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Os 100 maiores do leite em 2002: mais perguntas do que respostas

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 14/03/2003

5 MIN DE LEITURA

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Com um pouco de atraso, finalizamos o Top 100 - 2002, o levantamento dos 100 maiores produtores de leite no Brasil no ano passado, que contou com o apoio da Nutron Alimentos. O relatório integral pode ser visualizado clicando-se no link Top 100 - 2002.

Acreditamos que o levantamento tenha sido muito válido e que a sua continuidade ajudará a contar uma história que foi iniciada no ano passado, em sua primeira edição. Os dados levantados, porém, geram mais questionamentos do que constatações, o que certamente estimulará o debate. No intuito de organizar as idéias, apresento abaixo o resumo do levantamento.

  • Os 100 maiores produtores em 2002 produziram, em média, 23,5% a mais do que os 100 maiores em 2001. Enquanto a média dos 100 maiores em 2001 foi de 6.544 litros, nesse ano a média pulou para 8.802 litros diários comercializados. A "nota de corte" para figurar na lista também subiu: de 3.390 litros para 4.155 litros/dia. O grupo dos 10 maiores produtores também verificou crescimento: de 16.822 litros/dia para 22.851 litros, um aumento expressivo de 35,84%. São mudanças significativas.

  • Pode-se argumentar - com razão - que a listagem de 2002 foi mais completa do que a de 2001, que teve mais ausências, isto é, produtores com média mais alta e que, por diversos motivos, não figuraram na listagem. Porém, considerando apenas os produtores que participaram das duas edições (71 produtores), a produção também aumentou: em 2002, produziram 12% a mais do que em 2001.

  • 56% dos produtores do Top 100 - 2002 pretendem aumentar a produção em 2003, contra 24% que pretendem manter, 7% que pretendem parar e 5% que pretendem reduzir a produção. Outros 5% não sabem ainda e 3% não informaram. No entanto, há variações regionais importantes. Dos paulistas, por exemplo, 25% afirmaram que têm o interesse de reduzir ou parar em 2002, o que reflete o desânimo da atividade no Estado. Em MG, esse número foi de 8,3% e no Paraná, apenas 5,5%.

  • O confinamento total é o principal sistema de produção, com 44% das indicações, contra 35% para o semi-confinamento e 21% para pastagens. Exatos 20% utilizam free stall para confinar os animais e apenas 8% assinalaram pastejo intensivo rotacionado.

  • A raça holandesa, com 57% das indicações, é a principal raça utilizada, seguida da Girolando, com 24% (16% não informaram a raça, pois a pergunta foi incluída quando o contato com várias fazendas já tinha sido finalizado). As demais raças tiveram muito poucas indicações.

  • Não há grandes alterações na distribuição regional ou estadual. O Sudeste tem 67% das maiores fazendas e o Sul 24%. A maior surpresa é o Nordeste, com 6% das indicações, o dobro da região Centro-Oeste. A região Norte, assim como em 2001, não teve fazendas listadas entre as 100 maiores. Minas Gerais continua líder no número de fazendas, com 36% em comparação a 39% em 2001. São Paulo e Paraná ocupam o segundo e terceiro lugares (28 e 18 fazendas, respectivamente), seguidos do Rio Grande do Sul, com 5 fazendas. Alagoas puxa o Nordeste, com 4 fazendas.

    Pois bem, esses são os principais achados do levantamento. É bem provável que o leitor esteja ruminando estas informações e se fazendo algumas perguntas. Pelo menos, foi o que fiz ao finalizar o levantamento, destacando a seguir algumas de minhas dúvidas e hipóteses.

    O consenso é que os grandes produtores estão entre os que mais sofrem as ditas mazelas do segmento leiteiro: concentração na captação e no varejo, informalidade, não valorização da qualidade, fraudes, etc. De fato, diversos grandes produtores sairam da atividade nos últimos anos e muitos ainda devem sair. Basta checar as listagens de leilões dos últimos anos, ou dar uma espiada na lista dos maiores produtores de leite de 5 ou 10 anos atrás para constatar.

    No entanto, a julgar pelas informações coletadas no Top 100 - 2002, esse ano foi bem menos crítico para este grupo de produtores. Apesar de vários mostrarem desânimo, especialmente em São Paulo, a maioria vê o futuro da atividade de forma positiva, sendo prova disso o interesse em expandir. Pode-se argumentar que o aperto das margens força a necessidade de aumentar a escala para obter resultados econômicos melhores. É possível, mas acredito ser consenso que ninguém busca expandir uma atividade sem perspectivas. Se não há perspectivas, o caminho é parar ou alterar de forma radical o negócio.

    Há, claro, nuances regionais importantes. Não há dúvida que o alerta acendeu em São Paulo, visto que 25% dos produtores do Top 100 mostraram intenção de parar ou reduzir em 2003. Apenas 32% dos paulistas falaram em aumentar a produção, valor 43% abaixo da média geral. Em outros Estados, porém, a situação é diferente. Veja no gráfico abaixo a % dos produtores em cada Estado que pretendem aumentar a produção em 2003:



    Outra dúvida que surge, comparando 2001 com 2002, é o fato de 16 produtores terem reduzido a produção, o que é algo pouco comum. Normalmente, se procura o aumento de escala, pois haverá diluição dos custos fixos, mesmo quando as condições não são as mais favoráveis. Porque a redução ? Será uma alteração no sistema de produção, buscando custos mais baixos ? Terão sido problemas de manejo ou técnicos ? Normalmente, reduzir a produção resulta em piora nos resultados, salvo, talvez, se a redução for acompanhada de mudanças radicais na forma de produzir (ex: mudança de confinamento para pasto) ou no objetivo do negócio (ex: investir em genética ou venda de animais).

    Outro questionamento que surge é o fato do pastejo ter um número baixo de indicações. Há que se considerar, no entanto, que o foco do levantamento não foi abordar especificamente essa questão. Muitas respostas foram vagas, ou permitiram múltipla interpretação. De qualquer forma, mesmo havendo alguma imprecisão, creio que esta não invalida o resultado final: poucas, entre as 100 maiores, utilizam pastejo como principal volumoso no verão, especialmente na forma rotacionada intensiva, a despeito da divulgação maciça sobre a técnica. Por que isso ? Serão as dificuldades operacionais de se intensificar as pastagens ? Será a não comprovação de vantagens econômicas a ponto de justificar a adoção em grande escala da tecnologia ? Será a dificuldade de se implantar o pastejo intensivo em rebanhos de maior porte, objeto desse levantamento ? Ou será que, simplesmente, os grandes produtores, a maioria com rebanhos confinados, utilizando a raça holandesa (uns bons deles com laticínio próprio, verticalizando a produção, é bom que se diga), apresentam resultados satisfatórios ?

    Estas são algumas das questões que surgiram analisando-se os dados. Confesso que, a menos para mim, os dados geraram informações até certo ponto surpreendentes, diferentes do que imaginava obter.

    Espero que, analisando as informações do relatório, nossos leitores possam fazer suas análises e contribuir para esclarecer ainda mais estas e outras dúvidas. Bom trabalho !
  • MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

    Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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    MARCELO SANTIAGO

    OUTRO - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

    EM 17/03/2003

    Gostei muito do artigo.

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