pará, Mato Grosso e Rondônia apresentam crescimento considerável, provavelmente isso se deve bastante a uma genética bem mais azebuada. Caso contrário, essa expansão não se mostraria sustentável. Então, não vamos continuar escondendo o sol com a peneira. A revolução branca no Brasil e nos trópicos em geral passa pelo zebu leiteiro. Essa inversão de paradigmas incomoda certas pessoas, mas, contra evidências, as mentalidades têm que mudar.
ROSANGELA ZOCCAL

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 17/08/2006

Marcelo, ótimo seu artigo.

Bastante oportuno para os governantes, representantes de classe e pesquisadores, principalmente por mostrar que estamos caminhando para dois tipos de sistemas de produção de leite. Um tecnificado, eficiente, competitivo e que atende aos regulamentos técnicos da IN 51, e outro de sobrevivência, pequena produção, que cresce a cada dia nas áreas de fronteira.

Acredito que os dois são de extrema importância para o nosso país; um está voltado principalmente para o abastecimento de grandes centros e exportação (mercado), e outro de abastecimento de pequenas cidades, consumo próprio e emprego no meio rural (social).

Estive recentemente em um assentamento, onde foram assentadas 176 famílias, e para minha surpresa, 146 delas estavam produzindo leite.
FERNANDO BUENO SIMÕES PIRES

SANT'ANA DO LIVRAMENTO - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 17/08/2006

Marcelo, parabéns pela sua visão a respeito do leite. Como sou filho de pecuarista, em Santana do Livramento (RS), com família tradicionalmente envolvida com pecuária de corte, gostaria de acrescentar mais um ponto de vista.

Somos proprietários de 447 hectares, e abandonamos a pecuária de corte em 1987, partindo para a pecuária de leite. Produzimos hoje, em pleno inverno, no "Sistema Voisin", utilizando apenas 112 hectares com o gado em ordenha, 1.800 litros/dia, a um preço final, bruto, de R$ 0,54/litro.

Estamos com o campo lotado. Não pretendemos abandonar a atividade, ao contrário, investiremos mais, para aumentar a produtividade do rebanho. Aqui no Brasil, e principalmente em nossa região, a única maneira de sobreviver é produzir em escala, e com a área que temos, com o leite podemos atingir o objetivo. Creio que isto possa também explicar o crescimento na produção de leite.
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 16/08/2006

O grande "boom" do leite foi a descoberta, tardia é bem verdade, de que uma fazenda, com boa topografia, fontes de água abundantes, capacidade alimentícia respeitável, dá lucro se bem administrada, dentro das modernas técnicas de manejo. Sempre ouvi, desde os tempos de meu avô, grande produtor de leite e criador aguerrido de Gado Holandês, que o negócio do leite é prejuízo certo.

Agora, à frente da mesma propriedade, impus ao conglomerado agro-pastoril que me foi entregue duas vias de modernização: a primeira, genética, com o descarte de todos os animais impuros e improdutivos e a aquisição de matrizes de elevado nível; a segunda, o implante imediato de versões de manejo mais efetivas (pré e pós dip, ordenha mecânica, alimentação controlada por nutricionista, médico veterinário constante, tanque de expansão, controle de mastite clínica e subclínica, transferência de embriões e inseminação artificial, registro de animais, entre outras), e chego à conclusão que o negócio não é tão desastroso assim.

Atuando há mais de vinte anos no vermelho, consegui, há mais ou menos sessenta dias, que o azul voltasse às nossas contas, e hoje obtenho lucro (pequeno ainda, é verdade) com a produção do leite. O grande segredo é a manutenção de poucos animais e grande produção, porque não adianta nada possuir dezenas de vacas em lactação, comendo e tendo gastos com medicamentos, se a produção que delas for pequena, e não se basta a pagar suas despesas.

Este é o grande problema da pecuária nacional: qualidade produtiva do rebanho. Lembro que a genética é muito importante, já que, no tempo de meu avô, uma vaca de dez litros de leite/ dia era top de linha. Hoje, minhas vacas de quarenta litros são comuns. É a profissionalização do mercado, que nos exige cada vez mais condutas avançadas e animais cada dia mais preparados para o fim a que se destinam. Outro aspecto muito relevante foi o pagamento do leite por sua qualidade, que alguns laticínios (não todos) já adotaram. Por isso, houve um aumento na produção de leite no Brasil. Porque o lucro finalmente apareceu, e a cada dia alguém do setor percebe isso.

