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O incrível ocaso da produção da Argentina: e o futuro?

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 18/07/2003

3 MIN DE LEITURA

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A exemplo do que ocorreu com toda a economia argentina, a dramática redução da produção de leite nos últimos anos é surpreendente. Quem já visitou o país vizinho viu solos férteis, topografia plana, infra-estrutura disponível, volumosos de alta qualidade, demandando pouco concentrado para obter niveis elevados de leite por vaca, baixo investimento em ativos fixos, custos reduzidos e gado especializado. O nível tecnológico era considerável, com mais de 80% das fazendas com ordenha mecânica e um número reduzido de produtores (cerca de 15.000), com escala de produção muito acima da brasileira. O país tinha e tem vocação para a produção de leite, com uma industria láctea estabelecida e que tinha alguma experiência para atuação no mercado internacional.

Em 1994, a produção Argentina era de 7,8 bilhões de litros anuais, cerca de 50% da brasileira. Em 2002, caiu para 40%. O que se viu, a partir do ano 2000, foi uma queda sem precedentes. Após atingir 10,3 bilhões de litros de leite, a produção só se faz cair, e em níveis substanciais. Nesse ano, a queda em relação ao ano passado está em 15,8%, gerando estimativas de produção total de menos de 8 bilhões de litros (veja tabela abaixo e gráfico ao final do texto). De 1997 a 2002, a produção caiu 10%.


Retração da economia, perda de poder aquisitivo da população, falta de competitividade em função da paridade do peso com o dólar, problemas climáticos e, mais recentemente, a dura competição do leite com a rentável produção agrícola, com destaque para a soja, explicam, cada um com sua contribuição, a situação a que se chegou a produção argentina. Hoje, há empresas argentinas buscando leite no Uruguai, tal a escassez do produto.

Os projetos de exportação também foram afetados. A desvalorização do real, feita anos antes da do peso, aliada às medidas anti-dumping, colocando um preço mínimo nas exportações de leite em pó, tornaram o Brasil gradativamente desinteressante como mercado-alvo das exportações do país. A perda repentina deste mercado (a estagnação do consumo per capita no Brasil, limitando o crescimento do mercado, também contribuiu para isso) complicou ainda mais a situação da produção de leite do país vizinho.

Para se ter uma idéia do impacto disso, o Brasil, destino de cerca de 74% das exportações argentinas em 1994, em 2002 representou apenas 41%. Em valores, as vendas para outros países subiram de US$ 34,4 milhões, em 1994, para US$ 75 milhões em 2002. Para 2003, a situação até maio é ainda mais emblemática: o Brasil importou apenas US$ 18 milhões do país vizinho, frente ao total de US$ 100 milhões exportados.

A situação é clara: a Argentina não tem leite, o Brasil está menos deficitário, tanto é que as nossas importações vêm caindo em 2003.

Mas o que esperar para frente?

Embora a competição com a soja seja uma realidade na Argentina, segundo informações obtidas de produtores locais, a escassez pronunciada finalmente resultou em uma situação de preço/custo de produção favorável. Com custo de US$ 0,11-0,13/litro e preço na faixa de US$ 0,15-0,18/litro, o leite voltou a ser um bom negócio no país. A recuperação, porém, deve ser lenta, pois houve abate intenso de matrizes e muitas fazendas saíram da atividade. A média por vaca caiu. Mas a recuperação deverá vir, caso a situação assim se mantenha por um bom tempo. E há quem diga que a situação de mercado da soja não durará tanto assim.

No início do ano que vem, serão discutidos novamente os acordos anti-dumping, que tiveram grande impacto no rumo das exportações argentinas. Evidentemente, a Argentina hoje depende menos do Brasil, expandiu sua atuação internacional e, em contrapartida, nossa produção cresceu desde então. Por outro lado, hoje peso e real estão em patamares semelhantes e com certeza laticínios e produtores argentinos não devem ter esquecido o período em que o país era mercado certo para seus produtos. E deve também haver expectativa com o nosso "Hambre Zero", elevando o consumo de lácteos em taxas acima do crescimento da produção.

A Argentina, desde meados de 2001, está fora dos noticiários lácteos do Brasil, dada a perda de importância e de influência em nosso mercado. Porém, em maior ou menor tempo, podemos esperar que as negociações com nossos vizinhos voltem a ser um tema (e quente) de discussão no setor.

Fonte: Sagpya, Argentina

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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PAULO CÉSAR

CURITIBA - PARANÁ - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 29/07/2003

Marcelo,

O que ocorreu na Argentina é nada mais nada menos do que está ocorrendo no Brasil com os Produtores tecnificados. Não se iludam, não é possível produzir leite em quantidade e com qualidade a US$0,11 ou US$0,13. A Argentina conseguia por causa da conversão que tinha do real para dólar e para peso. A partir do momento que este benefício acabou, estamos vendo o resultado. O cenário do leite é todo favorável, mas é necessário que entendam esta realidade e que o governo saia de sua inércia e entre no mercado para organizá-lo. Você sabe muito bem que em um mercado de oligopólio se faz necessário existir regras básicas caso contrário os fortes, numa demonstração clara de incompetência, acabam com os produtores que são suas galinhas dos ovos de ouro.

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