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O medieval e o moderno

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 05/10/2001

3 MIN DE LEITURA

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Alguns setores da economia apresentam grande integração entre seus elos, criando uma verdadeira relação de simbiose entre fornecedores e compradores de produtos.

Segundo matéria da revista Exame Negócios (set/2001), a Motorola, empresa da área de telefonia, tem um sistema via internet que comunica as 50 fábricas da empresa no mundo, integradas aos fornecedores. As fábricas brasileiras, por exemplo, são atendidas por cerca de 500 fornecedores nacionais e internacionais, que mantêm em estoque da fábrica em Jaguariúna (SP), cerca de 3000 itens utilizados na fabricação de seus produtos. Os fornecedores sabem a quantidade de cada item que deve ser estocado ao longo de um período de 52 semanas. Os números são atualizados semanalmente, que permite acompanhar as oscilações do mercado com precisão. A palavra de ordem é colocar as máquinas da empresa falando com as dos fornecedores. Para Marcos Isaac, vice-presidente da Ernst & Young Consulting, "antes, as empresas cuidavam das quatro paredes e pronto; agora, toda a cadeia produtiva está se integrando". Ainda segundo a revista, alimentados por informações que vem do mercado, esses softwares ajudam a planejar a produção e controlar o fluxo de materiais, cortando custos.

Outros exemplos de profunda integração podem ser citados. A fábrica Arara Azul, da GM, reúne vários fornecedores, que produzem e montam várias partes dos carros. Estas empresas possuem unidades dentro da fábrica da GM. Empresas têm terceirizado setores inteiros, da contabilidade ao departamento de recursos humanos. Na tentativa de melhorar a eficiência e facilitar o planejamento de todos os envolvidos na produção, a integração entre empresas de etapas distintas da cadeia produtiva ocorre com freqüência cada vez maior. Isto é modernidade.

Estes exemplos distoam por completo das relações de mercado na pecuária de leite. Claro que são realidades distintas; produzir leite não é como apertar parafusos. Portanto, sem querer sugerir que o modelo da Motorola ou algo próximo seria adaptável ao setor, também não precisamos ficar no outro extremo. Quem produz leite não recebe nenhuma sinalização que possa orientar sua produção. Não há comercialização em mercados futuros (não se tem um ambiente onde se pode especular a respeito do preço futuro do produto), não há um fluxo de informações concretas a respeito das necessidades da indústria em relação ao abastecimento. Quem investe na produção é estimulado pelas empresas (revistas técnicas, pessoal de campo, substanciais bonificações por volume), mas de repente o tiro pode sair pela culatra: o produtor percebe que a maior produção não era tão bem-vinda quanto parecia. A frustação e o prejuízo são maximizados. Isto é o "medieval" do título do artigo.

Esta integração medieval é a raiz não só da falta de informações transparentes, que permitiria à cadeia se ajustar melhor às oscilações de mercado, mas também das desconfianças que pairam a respeito da cartelização. Notem que, no modelo exemplificado acima, os fornecedores têm acesso a informações estratégicas (como o fluxo de vendas) de seu cliente. Em um ambiente destes, não se imagina muito espaço para relações predatórias ou parasitismo. Coisa longe de ocorrer no nosso segmento.

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Trazemos também, nesta semana, artigo do produtor mineiro Armando Eduardo de Lima Menge (A necessidade de um projeto de longo prazo), que alerta com propriedade para o fato de que soluções efêmeras para a atual crise não resolverão os problemas de longo prazo. No atual "modelo", se o preço voltar a se tornar atrativo, novamente mais à frente teremos os mesmos problemas. O balanço de forças na cadeia também não será alterado, com supermercados e indústrias (mais os primeiros) deitando e rolando. Tampouco o padrão de consumo mudará. Pergunta-se, afinal, o que se quer para a produção de leite no país ? Ele dá o exemplo do sistema canadense, no qual uma agência governamental rege o sistema mediante a partiticipação de todos os elos no processo, fazendo com que produtores eficientes tenham retorno compatível com a atividade e o consumidor pague um preço justo pelo produto. Não por acaso, o produtor canadense recebe preço mais alto do que o americano, e o consumidor paga menos. O sistema canadense apresenta como uma de suas características principais o monitoramento da produção através da alocação de cotas, revisadas periodicamente em função do mercado. Isto é modernidade.

Pensando bem, o exemplo da Motorola não está tão longe assim do setor leiteiro.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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MARCUS DOS SANTOS KEMP

OUTRO - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 19/10/2001

Quando a gente tenta conversar a respeito de planejamento da produção e comercialização a curto, médio ou longo prazo com representantes da indústria de laticínios, nossos clientes, a impressão que nos assalta é que eles não sabem, não gostam ou não querem traçar nenhum tipo de estratégia futura que possa harmonizar a relação comercial.

O argumento que o mercado é imprevisível e que a economia se encontra turbulenta é sempre usado com naturalidade e desprendimento, principalmente se o mercado encontra-se pressionado por aumento de oferta. Já argumentei várias vezes que existem três perfis de produtores de leite no Brasil que no minímo deveriam ser identificados e tratados de forma diferenciada, quais sejam:

a) Produtor Extrativista : toca sua atividade em sintonia absoluta com as condições edafo-climáticas regionais. Sem planejamento algum, desorganizado, mas até certo ponto coerente com os custos de produção, visto que produz barato e vende também barato. São os propalados "safristas" muito combatidos pelos ditos profissionalizados, mas são coerentes em minha opinião porque usam o recurso produtivo mais barato que existe na pecuária brasileira que é o potencial de produção das forrageiras tropicais naturalmente.

b) Produtor Acomodado: toca sua fazenda da mesma forma por muitos anos, ignorando os potenciais de produção, sejam de pastos ou de animais. Avesso às novas tecnologias, têm organização miníma, considera a expansão da produção trabalhosa e pouco rentável. Produz determinada quantidade de leite para pagar alguns custos de sua fazenda e nada mais. São muitas vezes considerados produtores "tradicionais" que não abandonam nem incrementam a atividade. Atente para o fato que estão sempre envolvidos com uma série de problemas da produção, cujos problemas estão solucionados pela ciência e teconologia, mas não conseguem conceber que estas existem. Aqui vão alguns exemplos: brucelose nas melhores vacas, carrapaticidas que não funcionam, novilhas que "prometiam" mas não "cumpriram", vacas que colocam a "madre" para fora só nesta cria (prolapso uterino) e outros.

c) Produtor Esforçado: explora sua fazenda de forma organizada e moderna com a atenção voltada para a expansão da produção (15 % aa) e o mercado. Tem organização, controle, planejamento e traça estratégia miníma de vendas para seus produtos (leite e gado). Avalia com cuidado a introdução de tecnologias em sua fazenda cuidando para que estas não venham onerar seus custos sem o devido incremento na renda. Estes crescem arriscando, de acordo com a sua capacidade financeira, hora ganhando e hora perdendo dinheiro, mas sempre sintonizados com as receitas e os custos. Na minha região são os chamados "teimosos" que sempre estão "correndo atrás" de soluções para os problemas com que se deparam na produção, sem desânimo.

Pois é, após todo este argumento utilizado, o máximo que tenho conseguido ouvir é que "de certa forma" eu tenho razão, mas que seria impossível ranquear os produtores baseados em características subjetivas apesar de sermos todos muito bem conhecidos em nossas comunidades rurais. Em outras palavras o que eles não querem fazer de jeito nenhum é "separar o joio do trigo" o que com toda clareza viria a forçar uma mudança de postura por parte de nossos clientes em relação a nós fornecedores.

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