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O relacionamento entre produtor e indústria está mesmo melhorando?

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 31/05/2005

6 MIN DE LEITURA

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O MilkPoint realizou recente pesquisa com o intuito de conhecer as opiniões dos leitores a respeito de como anda a relação entre produtor e indústria. A maior parte - 59% - entende que a relação vem melhorando, ao passo que 41% acreditam que não tem havido melhora.

É possível apontar iniciativas que indicam uma tentativa de melhoria dessa relação, por parte dos grandes laticínios. A criação dos clubes de compra, recentemente divulgada, é um bom exemplo. Através desses clubes, as empresas de laticínios criam um canal mais intenso de interação com seus fornecedores, trazendo à mesa de negociação outros aspectos que não apenas o preço. Assim, ao optar por vender o leite a determinado laticínio, o produtor em tese irá considerar os aspectos tradicionais, como o preço e a idoneidade da empresa, como também a oferta de serviços que lhe são importantes. A maior transparência por parte de alguns laticínios em relação à divulgação dos preços também é um sinal nessa direção, bem como programas de treinamento estimulados pelos laticínios (como o Educampo), entidades do tipo do Conseleite e da própria Câmara Setorial, que reúnem agentes com interesses em parte divergentes para discutir soluções para o setor.

Essas iniciativas visando à melhoria da relação entre os elos, em parte encabeçadas pelos laticínios, têm raiz na necessidade de gerenciar melhor as redes de suprimento. Durante boa parte do século XX, quase todos os esforços de gestão foram direcionados para as empresas, os chamados "nós", sendo muito pouca coisa feita no sentido de melhorar a gestão das ligações ou "entrenós", ou seja, a eficiência do relacionamento entre os diversos elos que compõem uma determinada cadeia.

Com isso, à medida que as melhorias internas nas empresas iam sendo mais e mais enfocadas, as chances de evolução nesses quesitos iam diminuindo ou, pelo menos, tendo um retorno cada vez menor para o capital investido, devido à lei dos retornos decrescentes. Por outro lado, as possibilidades de evolução nas ligações se tornavam mais evidentes, uma vez que era um campo praticamente inexplorado.

Dessa forma, a partir de meados da década de 80, as empresas passaram a considerar cada vez mais que a gestão da rede de suprimentos poderia ser melhorada e, com isso, representar uma fonte de vantagem competitiva. As montadoras de veículo, na década de 70, já haviam mostrado aos norte-americanos que novos conceitos na gestão da rede de fornecedores poderiam impactar os resultados de modo muito significativo (leia aqui artigo anterior sobre o tema). Hoje, é consenso que está na gestão da rede de fornecedores e parceiros parte significativa de empresas de grande sucesso, como McDonald's, Embraer, Nintendo e outras.

A melhoria das redes de suprimento, porém, apresenta alguns entraves que precisam ser discutidos. Nas redes, normalmente há elos mais fortes e elos mais fracos. Na relação tradicional, o jogo de forças é explorado o máximo possível e cria-se a chamada relação "ganha/perde", ou seja, há um elo que costuma ganhar (evidentemente o elo mais forte) e um elo que costuma "perder" (entre aspas porque não se trata necessariamente de perder, mas sim de ficar proporcionalmente com a parte menor do valor gerado na cadeia).

Outro conceito importante é que, em geral, as iniciativas de mudança na gestão de redes de suprimentos, transformando uma relação "ganha/perde" em uma relação "ganha/ganha", têm origem nos elos mais fortes. É muito mais lógico, por exemplo, a GM mudar o relacionamento e a gestão de sua rede de concessionárias, incluindo acesso a informações de estoque e vendas, do que o inverso. Tem-se aí um paradoxo: como os elos mais fortes normalmente ficam com uma parte maior do valor gerado na cadeia, isto é, em tese já ganham, sua predisposição em alterar isso é naturalmente baixa.

O que faz mudar esse posicionamento? Via de regra, o que faz mudar esse posicionamento é uma externalidade, ou um fator externo à rede, que coloca em risco a competitividade do elo mais forte e da própria rede. Um exemplo disso é o surgimento de um concorrente mais eficiente, com um outro processo de gestão de redes de suprimento, como foi o caso das montadoras japonesas entrando nos Estados Unidos. As concorrentes norte-americanas acabaram mudando a gestão de seus fornecedores de forma a se equivaler às japonesas, que se mostraram bem mais eficientes. Pressões da sociedade, como por exemplo a ênfase crescente em responsabilidade social corporativa, também podem alterar a gestão de uma rede de suprimentos. O próprio reconhecimento que pode haver uma forma mais lucrativa de gerenciar a cadeia de suprimentos pode, em tese, desencadear mudanças profundas na gestão da rede de fornecedores de uma empresa. Por fim, a disseminação da informação, reduzindo a assimetria tradicional, é outro aspecto que contribui para a busca de maior transparência e novas formas de gerir o negócio.