Outro dia vi uma reportagem na televisão, sobre um sitiante que tinha sete vacas apenas. Mas tirava quatrocentos e noventa litros de de leite/dia, numa média de setenta litros/dia por animal. Genética, manejo, alimentação: o triângulo que fala a verdade no campo da produção láctea. Estamos melhorando nossos horizontes, mas ainda muito há que caminhar. Espero que eu e todos nós, produtores de leite, possamos seguir juntos.
EDJAR PIMENTEL JUNIOR

BAMBUÍ - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 16/08/2006

Caro Marcelo,

Excelente artigo, que vem mostrar nosso potencial de crescimento, mesmo com atual situação da atividade no mercado interno.

Gostaria de complementar, no que diz respeito apenas ao crescimento da produção no Brasil, que na região do bico do papagaio - sul do Maranhão, norte do Tocantins e sul do Pará - está surgindo uma promissora bacia leiteira.

No Tocantins, a eletrificação rural e estradas já chegaram e estão chegando as propriedades rurais. No Pará e no Maranhão, já existem tendências governamentais, para acontecer o mesmo, uma vez que a eletrificação e estradas são de suma importância para a atividade leiteira.

Acredito que estas medidas e a migração de empresas de porte para a região, levando novas informações, conceitos de produção e seriedade para a atividade, levarão ao desenvolvimento e crescimento da produção leiteira nesta região. Acredito que dentro de um prazo médio exista uma grande probabilidade desta região tornar-se uma grande e importante bacia leiteira. Pois, mesmo com atual condição de produção e mercado em geral, estima-se (dados não oficiais) que atualmente o Pará produza aproximadamente 1.600.000 litros/dia, o Maranhão, com cerca de 400.000 l/dia e o Tocantins, em torno de 600.000 l/dia, sendo números crescentes.
LEANDRO REZENDE PACHECO

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 16/08/2006

Marcelo Pereira, parabéns não só por este artigo, mas pelos demais disponíveis no MilkPoint.

Realmente o Brasil apresentou um aumento expressivo em sua produção, cerca de 50%, de 1995 a 2005. Em contrapartida, segundo a Fundação Getúlio Vargas, o preço do leite recebido pelo produtor (de 1995 a 2004) apresenta quedas de 3,2 % ao ano. Se estivéssemos em 1995, o produtor estaria recebendo R$ 0,69 centavos por litro de leite.

Como explicar o paradoxo "queda real de preços e aumento expressivo na produção de leite"?

Analisemos as informações disponíveis no trabalho de Sebastião Teixeira Gomes, no Instituto FNP, Fundação Getúlio Vargas e CONAB, citados abaixo:

Em 1995 os produtores de até 50 litros de leite/dia representavam 19% do volume produzido; em 2005, este estrato diminuiu para 8% do volume total de leite em MG. Para os produtores de 50 a 500 litros, estes número são 70% e 48% e, para o maior estrato, acima de 500 litros de leite/dia, o volume entregue passou de 11% para 44% do total em MG, respectivamente.

Está clara uma tendência de aumento da participação dos maiores estratos no volume total de leite produzido. Outro dado relevante:

Em 1995, nossas vacas produziam em média pouco mais que 1.000 kg de leite/lactação. Em 2005, este número subiu para 1.590. O número de vacas leiteiras, em 1995, era cerca de 16 milhões de cabeças, em 2005 estamos com 15,1 milhões de cabeças. (Anualpec 2006).

A pecuária leiteira do Brasil não cresceu apenas em volume, mas certamente em produtividade. Os produtores de leite não aumentaram suas terras. Houve um acréscimo de pessoas com maior capacidade administrativa, dinâmicas, interagidas com o mercado e bem informadas.

A atividade leiteira está concentrada em regiões produtoras de milho, soja, cana-de-açúcar, suínos, aves, laranja, café, entre outros produtos altamente competitivos.

Realmente Marcelo, em 1995, o preço do leite nos dava a opção de trabalhar com uma margem de lucro muito maior, entretanto, os índices econômicos e produtivos eram ridículos, demonstrando nenhum controle sobre a atividade.

Hoje estamos com duas opções: ou trabalhamos com seriedade, informação, gerenciamento e controle de custos, ou estamos fora da atividade. Isto vale não só para o leite, mas para qualquer outra atividade com fins lucrativos.

