Acreditamos que o levantamento tenha sido muito válido e que a sua continuidade ajudará a contar uma história que foi iniciada no ano passado, em sua primeira edição. Os dados levantados, porém, geram mais questionamentos do que constatações, o que certamente estimulará o debate. No intuito de organizar as idéias, apresento abaixo o resumo do levantamento.
Pois bem, esses são os principais achados do levantamento. É bem provável que o leitor esteja ruminando estas informações e se fazendo algumas perguntas. Pelo menos, foi o que fiz ao finalizar o levantamento, destacando a seguir algumas de minhas dúvidas e hipóteses.
O consenso é que os grandes produtores estão entre os que mais sofrem as ditas mazelas do segmento leiteiro: concentração na captação e no varejo, informalidade, não valorização da qualidade, fraudes, etc. De fato, diversos grandes produtores sairam da atividade nos últimos anos e muitos ainda devem sair. Basta checar as listagens de leilões dos últimos anos, ou dar uma espiada na lista dos maiores produtores de leite de 5 ou 10 anos atrás para constatar.
No entanto, a julgar pelas informações coletadas no Top 100 - 2002, esse ano foi bem menos crítico para este grupo de produtores. Apesar de vários mostrarem desânimo, especialmente em São Paulo, a maioria vê o futuro da atividade de forma positiva, sendo prova disso o interesse em expandir. Pode-se argumentar que o aperto das margens força a necessidade de aumentar a escala para obter resultados econômicos melhores. É possível, mas acredito ser consenso que ninguém busca expandir uma atividade sem perspectivas. Se não há perspectivas, o caminho é parar ou alterar de forma radical o negócio.
Há, claro, nuances regionais importantes. Não há dúvida que o alerta acendeu em São Paulo, visto que 25% dos produtores do Top 100 mostraram intenção de parar ou reduzir em 2003. Apenas 32% dos paulistas falaram em aumentar a produção, valor 43% abaixo da média geral. Em outros Estados, porém, a situação é diferente. Veja no gráfico abaixo a % dos produtores em cada Estado que pretendem aumentar a produção em 2003:
Outra dúvida que surge, comparando 2001 com 2002, é o fato de 16 produtores terem reduzido a produção, o que é algo pouco comum. Normalmente, se procura o aumento de escala, pois haverá diluição dos custos fixos, mesmo quando as condições não são as mais favoráveis. Porque a redução ? Será uma alteração no sistema de produção, buscando custos mais baixos ? Terão sido problemas de manejo ou técnicos ? Normalmente, reduzir a produção resulta em piora nos resultados, salvo, talvez, se a redução for acompanhada de mudanças radicais na forma de produzir (ex: mudança de confinamento para pasto) ou no objetivo do negócio (ex: investir em genética ou venda de animais).
Outro questionamento que surge é o fato do pastejo ter um número baixo de indicações. Há que se considerar, no entanto, que o foco do levantamento não foi abordar especificamente essa questão. Muitas respostas foram vagas, ou permitiram múltipla interpretação. De qualquer forma, mesmo havendo alguma imprecisão, creio que esta não invalida o resultado final: poucas, entre as 100 maiores, utilizam pastejo como principal volumoso no verão, especialmente na forma rotacionada intensiva, a despeito da divulgação maciça sobre a técnica. Por que isso ? Serão as dificuldades operacionais de se intensificar as pastagens ? Será a não comprovação de vantagens econômicas a ponto de justificar a adoção em grande escala da tecnologia ? Será a dificuldade de se implantar o pastejo intensivo em rebanhos de maior porte, objeto desse levantamento ? Ou será que, simplesmente, os grandes produtores, a maioria com rebanhos confinados, utilizando a raça holandesa (uns bons deles com laticínio próprio, verticalizando a produção, é bom que se diga), apresentam resultados satisfatórios ?
Estas são algumas das questões que surgiram analisando-se os dados. Confesso que, a menos para mim, os dados geraram informações até certo ponto surpreendentes, diferentes do que imaginava obter.
Espero que, analisando as informações do relatório, nossos leitores possam fazer suas análises e contribuir para esclarecer ainda mais estas e outras dúvidas. Bom trabalho !