No leite, é possível que estejamos iniciando um processo dessa natureza. A granelização, em si, já representou um passo importante nessa direção, ao reconhecer a existência de importantes ganhos de eficiência e qualidade embutidos na gestão dos fornecedores, em especial na concepção do processo de captação de leite. O estreitamento do relacionamento, ainda que de forma incipiente, pode sugerir algo mais nesse sentido, respondendo talvez ao reconhecimento de que maior transparência e visão de longo prazo são importantes para a preservação e para o crescimento do "pool" de fornecedores que têm produção com constância e qualidade. Outros aspectos que podem influenciar esse comportamento são diretrizes globais de algumas empresas, bem como uma possível estratégia para fazer frente a um papel que historicamente sempre coube às cooperativas.

Sem dúvida, é cedo para dizer se isso é uma tendência real; tampouco, se será padrão no setor ou se ficará restrito a umas poucas empresas. Na enquete, é justo informar que a maior parte dos que acreditam que a relação melhorou, trabalha em laticínios ou universidades; poucos foram os produtores que optaram por essa resposta, ao contrário de sua negativa, com predominância de produtores. Isso mostra que, ao menos na enquete, o elo produtor continua achando que está perdendo, ou ganhando menos do que merece.

Outro ponto em questão é que o produtor vem passando por um bom momento desde meados do ano passado, com custos dos insumos sob controle, exportações em alta, importações em baixa e mercado interno aquecido, resultando em preços mais elevados para a matéria-prima e poucas oscilações. Nesse cenário, o relacionamento tende a ser mais fácil. Agora, entramos em um cenário mais incerto, com dólar excessivamente desvalorizado, reduzindo exportações e estimulando as importações. O mercado interno também deu mostras de desaceleração e os preços do leite spot andaram caindo. Nesse novo cenário, surgem especulações e percebe-se que o relacionamento ainda é marcado por algum grau de desconfiança e que a assimetria de informação ainda está presente. Nesses momentos de incerteza ou transição, a impressão que dá é que a relação volta a se balizar pelo curto prazo e não mais pela visão de longo prazo.

No final das contas, analisando o exposto até aqui, considero que há indícios de melhoria da gestão da rede de suprimentos, que poderão contribuir para a evolução do relacionamento entre os elos da cadeia de laticínios. Tais indícios, no entanto, são recentes e, como tal, podem não ter total prioridade se o mercado se voltar para o curto prazo. Sendo otimista, no entanto, acredito que o setor está caminhando, mesmo que devagar e com possíveis sobressaltos, para o melhor relacionamento entre os elos, como fruto do reconhecimento que um novo modelo é necessário para que se crie condições de longo prazo para o crescimento e para a geração de valor na cadeia.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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SAVIO SANTIAGO

OUTRO - RIO DE JANEIRO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 09/06/2005

De fato a relação entre produtor e indústria tem melhorado. Acho que isso se deve a forte concorrência que teve início com o processo de granelização que aumentou o campo de atuação das empresas.



Acredito que a concepção do negócio entre produtor e indústria mudou radicalmente a partir dos anos 90. O produtor de certa forma percebeu a importância de melhorar seu negócio, a qualidade do seu produto e passou a dar importância para uma relação duradoura com o laticínio comprador.



O laticínio percebeu que deve também privar por um volume pouco oscilante e por isso começou a preservar mais a relação com seus fornecedores. Na realidade a análise deve ser mais ampla, sabemos que a cadeia produtiva (produtor/indústria) está evoluindo nas relações comerciais entre si, porém vem sendo massacrados pela ação predatória do varejo apoiado pela concentração de vendas do longa-vida no atacado.



O negócio "leite" depende urgentemente de um plano de produção anual com planejamento de safra e um plano mais efetivo de financiamento de estoque, além de uma normatização no que tange a negociação com o mercado varejista que hoje é altamente especulador.



Sou um agente negociador de uma indústria com seus fornecedores e por isso costumo ter acesso a informações de mercado com grande agilidade, a medida que as alterações acontecem. Estamos passando por mais um momento de dificuldade de mercado com grandes oscilações no leite longa-vida e sub-produtos. Essa realidade não foi exposta ainda pelos meios de informação dos produtores, sugerimos ao site MilkPoint que informe aos produtores esse panorama o quanto antes. Tudo indica que as cotações do leite sofrerão quedas significativas a partir de junho.



Obrigado,



Sávio Santiago

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