É simples, basta verificar os dados produtivos e econômicos das atividades que competem com o leite, e observar o nível de profissionalismo de cada uma. Será que estas atividades permitem amadorismo?

As informações estão disponíveis para todos. Em Minas Gerais, Gomes relata que 25% das informações do produtor de leite vem do vizinho. E o mercado? E as exportações, a competitividade internacional ligada à qualidade do leite? As tendências das indústrias e dos consumidores? Como o produtor deve se preparar para as mudanças que o mundo pede?

Para refletir...

Leite é não é uma boa atividade, ou meu negócio que não está indo bem?
HELENO GUIMARÃES DE CARVALHO

PALMAS - TOCANTINS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 16/08/2006

Mais uma vez gostaria de parabenizá-lo pelo excelente artigo e chamar a atenção para alguns fatores que mudaram a cadeia produtiva do leite no Brasil:

A mudança do perfil do consumidor, que em função da indisponibilidade da dona de casa no lar e a busca pela praticidade optou pelo leite longa vida contra o leite pasteurizado, e este propiciou que novas e distantes bacias leiteiras fossem criadas, sendo menor a diferença dos preços pagos aos produtores das diversas regiões.

A globalização, que ao mesmo tempo que lançou o produtor abruptamente em uma economia de mercado causando a curto prazo sérios transtornos, a longo prazo tem tornado nosso produtor competitivo.

O fim do fantasma da inflação, que tornou a gestão das pequenas propriedades mais simples aos pequenos produtores, que não possuíam artifícios para dela se defender.

Aos programas de distribuição de terras do governo federal, que possibilitou aos pequenos produtores acesso a terra e, na falta de alternativas em função de várias questões estruturais, tem o leite como a forma mais viável de sustento. Observando os dados do último senso agropecuário, observamos um crescimento maior da produção de leite em estados com menor concentração fundiária.

A profissionalização do produtor se tornou obrigatória por uma questão de sobrevivência, assim, embora altamente produtivos, uma boa parte dos grandes produtores nacionais não se mostraram competitivos e estão sendo exilados da atividade.

A produção de leite no país tem se mostrado como uma das mais importantes ferramentas de distribuição de renda e de justiça social do país, e, conseqüentemente, merece cada vez mais atenção por parte de todas as entidades governamentais deste país, como uma das mais importantes cadeias produtivas.

Se observamos o interior deste país, a cadeia produtiva do leite é na maioria dos pequenos municípios, a maior empregadora. Ao contrário do que se imagina, o leite gera riqueza e o produtor de leite não é pobre porque produz leite, mas produz leite porque é pobre.
FLÁVIO HENRIQUE SILVA

GOIÂNIA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 16/08/2006

Parabéns pelo artigo. Sou de uma região de Goiás onde o leite cresce acima da média do estado (Itaberaí). Aqui temos clima e topografia para competir com outras atividades, mas o leite está se sobressaindo. Hoje, o grande desafio que encontramos é a falta de percepção da maioria dos produtores, que aumentam demais a sua produção sem um planejamento prévio, causando um total desequilíbrio na saúde econômica da propriedade rural.
FRANCISCO ARAUJO SALLES DE SOUZA

CAMPINAS - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 16/08/2006

Faz muito tempo que não acompanho de perto a problemática do leite no Brasil. Este artigo confirma aquilo que eu pude constatar quando escrevi a minha tese de doutorado em economia (An Economic Analysis of the Greater São Paulo Fluid Milk Market: Vanderbilti University, May 1977) e no livro "O Estado e o Cartel do Leite no Brasil", da Editora Horizonte de Brasilia, 1981. Eu também tive a oportunidade de formular a política de leite do governo federal, pois tive o privilégio de assessorar o Ministro Allysson Paulinelli, que sem sombra de dúvida foi o melhor ministro da agricultura deste país.

A economia leiteira do Brasil foi moldada para atender aos interesses do segmento manufatureiro, que sempre foi dominado pelas multinacionais (Nestlé, Danone, Parmalat, etc.). O segmento fluido sempre foi relegado a um segundo plano, contrariamente ao que acontece nos países que adotaram políticas para promover o desenvolvimento das granjas leiteiras altamente tecnificadas, ou seja, com condições de produzir um leite de alta qualidade durante o ano todo.

Mais especificamente, nestas economias (EUA, UE, etc.), as cooperativas de produtores adquiriram poder de barganha, através do controle da oferta de leite, e aumentaram a sua participação na renda gerada com a venda dos produtos lácteos, principalmente as obtidas com o leite fluido. Nestes países, os aumentos de produtividade em todos os elos da cadeia produtiva do leite foram em grande parte repassados aos consumidores, que têm sido beneficiados com uma oferta variada de produtos lácteos de alta qualidade a preços competitivos.

No Brasil, os produtores só sobrevivem porque não tem outra alternativa, ou seja, o custo de oportunidade destes produtores é muito baixo, pois praticam uma atividade de subsistência. Os tecnificados, na realidade, são os mais prejudicados com esta falta de uma política voltada para atender aos verdadeiros interesses nacionais. Tudo isto acontece devido à distorção estrutural e à instabilidade historicamente observadas na economia leiteira brasileira, que ainda não saiu da "idade negra".
WAGNER BRANCO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - TRADER

EM 16/08/2006

Prezado Marcelo,

Excelente artigo. Mostra uma visão equilibrada do setor produtor de leite no Brasil. Entretanto, acredito que, apesar da grande produção de leite, ainda falta aumentar a produtividade (eficiência) para que o Brasil fique competitivo no mercado externo e até mesmo no interno, uma vez que reduzirá os custos de produção.

Acredito que, em média, o Brasil tenha um grande volume de produção, pois temos um grande rebanho e maior espaço físico. Ao mesmo tempo, nossa produtividade é de 2.000-3.000 litros por vaca/ano, contra 7.000-8.000 por vaca/ano na Argentina ou Uruguai, não por acaso maiores exportadores.

Acredito que, realmente, esta é a razão de os preços de nosso produtos de leite em pó, leite condensado e queijos serem tão caros para exportação, independentemente do câmbio, um tanto desfavorável.

Atenciosamente,

Wagner Branco
Gerente de Exportação

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Wagner,

Obrigado pela carta e elogio.

Sem dúvida é necessário aumentar a produtividade. Porém, é preciso cautela ao se comparar produtividades animais em climas e sistemas de produção diferentes. Uma vaca de 4500 kg de leite/ano é mais eficiente economicamente do que uma de 8000 kg/ano nos EUA. De qualquer forma, esse "porém" não exclui o fato de que é preciso aumentar a produtividade, que sob qualquer comparação, é muito baixa.

Um abraço,

Marcelo
ROBERTO JANK JR.

DESCALVADO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 15/08/2006

Ótimo artigo, Marcelo. Obviamente, em terras com ampla capacidade de uso, o custo de oportunidade do negócio leite é altíssimo e este certamente é o motivo da variação da produção Argentina, em sua pampa úmida, ao longo dos últimos anos. Também em São Paulo tem sido difícil a opção pelo leite contra a cana o citros nos atuais patamares, e o reflexo aparece nos percentuais de crescimento.

Isso não é verdade em situações de topografia pior em Minas Gerais e fazendas menores localizadas na fronteira agrícola de Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Tocantins, onde o custo de oportunidade é muito mais baixo.

Mas concordo com você que a remuneração diferenciada por volume e qualidade tem tido um importante papel na manutenção de produtores mais tecnificados e, portanto, com maior (noção de) custo de oportunidade em seu negócio.

A sinalização mercadológica que oferecemos aos produtores é o prenúncio do que vamos colher lá na frente. Se mostrarmos o que e quanto queremos comprar, com certeza o setor responderá com rapidez.

É o que vi acontecer no mercado nos últimos 10 anos. A velocidade que o comprador imprimir ao mercado mostrando o que deseja comprar é a mesma que o mercado responde se isso lhe for solicitado. O melhor exemplo disso são as 90 usinas de açúcar em construção no Brasil, com a sinalização oferecida pela bioenergia.

Acredito no leite porque acredito na profissionalização do setor, assim como ocorreu com soja, carnes, laranja e café; sempre via exportação. Grande parte dos compradores estão profissionalizando sua sinalização aos produtores, e ela vai de encontro ao mundo mais tecnificado, longe do que ocorre na Índia e China.

Mas a lição de casa tem que ser feita nos aspectos de acesso a mercados lá fora, e produção e comercialização informal aqui dentro.

Minha opinião é que a decisão continua sendo difícil, mas estamos no caminho.

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